Jerome Powell, presidente do Fed
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Bloomberg Oinion — Os dados econômicos mais recentes estão melhores do que a maioria ousava esperar há um ano. A inflação caiu muito mais rápido do que o Federal Reserve, banco central do país, esperava e, até agora, sem a desaceleração econômica abrupta e o aumento do desemprego que muitos economistas consideravam prováveis.

Com os preços voltando a ficar sob controle, os investidores estão confiantes de que a próxima mudança nas taxas de juros será para baixo. As únicas questões são quando e quanto.

Seria prudente ter cautela. O esperado “soft landing” é cada vez mais plausível, mas isso não facilitará o trabalho do Fed. Na reunião desta quarta-feira (31), as autoridades precisam ponderar os riscos e as incertezas que ainda podem abalar as expectativas.

Os novos números da inflação confirmam o progresso feito até agora com relação à inflação. A medida preferida do Fed – o índice de preços para o chamado núcleo de despesas de consumo pessoal (PCE) – acumulou 2,9% em dezembro em relação ao ano anterior, abaixo dos 3,2% registrados no ano até novembro.

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De qualquer forma, isso subestima o ritmo recente de desinflação. Para o segundo semestre de 2023, os preços para o núcleo de PCE subiram apenas 1,9% em uma taxa anual, trazendo essa métrica de volta à meta de 2% do Fed.

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Mesmo assim, é muito cedo para declarar vitória. A combinação de aperto monetário e demanda constante do consumidor, juntamente com desemprego muito baixo e inflação em queda, é de fato bem-vinda – mas ao mesmo tempo intrigante.

As projeções de 2023 foram refutadas a todo momento, o que justifica a humildade na previsão do rumo que as coisas tomarão a partir de agora.

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À primeira vista, uma economia que está crescendo, com um mercado de trabalho forte e salários em alta, não precisa de demanda extra e taxas de juros mais baixas.

O sentimento do mercado se baseia, em parte, na suposição de que o firme aperto monetário do Fed, iniciado na primavera de 2022, pode e deve ser revertido assim que a inflação mais baixa permitir: em outras palavras, com a inflação suprimida, a política monetária deve voltar ao normal. Esse raciocínio é questionável.

Em primeiro lugar, o Fed ainda não atingiu a meta de inflação. Segundo, como atesta a série de erros de previsão recentes, o que era normal antes da pandemia pode não funcionar mais.

A turbulência no mercado de trabalho, por exemplo, distorceu a relação entre demissões e vagas, tornando mais difícil avaliar a rigidez das condições e, portanto, o nível das taxas de juros.

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De qualquer forma, o argumento a favor de taxas mais baixas deve se basear nas perspectivas para a demanda, e não apenas no progresso feito até o momento para conter os preços mais altos.

É provável que a demanda de fato diminua nos próximos meses, graças aos altos custos de empréstimos, ao crescimento moderado da renda real disponível e à diminuição da poupança.

O Fed está ciente dessa perspectiva e – dado o atraso antes que as mudanças nas taxas de juros afetem a economia – desejará relaxar a política em antecipação.

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Infelizmente, se ele se antecipar demais e a demanda não diminuir como esperado, uma economia superestimulada poderá, mesmo agora, derrubar a aparente vitória do banco central sobre a inflação.

Sempre foi assim: a política monetária não é fácil. Ainda assim, com a economia em sua trajetória atual, o dilema do Fed é um bom problema. Ele não está mais lidando com a necessidade de taxas de juros mais altas, mas apenas com o ritmo de afrouxamento futuro.

No momento, ele pode se dar ao luxo de ser paciente, já que a maioria dos investidores não espera nenhum corte nas taxas antes de março. Até lá, os dados terão lançado mais luz sobre o rumo que essa economia desconcertante pode estar tomando.

O Conselho Editorial publica as opiniões dos editores sobre uma série de assuntos de interesse global.

— Editores: Clive Crook, Romesh Ratnesar.

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