Da Alvarez & Marsal à GetNinjas: novo CEO mira produtos financeiros e parceria B2B

Leonardo Meneses diz em entrevista à Bloomberg Línea que expectativa é apresentar resultados robustos e consistentes a partir do segundo trimestre de 2024

CEO da GetNinjas, Leonardo Meneses, 49 anos
29 de Novembro, 2023 | 04:31 PM

Bloomberg Línea — Leonardo Meneses, carioca de 49 anos e experiente profissional de reestruturação de empresas da Alvarez & Marsal, assumiu o comando da GetNinjas (NINJ3) na última segunda-feira (27), no lugar do fundador Eduardo L’Hotellier.

A sua chegada se tornou possível com a mudança de controle da empresa que opera a maior plataforma digital de serviços do país: o CEO da gestora Reag Investimentos, João Carlos Mansur, foi eleito presidente do conselho no começo da semana, após atingir 32,15% do capital.

As ambições da nova administração se relacionam com a destinação de um caixa de R$ 280 milhões, acumulado desde o IPO (oferta inicial de ações) em maio de 2021 e que desde então ficou aplicado na renda fixa diante das turbulências no cenário macroeconômico e da alta dos juros.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Meneses revelou e resumiu as prioridades de sua agenda: destravar o que podem ser as alavancas de crescimento da GetNinjas, oferecer novos produtos para rentabilizar a jornada dos clientes na plataforma, racionalizar despesas, analisar os contratos existentes e fechar parcerias B2B para gerar mais receitas.

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O executivo disse que a expectativa é apresentar resultados financeiros, segundo suas palavras, “robustos e consistentes” a partir do segundo trimestre de 2024 e que uma agenda de M&A (fusões e aquisições) para acelerar a geração de caixa está, sim, na mesa.

A distribuição de produtos financeiros foi apontada como uma das apostas da nova fase da GetNinjas, segundo o CEO, que evitou fornecer detalhes, pois disse que ainda está conhecendo os times da companhia, a fim de identificar os líderes que vão executar as novas estratégias.

O fundador Eduardo L’Hotellier disse anteriormente que temia que a GetNinjas se tornasse um instrumento para dar escala aos últimos ativos adquiridos pela Reag. Neste ano, a gestora comprou o Grupo Touareg, de franquias de seguros, e a Bom Pra Crédito, além de controlar a Rapier e a Quadrante Investimentos, que atuam com wealth management.

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O novo CEO disse que descarta demissões ou mudanças no organograma neste primeiro momento.“Estamos praticamente em dezembro. O trabalho do novo time não vai impactar o resultado financeiro do quarto trimestre, mas, certamente no primeiro trimestre do ano que vem, os resultados já devem chegar, com breakeven da companhia”, afirmou Meneses.

Após a eleição da nova diretoria, formada ainda pela CFO, Fabiana Franco, e pelo diretor de RI, Thiago Gramari, e do novo conselho de administração com cinco assentos com mandato de dois anos, o próximo movimento na companhia será a divulgação das condições da OPA (oferta pública de aquisição) que pode levar ao fechamento do capital da GetNinjas. As informações devem ser anunciadas na primeira quinzena de dezembro.

Meneses evitou falar sobre o tema. O preço da OPA será fixado pela Reag, que acionou a cláusula de poison pill (obrigatoriedade de apresentar a oferta a todos os acionistas) ao atingir 25% do capital da empresa em 11 de outubro.

Leia a seguir trechos da entrevista com o novo CEO da GetNinjas, editada para fins de clareza.

Como o senhor chegou ao cargo de CEO da GetNinjas?

Saí da Alvarez & Marsal em janeiro de 2020 para montar um projeto pessoal de varejo. Era uma cadeia de lojas chamada Void Lojas Gerais. Assumi lá como CFO. Dois meses depois houve a pandemia e voltei a ser reestruturador. Assumi o projeto de uma montar uma tese de M&A de um grupo de moda no Rio de Janeiro [Grupo Sacada, Oh, Boy!, Yoboh!] antes de ser convidado para a NPL Brasil, gestora de créditos ilíquidos, para ser CFO e diretor estatutário.

Quando estava na NPL, o Mansur [Joao Carlos Mansur, CEO da Reag] me convidou para assumir a área de special situation na Reag. A GetNinjas já estava em estudo dentro da companhia, participei desses estudos. Quando a Reag atingiu o capital que tem hoje, o Mansur me convidou para ser o CEO da companhia e aceitei. É sempre uma honra. Já fui CFO de outras empresas, mas esta é a primeira vez como CEO.

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O senhor tem “bagagem” como reestruturador de empresas. O que planeja para a GetNinjas?

A GetNinjas tem um caixa super saudável, mas tem problema de geração de receita, de resultado operacional. É um outro tipo de reestruturação, que chamamos de performance improvement. Desde segunda-feira [27], estou conversando com as principais lideranças da companhia. Na próxima semana, haverá uma apresentação formal.

Qual será o seu plano de trabalho neste momento?

Tenho três pilares para gerar resultado operacional: primeiro, identificar os principais talentos e valorizá-los, ter um canal aberto e transparente com as pessoas. Segundo, incrementar a receita e rentabilizar toda a jornada da plataforma, com a oferta de novos produtos. Vamos formatar parcerias B2B.

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Terceiro é racionalizar as despesas, analisar todos os contratos e identificar aqueles com possibilidade de serem otimizados. Essas iniciativas andam em paralelo com os times, tocadas pela nova CFO e o novo DRI. Não posso falar os detalhes porque ainda vamos apresentar as ideias às equipes.

Haverá demissões, promoções ou outras mudanças no organograma?

No primeiro momento, não. Estou conhecendo todas as pessoas, conversando com diversos líderes. Acolher as pessoas é importante para evitar a insegurança que é normal neste momento.

As iniciativas da nova gestão vão impactar o balanço do quarto trimestre?

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Estamos praticamente em dezembro. O trabalho do novo time não vai impactar o resultado financeiro do quarto trimestre, mas, certamente no primeiro trimestre do ano que vem, os resultados já devem chegar, com o breakeven da companhia. A partir do segundo trimestre, temos a expectativa de entrega de resultados robustos e consistentes.

O caixa de R$ 280 milhões será usado para tocar a agenda de M&A como a Reag cobrava da gestão anterior?

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M&A depende do mercado: a empresa pode querer, mas a outra parte, não. Tudo vai depender do grau de robustez dos resultados. Se vierem robustos, começam a despertar interesse e a companhia gera valor que estava travado. Não descartamos usar o caixa para algumas aquisições que nos ajudem a recuperar a rentabilidade, a fazer isso com mais celeridade.

A aquisição pode incluir algum ativo detido pela Reag?

Não. Serão ativos que a companhia encontrar no mercado que nos ajudem a acelerar o processo de retomada da companhia.

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A tomada de dívida é um cenário analisado?

Não neste primeiro momento.

Para a GetNinjas, portanto, a “ordem” para 2024 é acelerar o resultado operacional?

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Sim. Enxergamos que há diversas alavancas que estão travadas no campo da geração de receita. Vimos isso nos estudos e agora teremos uma visão mais precisa e granular dentro da empresa. Identificando essas alavancas, vamos acelerar o crescimento. E o caixa será utilizado para isso.

A GetNinjas deixará de ser um aplicativo de contratação de serviços para criar um ecossistema de produtos financeiros?

Gosto muito do termo que você usou: ecossistema. Vamos continuar sendo a maior plataforma de oferta de serviços, mas podemos ser também um ecossistema robusto e completo. Queremos também fidelizar o cliente e fazê-lo utilizar mais a plataforma.

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No primeiro momento, temos bastante coisa desenhada para implementar. Queremos primeiro entender o funcionamento da plataforma e dos times, como vamos capturar resultados, entender quais os serviços e como estabelecer o roadmap.

Incluir serviços financeiros é uma linha que desejamos ver na plataforma. No momento, estamos olhando só para a distribuição de produtos financeiros.

A realização ou não da OPA muda algo no seu plano de trabalho?

Não. Meu mandato é cuidar das pessoas e alavancar as receitas. A ideia neste momento é entregar resultados e trazer eficiência. O meu DNA de reestruturador passa em ter as pessoas certas no lugar certo, com motivação para retomar os resultados, destravar valor e ter despesas controladas.

Após as experiências como CFO, assumir pela primeira vez um cargo de CEO traz que tipo de desafio?

É o desafio de pegar uma companhia aberta com exposição com a missão de destravar valor e alavancar a receita, tornar a empresa compatível com a expectativa que foi colocada sobre ela durante o IPO.

Atualiza às 8h50, de 30/12, com correção do nome do novo DRI

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.