Americanas: qual a situação da empresa que Rial encontrou como CEO

Executivo que havia sido anunciado em agosto de 2022 para comandar a varejista era visto como líder capaz de liderar a transformação da operação com ganho de eficiência

Americanas: expectativa de transformação na operação com a chegada de Sergio Rial como CEO neste início de ano
11 de Janeiro, 2023 | 08:04 PM
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Bloomberg Línea — O anúncio da contratação de Sergio Rial como futuro CEO levou a ação da Americanas (AMER3) a disparar 22,5% no primeiro pregão subsequente no último dia 22 de agosto.

Tudo isso agora é passado com a sua decisão surpreendente de renunciar ao cargo.

Nos dias seguintes ao anúncio de Rial, analistas que cobrem a empresa justificaram a euforia de investidores com a avaliação de que o ex-CEO do Santander seria o executivo capaz de promover a transformação necessária para uma operação que ainda carecia de ganho de eficiência decorrente principalmente da integração do físico com o digital.

Ainda assim, a Americanas não era a preferida de analistas no setor de varejo - nem naquele momento nem nos meses subsequentes. Eles apontavam fatores como a existência de ações de outras empresas com valuations semelhantes e risco/retorno menores.

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A empresa enfrentava e ainda tem pela frente um dos mercados mais concorridos da economia, com players como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Amazon (AMZN), um custo de capital mais elevado com os juros na casa de dois dígitos e a necessidade de uma estratégia de médio/longo prazo mais clara.

Analistas do JPMorgan (JPM) destacaram em relatório no fim do ano que Rial teria a capacidade de contribuir com uma mudança cultural na companhia - isso depois depois de duas décadas sob a liderança do mesmo executivo, Miguel Gutierrez.

Não havia na cobertura de analistas da ação, no entanto, qualquer menção a potenciais problemas contábeis que pudessem servir como pistas para as tais “inconsistências” da ordem de R$ 20 bilhões citadas no comunicado na noite desta quarta-feira (11).

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“Foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022”, disse a Americanas no fato relevante.

“Numa análise preliminar, a área contábil da companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022. A Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”, completou a companhia.

Analistas da XP (XP), liderados por Danniela Eiger, head de varejo e co-head de Equity Research, apontaram em relatório divulgado por ocasião do anúncio em agosto “quatro atributos de Sergio Rial, comprovados pelo seu histórico de gestão, que deverão ser chave para o novo ciclo da companhia:

  • Gestão focada no controle de custos e retorno, que deve levar a uma companhia mais sustentável, rentável e com geração de caixa;
  • Liderança inspiradora e motivacional, sendo uma referência em transformação cultural;
  • Capacidade de destravar valor em ativos estratégicos, com a Ame Digital sendo a oportunidade mais clara; e
  • Sólido histórico de execução, facilitando o benefício da dúvida por parte dos investidores, em termos de entrega de resultados futuros.”

A própria Americanas destacou os pontos de contribuição que esperava de Rial na ocasião:

“O Sr. Sergio Rial traz vasta experiência em diversos setores [...] e liderou a operação do Santander Brasil, que se tornou a operação mais rentável do grupo Santander e com o melhor índice de eficiência e de retorno sobre o patrimônio líquido do sistema financeiro nacional por vários trimestres”, destacou a Americanas no comunicado de anúncio de Rial em agosto do ano passado.

“São elementos conhecidos de sua gestão a determinação por crescimento rentável, transformação digital com foco no cliente e desenvolvimento de equipes e negócios de alta performance.”

Avaliação preliminar da saída e do rombo

A renúncia de Rial e a descoberta de falha contábil de R$ 20 bilhões pegaram o mercado de surpresa, disse Luiz Alberto Marinho, diretor da consultoria Gouvêa Malls, à Bloomberg Línea.

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“É uma situação muito delicada. O valor de mercado da companhia deve ser pressionado na Bolsa. Ainda é cedo para saber quais os desdobramentos e consequências para o setor. A Americanas tem uma forte presença nos shopping centers no Brasil inteiro, além de ter um papel relevante entre os marketplaces”, apontou Marinho.

A corretora Ativa também divulgou nota a clientes sobre a notícia. “A área contábil também informou que a empresa possui valores na mesma ordem em débitos com instituições financeiras que não estavam refletidos na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras do 3T22, dando a entender que a empresa estaria mais alavancada do que formalmente está”, destacou a Ativa.

A corretora já havia rebaixado as ações de AMER3 para “neutro”, mas com uma expectativa de que a nova gestão pudesse reestruturar as operações da empresa. “Com essa notícia, o impacto é muito negativo para as ações e para a empresa como um todo e estamos aguardando mais informações a serem divulgadas pela companhia”, acrescentou a Ativa.

Em comentário divulgado após o fato relevante, a XP também escreveu que continuará “monitorando os desdobramentos da comunicação e eventuais impactos sobre a capacidade de crédito da companhia”.

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- Matéria atualizada às 20h17 com comentários de analistas.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.