Não era amor? Casais da geração Z estão morando juntos para economizar

Censo dos EUA mostra que mais de 11% dos americanos de 18 a 24 anos viviam com namorado ou namorada em 2022 - maior nível de todos os tempos

Jovens americanos estão indo morar juntos mais rápido
Por Augusta Saraiva e Paulina Cachero
25 de Março, 2023 | 05:14 PM

Bloomberg — Números recordes de jovens casais estão morando juntos. Eles estão fazendo isso por amor – e dinheiro.

Mais de 11% dos americanos de 18 a 24 anos viviam com o namorado ou a namorada no ano passado, o maior nível da série histórica, de acordo com dados do Censo dos Estados Unidos. São cerca de 3,2 milhões de pessoas, quase 650.000 a mais do que antes da pandemia.

A necessidade de economizar dinheiro serviu como um ponto de inflexão para muitos casais jovens que começaram a morar juntos mais cedo do que poderiam, com a inflação elevando o custo de quase tudo, de mantimentos a gasolina, e os preços dos aluguéis pairando perto de recordes.

Uma pesquisa recente do Realtor.com descobriu que o dinheiro foi o principal fator por trás da decisão de “juntar as escovas” para 80% dos casais da geração Z. Cerca de um em cada quatro entrevistados disse que morar com um parceiro lhes permitiu economizar mais de US$ 1.000 por mês.

PUBLICIDADE
Cerca de 11% dos americanos solteiros de 18 a 24 anos agora vivem com um parceiro

Kerry Eller, uma estudante de pós-graduação na Universidade de Duke, foi morar com o namorado depois que ele se mudou de Boston para a Carolina do Norte no verão passado do hemisfério norte, quando ambos tinham 22 anos. Juntos, eles pagam US$ 1.200 de aluguel em uma casa que dividem com três outros colegas de quarto.

“O custo do aluguel é muito alto em Durham em comparação com os salários dos estudantes de pós-graduação”, disse Eller, cujo namorado trabalha com finanças. “Financeiramente, seria péssimo estar em dois lugares diferentes, mas também sinto que não faria sentido para ele se mudar para cá e morar em um apartamento separado.”

A parcela de americanos que não são casados e moram com um parceiro aumentou nas últimas décadas, à medida que alguns tabus são desmantelados e os arranjos de relacionamento se tornam mais fluidos. Isso, juntamente com as restrições impostas pela covid-19, deixou mais pessoas ansiosas para mergulhar na próxima fase de suas vidas.

“Quando há um evento estressante, principalmente um como uma pandemia que também exige isolamento social, vemos as pessoas se movimentando mais nos relacionamentos”, disse Galena Rhoades, psicóloga da Universidade de Denver. “A pandemia, de certa forma, facilitou morarmos juntos e ser mais difícil nos separarmos.”

Dividindo o fardo

Embora a pandemia possa ter encorajado jovens casais a levar seu relacionamento para o próximo nível, o estresse financeiro provou ser o principal fator por trás da decisão de morar juntos.

“Os jovens representam uma parcela maior de coabitantes porque têm menos probabilidade de ter segurança financeira”, disse Fenaba Addo, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. “Dividir contas é financeiramente atraente.”

Viver com um parceiro ajudou alguns a economizar até US$ 5.000 por mês

Esse foi o caso de Xera Quattromani, cujo proprietário aumentou seu aluguel mensal em US$ 100, enquanto os colegas de quarto de seu parceiro o deixaram com um apartamento de US$ 3.300 que ele não podia pagar.

PUBLICIDADE

Enquanto o casal, de 30 e 27 anos, discutia sobre morar juntos em um subúrbio de Boston mais acessível, a coabitação tornou-se uma válvula de escape. Embora tenha economizado US$ 2.000 apenas com o aluguel desde que foi morar com seu parceiro em agosto, Quattromani disse que eles ainda estão “lutando para pagar as coisas, com tudo ficando mais caro”.

“Há casais morando com outros casais e pessoas morando com seis pessoas”, disse Quattromani, dona de um negócio de passeio com cães. “Nesse ritmo, ninguém pode se dar ao luxo de morar sozinho.”

Mudança antes da hora

Dividir o custo de vida faz sentido para muitos casais jovens. Mas alguns que correram para o mesmo teto estão percebendo que seu relacionamento talvez não justifique. O Realtor.com descobriu que 42% dos entrevistados que foram morar com um parceiro romântico se arrependeram da decisão.

Cerca de 42% das pessoas que foram morar com um parceiro se arrependeram

Isso inclui o artista Max Kulchinsky, de Nova York, que assinou um contrato de aluguel com sua namorada para um apartamento no Brooklyn de US$ 2.200 por mês em janeiro de 2021, após apenas um ano de namoro.

“É muito caro morar em Nova York. Embora eu tivesse um emprego decente, financeiramente não fazia sentido morar sozinho e nenhum de nós realmente queria colegas de quarto”, disse Kulchinsky, que tinha 23 anos na época. “Depois que superamos a pandemia, pensamos que poderíamos superar qualquer coisa.”

Mas viver juntos enquanto a vida vibrante da cidade de Nova York começava a sair de seu sono pandêmico expôs diferenças que quebravam o acordo.

O casal se separou em maio de 2022 – apenas alguns meses depois de renovar o contrato por mais um ano. A ex-namorada de Kulchinsky, que não podia pagar o aluguel sozinha, mudou-se, enquanto ele esticava suas finanças para cobrir o aluguel e demais gastos por conta própria.

Além de arcar com os custos totais do apartamento, o artista estima que gastou pelo menos US$ 3.000 para pagar a metade do depósito caução de sua namorada, bem como outras coisas que pagaram juntos, incluindo uma cama nova. Ele teve que se desdobrar em suas economias para cobrir os custos inesperados.

“Essa experiência definitivamente me ensinou a não pular para morar com alguém”, disse Kulchinsky. “Eu realmente não me vejo morando com um parceiro, a menos que eu sinta que essa é a pessoa com quem vou passar minha vida.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Salário da geração Z cresce até 2 vezes mais rápido e impulsiona consumo nos EUA

Incerteza, rapidez, estabilidade: por que a geração Z troca tanto de emprego?

10 influenciadores de finanças pessoais para ficar de olho e poupar dinheiro