Por que gestores têm apostado em empresas de energia para lucrar com a onda de IA

Do Goldman Sachs ao Citi, investidores montam cestas de empresas que fornecem eletricidade de olho em fonte necessária para o desenvolvimento da nova tecnologia

Facebook Inc. Opens New Data Center In The Arctic Circle
Por Natalia Kniazhevich
28 de Abril, 2024 | 01:23 PM

Bloomberg — Investidores em busca de uma maneira única de explorar o avanço da Inteligência Artificial (IA) no mercado de ações estão descobrindo uma oportunidade intrigante no que tradicionalmente é o setor mais estável do universo das ações: as empresas de serviços públicos, as utilities.

A IA é a palavra do momento, com empresas de tecnologia, fabricantes de computadores e até montadoras de automóveis tentando se associar a esse conceito promissor. A IA também impulsiona o rali mais recente do mercado de ações, como ficou claro na semana passada.

Na quinta-feira (25), as ações da Meta Platforms (META) tiveram seu pior desempenho desde outubro de 2022, após a empresa anunciar que gastaria muito mais do que o esperado no desenvolvimento de IA.

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No dia seguinte, por sua vez, a Alphabet (GOOGL), holding controladora do Google, ultrapassou a marca de US$ 2 trilhões em valor de mercado, enquanto as ações da Microsoft (MSFT) também subiram após ambas as empresas mostrarem progresso em IA nos resultados trimestrais.

Mas aqui está a questão sobre a tecnologia de IA: ela exige uma enorme quantidade de energia para ser desenvolvida e executada. E é aí que entram as empresas de serviços públicos.

“A demanda de energia dos centros de dados já era enorme, depois veio o hype da IA e a necessidade de energia disparou”, disse Manju Naglapur, vice-presidente sênior e gerente geral para soluções de nuvem, aplicativos e infraestrutura na Unisys. “Com todo o dinheiro gasto em centros de dados, o consumo de energia vai aumentar massivamente.”

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O setor de serviços públicos do índice S&P 500 caiu 10% em 2023, seu pior ano desde 2008, e foi o subgrupo mais fraco no índice, que subiu 24% no geral.

Isso não foi exatamente um choque para investidores, considerando que as empresas tendem a ter um desempenho ruim durante períodos de taxas de juros persistentemente altas.

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As ações se recuperaram um pouco em 2024, subindo 4,4%, à medida que o controle de custos compensou despesas de refinanciamento mais altas e gastos recordes de capital.

No entanto a maior mudança no sentimento em relação às empresas de serviços públicos é a expectativa de aumento da demanda devido aos novos centros de dados sedentos de energia, necessários para a expansão da IA.

Driver para as ações

“A narrativa da IA está atraindo o interesse dos investidores”, disse Ryan Levine, que lidera a cobertura de empresas de serviços públicos no Citi. “Ela tem o potencial de ser o maior motor do setor.”

Em todo os EUA, empresas de serviços públicos estão se preparando para aumentos históricos na demanda por eletricidade impulsionados pelos centros de dados e pela IA.

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Mesmo fora do Data Center Alley na Virgínia do Norte, onde a Dominion Energy pausou temporariamente novas conexões de centros de dados em 2022 devido a restrições na rede, empresas estão planejando novas usinas e linhas de transmissão.

A inteligência artificial pode ser responsável por um aumento de 900% na demanda por energia de centros de dados na região de Chicago, que poderá exigir tanta eletricidade quanto quatro usinas nucleares, disse Calvin Butler, CEO da Exelon Corp., recentemente.

A Southern Co. prevê que suas vendas de eletricidade aumentarão para um ritmo anual de 6%, sendo cerca de 80% decorrentes de centros de dados.

Isso explica por que o Goldman Sachs (GS) criou duas cestas de investimento – Power Up America e Data Center Equipment – para clientes que buscam alternativas para participar do próximo boom da IA.

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Embora o banco de investimento não revele as ações que compõem as suas cestas, ele escolhe empresas com base em quatro categorias: serviços públicos regulamentados e não regulamentados, infraestrutura de redes inteligentes e materiais para geração de energia.

“Consideramos esses temas, juntamente com a cesta Broad AI do Goldman, como os mais populares nos próximos anos”, disse Faris Mourad, vice-presidente de cestas customizadas nos EUA do banco, em uma entrevista por telefone à Bloomberg News.

Até agora neste ano, a cesta Power Up subiu quase 28%, e a Data Center Equipment , mais de 18%. Esses são números impressionantes, considerando que o setor de tecnologia do S&P 500, geralmente o mais forte, subiu “apenas” 8,3% em 2024, enquanto o setor de serviços de comunicação, que inclui empresas de mídias sociais, é o grupo com melhor desempenho no índice, com uma alta de 17%.

Enquanto isso, Mourad prevê que o lucro do final do ano de 2024 da cesta Power Up America será 21% maior do que o originalmente previsto em janeiro de 2023. E ele vê mais ganhos pela frente.

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Fortalecimento das redes

A disponibilidade de energia é uma fator-chave levado em conta quando os operadores de centros de dados decidem onde construir. Normalmente, eles consultam uma empresa de serviços públicos local para discutir quanto de energia precisam, e então essa empresa de utilities busca aprovação para construir uma nova usina ou comprar eletricidade de terceiros.

Por exemplo, a Georgia Power, a maior subsidiária da empresa holding de serviços públicos Southern, ganhou recentemente a aprovação da Comissão de Serviço Público da Geórgia para expandir sua capacidade em 1,4 gigawatts para atender à demanda de centros de dados e outros negócios.

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“Estamos recomendando a compra da Southern com base nesta tese”, disse Levine, do Citigroup.

O acesso a fontes de energia renovável também é uma vantagem.

Aaron Dunn, co-chefe de ações de valor e gestor de portfólio na Morgan Stanley Investment Management, disse gostar da ação da NextEra Energy porque ela constrói geração renovável para sua própria unidade de serviços públicos e desenvolve renováveis para outros.

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“Acreditamos que as renováveis e o armazenamento são um facilitador fundamental para atender a essa demanda crescente”, disse o CEO da NextEra, John Ketchum, durante a teleconferência dos resultados do primeiro trimestre da empresa na terça-feira (23).

“A oportunidade do mercado de renováveis e armazenamento nos EUA tem o potencial de ser três vezes maior nos próximos sete anos em comparação com os últimos sete.”

Com os desenvolvedores de centros de dados à procura de locais mais baratos, Dunn espera que o Meio-Oeste se torne um centro de atividade, já que a terra é mais barata do que em outras partes do país. “Isso também beneficia uma empresa como a CMS Energy, que opera no Michigan”, disse ele.

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De fato, a CMS disse em sua teleconferência de resultados na quinta-feira que assinou um contrato para um novo centro de dados de 230 megawatts e que outras empresas estão interessadas em construir no estado.

Toda essa demanda só poderá beneficiar as empresas de serviços públicos se elas puderem produzir a eletricidade para atendê-la.

Muitos especialistas em energia estão preocupados de que a rede elétrica dos EUA não esteja preparada para lidar com a onda que está chegando. E isso tem feito com que alguns investidores procurem empresas que serão chamadas para fortalecer a rede, para que as utilities possam se adaptar ao novo ambiente de alta demanda de energia.

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“Isso vai ser um desafio real para as empresas de serviços públicos tradicionais”, disse Walter Todd, diretor de investimentos da Greenwood Capital Associates, que possui ações como Eaton e Hubbell. “Os verdadeiros beneficiários desse uso de eletricidade por centros de dados são aqueles que se beneficiarão do dinheiro gasto para atualizar a rede.”

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