GetNinjas: redução de capital vai destravar agenda de M&A, defende CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Eduardo L’Hotellier diz que companhia se aproxima do breakeven, rebate críticas do mercado e comenta entrada da Reag como acionista

Eduardo L'Hotellier, CEO da GetNinjas
29 de Setembro, 2023 | 04:55 AM

Bloomberg Línea — A GetNinjas (NINJ3), maior plataforma para contratação de serviços do Brasil, espera destravar sua agenda de M&A (fusões e aquisições) depois de concretizar a operação proposta de redução de capital. Foi o que afirmou o fundador e CEO da companhia, Eduardo L‘Hotellier, em entrevista à Bloomberg Línea.

A operação anunciada na semana passada, que prevê a restituição de R$ 223,5 milhões aos acionistas, recebeu questionamentos no mercado. O player mais vocal contra a redução foi a gestora Reag, que se tornou recentemente a sua maior acionista, com 24,4% do capital.

Segundo L’Hotellier, a redução de capital vai diminuir o tamanho do patrimônio da companhia, de R$ 280,2 milhões, enquanto o valor de mercado estava em R$ 233 milhões na última quarta-feira (27). Ou seja, o valor patrimonial da empresa é superior ao preço negociado em bolsa.

Isso acaba representando um entrave para a conclusão de aquisições ou fusões, segundo o executivo, diante do chamado direito de retirada ou recesso garantido por lei aos minoritários - o de pedir o reembolso no valor de suas ações ou do patrimônio em caso de discordância dos acionistas de decisões em assembleia ou de mudanças consideradas relevantes, como M&As.

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Em maio de 2022, por exemplo, a Enjoei (ENJU3) suspendeu a compra da plataforma Gringa alegando que o desembolso para pagar os acionistas dissidentes superava o limite previsto em acordo.

A GetNinjas, por sua vez, que abriu capital em maio de 2021 na B3 e tem ajustado a operação reduzindo despesas com marketing e pessoal, acumula valorização de quase 70% em sua ação neste ano. O preço, por outro lado, ainda está cerca de 80% inferior ao do IPO, de R$ 20,00.

L’Hotellier defendeu que a redução de capital vai trazer benefícios para a estratégia de crescimento da companhia, sem comprometer a capacidade de investimento. Ele reforçou a ambição de atingir o breakeven, como havia indicado em entrevista à Bloomberg Línea em janeiro.

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O último balanço divulgado trouxe um alento: no segundo trimestre, a companhia teve lucro líquido de R$ 1,5 milhão, após perdas de R$ 2,1 milhões nos primeiros três meses e de R$ 8,8 milhões em igual período do ano passado.

Outro sinal de melhora operacional da companhia: no segundo trimestre, a receita líquida somou R$ 15,9 milhões, alta de 18% na comparação com o primeiro trimestre e de 19% ante o mesmo período de 2022.

“Hoje temos mais certeza de que estamos mais próximos de alcançar o breakeven″, afirmou o fundador do GetNinjas.

Mesmo com as duas reduções de capital (a primeira foi anunciada em agosto), o GetNinjas mantém cerca de R$ 60 milhões em caixa, o maior volume de sua história (iniciada em 2011), disse o executivo.

Segundo o CEO, a redução de capital proposta não significa que a empresa perderá a capacidade de investir no seu plano de crescimento inorgânico, previsto no prospecto do IPO em maio de 2021.

“Nosso caixa está mais reforçado do que antes do IPO. Já somos a maior empresa de contratação de serviços. Seguimos executando o plano do IPO, ou seja, pretendemos usar o caixa para fazer aquisições no futuro”, revelou o executivo, sem mencionar possíveis alvos ou cronograma dessas investidas.

Mudança no conselho

No último dia 14 de setembro, o CEO da Reag Investimentos, João Carlos Mansur, disse ao Brazil Journal que a restituição de parte do caixa da GetNinjas aos acionistas limitaria, em sua visão, o crescimento da companhia e o seu plano de negócios do IPO, sugerindo que o aplicativo diversificasse suas fontes de receitas investindo em novas verticais. O CEO da GetNinjas refutou essa leitura.

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“Não concordo com a opinião dele. O João tem a visão de uma semana na empresa. Eu tenho a visão de quem está na empresa desde a fundação, há 12 anos. Ele atua no mercado imobiliário, que é bem diferente do nosso setor de serviços. Ainda não sentamos para conversar sobre a empresa”, afirmou L’Hotellier.

A eleição do próximo conselho de administração da GetNinjas está prevista para 2025, segundo o CEO. Como acionista relevante, a Reag poderia convocar uma assembleia para antecipar e propor mudanças antes do final do mandato dos atuais conselheiros, já que sua participação acionária de 24,4% garante assento no board. Por enquanto, não há novidades a esse respeito.

A assembleia para votar a redução de capital a R$ 4,40 por ação está marcada para o próximo dia 23 de outubro, enquanto a efetivação (pagamento dos recursos aos acionistas) tem prazo máximo de 60 dias, contados a partir da publicação da ata da assembleia. A convocação foi feita no último dia 20 de setembro. No último dia 22, o papel fechou a R$ 4,59, o maior nível desde fevereiro de 2021.

“A subida das ações é atribuída à visão dos investidores de que estamos melhorando nossas receitas e reduzindo nossos custos. No final do dia, a empresa vem entregando resultados”, disse o CEO da GetNinjas.

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O executivo tem aumentado a participação acionária na companhia. Em janeiro, era o maior acionista com 14,59%. Hoje o CEO possui uma fatia de 19,12%.

- Matéria atualizada às 8h55 com a informação para a expectativa sobre o breakeven.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.