Fed mantém taxa de juros pela 4ª vez e diz que ainda não é hora de fazer cortes

Decisão do banco central americano era aguardada pelo mercado, mas investidores buscam sinais do banco central americano sobre as perspectivas de cortes de juros em 2024

Sede do Federal Reserve, em Washington
31 de Janeiro, 2024 | 04:11 PM

Bloomberg Línea — O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve, decidiu manter inalterada nesta quarta-feira (31) a taxa de juros dos Estados Unidos no patamar de 5,25% a 5,50% ao ano. A expectativa de uma manutenção, a quarta consecutiva, era consensual entre economistas de Wall Street.

No comunicado divulgado junto com a decisão, o Fomc afirmou que os diretores avaliam que os riscos de alcançar as metas de emprego e inflação estão se movendo em direção a um “melhor equilíbrio”, mas que o cenário ainda requer atenção.

“O Comitê não espera que seja apropriado reduzir a faixa de meta até que tenha adquirido maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%. Além disso, o Comitê continuará reduzindo suas participações em títulos do Tesouro, dívidas e títulos hipotecários, conforme descrito em seus planos previamente anunciados. O Comitê está fortemente comprometido em retornar a inflação ao seu objetivo de 2%”, diz o comunicado do Fed.

Após a decisão, os índices acionários dos EUA, que operavam em queda nesta quarta, estenderam as perdas. Por volta das 16h12 (horário de Brasília), o S&P 500 caía 0,86%, enquanto o Nasdaq, com grande exposição ao setor de tecnologia, tinha queda de 1,37. O dólar caía 0,22% a R$ 4,94 e o Ibovespa (IBOV) subia 1,26%.

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Em coletiva de impressa logo após a decisão, o presidente Jerome Powell disse que os juros devem cair ainda neste ano, caso a dinâmica atual se mantenha. “Acreditamos que nossa taxa básica provavelmente esteja em seu pico para este ciclo de aperto e que, se a economia evoluir amplamente como esperado, provavelmente será apropriado começar a reduzir o aperto em algum momento deste ano”, disse. “Estamos preparados para manter a meta atual para a taxa por mais tempo, se apropriado.”

Na decisão desta quarta-feira, o Fed sinalizou uma abertura para cortar a taxa de juros, embora não necessariamente imediatamente.

O comunicado abandonou sua afirmação anterior de que um aumento nas taxas era possível e, em vez disso, adotou uma avaliação mais equilibrada do caminho futuro da política monetária.

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A decisão de manter a taxa de juros de referência inalterada no nível mais alto em 22 anos foi unânime. O banco central americano também reiterou sua intenção de continuar reduzindo seu balanço em até US$ 95 bilhões por mês.

Os diretores do Fed também ajustaram sua descrição da atividade econômica. Após um crescimento econômico mais forte do que o esperado no quarto trimestre, o comitê descreveu a atividade como “expandindo-se a um ritmo sólido”.

Entre outras mudanças no comunicado, o comitê omitiu a linguagem que vinha sendo incluída desde março passado, chamando o sistema bancário de “sólido e resiliente” e alertando que condições de crédito mais restritas provavelmente iriam pesar sobre a economia.

Como de costume no início do ano, a reunião de janeiro trouxe uma rotação de novos membros que votam no Fomc, incluindo os presidentes dos bancos regionais do Fed em Atlanta, Cleveland, Richmond e São Francisco.

O Fomc também usou sua primeira reunião do ano para reafirmar seus objetivos de longo prazo e estratégia de política monetária, incluindo seu compromisso com uma meta de inflação média de 2%.

Quando pressionado pelos jornalistas sobre o que as autoridades precisam ver para reforçar a confiança de que a inflação caminha para 2%, Powell disse que eles querem ver uma continuação dos “bons” dados observados nos últimos meses. “Só precisamos ver mais”, disse ele.

Na reunião anterior, em dezembro, o banco central americano haviam dado o sinal mais claro até de que o ciclo de alta havia terminado. Nas projeções divulgadas pela entidade na época, os diretores do Fed esperavam uma redução de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros até o fim de 2024, um corte maior do que o projetado em setembro.

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No mercado de juros, investidores passaram a prever desde então que o Fed iria realizar uma sequência de cortes de juros ao longo do ano. No início de janeiro, as negociações no mercado chegaram a apontar chances acima de 60% de que os cortes começariam em março, mas a probabilidade caiu para 40% antes da reunião desta quarta-feira.

Combate à inflação

O último aumento de juros do Fed foi há quase oito meses, mas a maioria dos diretores tem dito que é cedo demais para especular sobre tal mudança de curso. A inflação têm se mantido controlada nos EUA, mas o mercado de trabalho ainda aquecido e a atividade econômica em expansão sugerem que o Fed deve ter pouca urgência em cortar as taxas de juros.

“Não se pode negar o fato de que a inflação caiu muito, e eu não acho que eles queiram”, disse Seth Carpenter, economista-chefe global do Morgan Stanley, à Bloomberg News. “Por outro lado, não acho que haverá uma grande bandeira dizendo ‘Missão Cumprida’.”

No geral, a economia americana tem tido um desempenho melhor do que o esperado pelos diretores do Fed.

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O núcleo do índice de inflação mais acompanhado pelas autoridades do Federal Reserve (Fed), o PCE (Índice de Gastos Pessoais), teve alta de 0,2% em dezembro e encerrou o ano passado com variação acumulada de 2,9%, de acordo com dados divulgados na semana passada.

A variação foi maior do que em novembro (0,1%), indicando que os preços no país seguem em ritmo moderado. O núcleo é considerado o indicador mais importante pelo presidente do Fed, Jerome Powell, pois exclui as categorias de preços consideradas mais voláteis de energia e alimentos. Já o índice cheio também teve alta de 0,2% no mês passado. No acumulado em 12 meses, a variação foi de 2,6% para o índice geral.

O escritório de estatísticas do país divulgará dados na sexta-feira sobre o mercado de trabalho em janeiro, a primeira leitura importante sobre como a economia está se saindo até agora em 2024. Os economistas preveem um relatório sólido, com o crescimento do emprego desacelerando um pouco e o desemprego aumentando apenas ligeiramente.

O risco de uma nova aceleração da inflação neste ano é algo que pode fazer com que os diretores do Fed fiquem reticentes em fazer cortes de juros. No início deste mês, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que o pior resultado seria reduzir as taxas e depois precisar aumentá-las novamente.

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“Um pecado cardinal do banco central é cortar e ter que reverter o curso”, disse Diane Swonk, economista-chefe da KPMG. “Este é o momento de resistir e manter o curso. Os mercados não vão gostar, mas a mensagem tem começado a ser absorvida.”

-- Com informações da Bloomberg News. Atualizada para acrescentar mais detalhes da decisão do Fed.

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