Lemann: ‘Na crise, empreendedores aceitam seus investimentos a um preço menor’

Empresário Jorge Paulo Lemann e ex-COO do SoftBank, Marcelo Claure, falaram sobre como o investidor pode aproveitar uma crise

Jorge Paulo Lemann, cofundador da 3G Capital, fala durante a Conferência Global do Milken Institute em Beverly Hills, Califórnia, EUA, em abril de 2018.
10 de Maio, 2022 | 04:07 AM

Bloomberg Línea — Em mais uma semana que se iniciou com forte volatilidade e uma onda de aversão ao risco puxando as bolsas para baixo e elevando o dólar em relação às moedas da América Latina, o bilionário e empresário Jorge Paulo Lemann disse que passou por muitas crises, mas que sempre há oportunidade, mesmo em cenários de recessão. A declaração foi dada nesta segunda-feira (9) em um painel com o ex-COO do SoftBank e investidor Marcelo Claure, apresentado pela Volpe Capital, no Volpe Day.

“Passei por muitas crises. Fali quando tinha 26 anos em uma empresa financeira. Compramos a Anheuser-Busch e a crise veio, ninguém sabia que o sistema financeiro sobreviveria. Parecia muito ruim, mas virou a empresa mais lucrativa que temos no momento. Sempre tem uma oportunidade na crise, é um momento incrível em que os preços abaixam, os empreendedores aceitam seu investimento a preços menores. Invista neles nesse momento”, disse Lemann.

Homem mais rico do Brasil, o empresário divide o controle da Anheuser-Busch InBev, a maior empresa de cerveja do mundo, com seus sócios bilionários brasileiros Marcel Telles e Carlos Sicupira. O trio, parceiros há quase 50 anos, também tem participações na Kraft Heinz e na Restaurant Brands International, a empresa por trás do Burger King, além de controlarem as Lojas Americanas (AMER3).

No momento difícil para a economia global, as pessoas estão perdendo dinheiro: de traders amadores, a investidores de tecnologia e varejo, até mesmo o CEO do Nubank, David Vélez, viu sua fortuna pessoal cair US$ 4 bilhões. O próprio Lemann perdeu US$ 1 bilhão no último ano até hoje, segundo dados do índice de bilionários da Bloomberg.

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Mas, segundo Lemann, quando as coisas não vão como se esperava, há uma oportunidade.

“A gente buscava comprar a Brahma por muitos anos. Em uma tarde me ligaram e perguntaram se eu ainda queria comprar a empresa. Era antes da eleição entre Collor e Lula, e ninguém saberia quem iria vencer. Eu disse OK, quero comprar, e compramos a empresa 10 dias antes da eleição”, contou Lemann. Mas, ao fazer a diligência do fundo de pensão depois de comprar a companhia, os empresários descobriram enormes problemas financeiros, que eventualmente conseguiram consertar. Hoje, eles detém a mesma parte da empresa do que quando ela foi adquirida.

Quando algo vai errado, não desista do que você estava fazendo. Se é bom, continue”, aconselhou Lemann, durante o evento.

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Lemann e Claure participaram do encontro anual da Berkshire Hathaway em Omaha, nos últimos dias. Segundo Claure, o clima entre os investidores foi mais sombrio, com preocupações de que o tempo de bonança tenha acabado. “Do outro lado, na conferência de Blockchain e criptomoedas o clima é o oposto. É um clima de disrupção, com pessoas sendo contratadas porque as empresas estão crescendo. Depende do lado que você está, se é um hedge fund tradicional e está tentando prever o mercado, terá um período difícil”, disse Claure, entusiasta de tecnologias Blockchain que tem uma pequena parte de seu portfólio investida em diferentes ativos de cripto.

Para ele, investidores de capital de risco de longo prazo terão oportunidades excelentes não só porque o preço das participações estão menores, mas por conta de empreendedores inovadores. “Agora é a hora dos empreendedores executarem o Power Point que apresentaram para os investidores e mostrar os números que se comprometeram. Aqueles que sabem executar vão vencer, mas aqueles que são fundraisers profissionais vão sofrer. O mundo fica mais interessante sobre quais apostas são feitas quando o capital não é mais uma commodity”, disse Claure, durante o evento.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups