O que está acontecendo com as empresas que estreiam no Ibovespa na segunda

Por que as ações de Petz, Banco Inter, Rede D’Or e outras novatas no índice de referência do mercado atraem atenção de fundos e grandes investidores e como isso pode fazer preço

Setor de pet shops tem resultados crescentes por causa de consumidor que trata cães e gatos como membros da família
03 de Setembro, 2021 | 01:31 PM
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São Paulo — A partir da próxima segunda-feira (6), o principal índice do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, estreia sua nova carteira, que vai vigorar até o fim do ano. A terceira e última prévia do benchmark, criado em 1968, aponta a entrada de sete novos papéis, sem nenhuma exclusão, totalizando 91 ativos de 84 empresas: Alpargatas PN (ALPA4), Banco Inter PN (BIDI4), Banco Pan PN (BPAN4), Méliuz ON (CASH3), Rede D’Or ON (RDOR3), Dexco ON (DXCO3) e Petz ON (PETZ3).

Empresas estreantes celebram a inclusão, pois ganham visibilidade diante da indústria de fundos de investimentos, que utilizam o Ibovespa como referência para o cálculo de suas rentabilidades. Especialistas dizem que a nova composição do índice tenta refletir setores emergentes da economia na B3.

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O setor de saúde, por exemplo, que ganhou relevância com a pandemia da Covid-19 em uma série de aberturas de capital e operações de M&A, passa a ser representado pela Rede D’Or São Luiz, do Rio de Janeiro. Ao comunicar sua inclusão na carteira, a companhia lembrou que o Ibovespa reúne “as empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro”, por ser o principal indicador de desempenho das ações negociadas na Bolsa.

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O peso das ações da Rede D’Or é ainda muito pequena, de apenas 0,9268%, representando a 29ª posição dentre os 91 ativos que compõem a carteira. A rede hospitalar também será incluída no índice Brasil 100 (IBrX 100), que é composto pelos 100 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro.

“As ações que você consegue montar com mais facilidade são as do Ibovespa. Tem algumas que não têm tanta liquidez. Então, os fundos que têm grandes posições sempre vão usar o Ibovespa como benchmark, porque é onde eles podem montar suas posições. Para que você vai montar posição em ações de menor peso, de menor liquidez, e de repente você não pode sair?”, questiona Pedro Paulo Silveira, gestor de investimentos da asset management Nova Futura Gestora de Recursos.

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Ele diz uma companhia estar no Ibovespa é uma sinalização para o mercado de que seus papéis possuem uma boa liquidez, incentivando a escolha por gestores de fundos em suas estratégias de alocação de recursos no mercado de renda variável. Silveira ressalva, no entanto, que o índice ainda tem o peso muito concentrado em grandes companhias tradicionais de mineração, como a Vale, commodities, como a Petrobras, e bancos, como o Itaú e Bradesco.

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“O Ibovespa representa o PIB brasileiro. E a verdade é que nossa economia é assim mesmo, concentrada em mineração, petróleo e gás, bancos. Isso você não muda da noite para o dia, apesar da onda de IPOs nos últimos anos”, afirma o gestor da Nova Futura.

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Os cinco ativos que apresentaram o maior peso na nova composição do índice foram: Vale ON (14,222%), Itaú Unibanco PN (6,319%), Petrobras PN (5,255%), Bradesco PN (4,611%) e Petrobras ON (4,049%). Já as sete estreantes têm peso bem menor do que esses papéis tradicionais do pregão: Alpargatas PN (0,428%), Banco Inter PN (0,1712%), Banco Pan PN (0,268%), Méliuz ON (0,144%), Rede D’Or ON (0,9268%), Dexco ON (0,2408%) e Petz ON (0,2822%).

Além disso, o free float (fatia do capital detida pelo mercado) das empresas brasileiras ainda é considerado baixo, na comparação com as “blue chips” do mercado norte-americano. O gestor da Nova Futura dá exemplos disso citando duas novatas do Ibovespa: o free float de Petz, varejista de produtos para animais de estimação, é de 60%.

“Ou seja, 40% das ações estão nas mãos dos controladores, que ficam com o poder de veto e outras prerrogativas. Nos EUA, o capital das companhias é mais pulverizado”, observa Silveira, que menciona ainda o free float do banco digital Inter, que é de 53%.

Petz considerou sua inclusão como uma conquista da companhia. “Essa importante conquista reforça nosso compromisso em ser referência no que diz respeito ao relacionamento com investidores, com uma comunicação transparente e consistente com todos os agentes de mercado”, disse Sergio Zimerman, CEO e fundador da Petz.

“É muito importante, para nós, termos dados de crescimento tão robustos e consistentes no momento em que iniciamos a fase de aquisições, planejada desde que realizamos a nossa oferta pública de ações, em setembro do ano passado”, afirmou Diogo Bassi, CFO da empresa.

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Recomendações

Algumas das novatas do Ibovespa já foram selecionadas para a lista de recomendações de compra em carteiras sugeridas para setembro. O Bradesco BBI, por exemplo, colocou Méliuz, empresa mineira de cupons e cashback, como uma das suas cinco apostas para o Índice Small Cap neste mês.

“Recentemente a Méliuz concluiu um follow-on no qual captou R$ 427 milhões com 7,5 milhões de novas ações e como resultado esperamos que a empresa apresente um forte crescimento de receita no longo prazo, acelerando seu crescimento por meio de contratação de pessoal qualificado, maiores investimentos em marketing para atrair clientes e acelerando seus serviços financeiros. Acreditamos que a empresa deva expandir e monetizar seus serviços financeiros. A estratégia da empresa parece estar mudando para ser mais do que ‘apenas’ uma plataforma de cashback, para se tornar um ecossistema completo que ajuda os clientes em sua jornada de compras online”, analisou a asset do Bradesco.

Já a Toro Investimentos indicou a ação do banco Inter como uma das suas 10 recomendadas para setembro.

“No final do mês de agosto o Banco Inter (BIDI4) realizou um movimento que chamou atenção do mercado, uma nova aquisição. Com o objetivo de iniciar suas atividades financeiras nos EUA, ampliar sua oferta de produtos financeiros e integrar novidade a sua plataforma, o Inter anunciou a compra da Fintech americana USEND, que atua no mercado de câmbio e serviços financeiros. Além de ampliar sua linha de negócios, a compra da fintech americana será importante no processo de internacionalização do Banco digital. Acreditamos que esses fatores podem continuar destravando preço ao longo do mês de setembro e por isso recomendamos compra em BIDI4”, justificou a instituição.

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Há casos em que a asset prefere recomendar a ação do controlador do que da controlada, mesmo que o papal desta seja incluída na carteira do Ibovespa. É o caso do Banco Pan, controlado pelo BTG Pactual, que liderou o ranking de reclamações elaborado pelo Banco Central no segundo trimestre deste ano, repetindo a posição obtida no segundo e no terceiro trimestre do ano passado. A Toro Investimentos recomendou a ação do BTG Pactual para setembro, e não do PAN.

“O BTG Pactual (BPAC11) possui um portfólio diversificado de produtos e serviços e uma estratégia que consegue atender diversas linhas de negócios e diferentes classes. O crescimento da adesão de novos clientes à plataforma BTG+ e o nível de adaptação do Banco às possíveis mudanças de mercado reforçam ainda mais a nossa tese de compra do ativo. Um ponto importante é a estratégia do BTG em aumentar sua participação no Banco Pan, fazendo com que a empresa aumente sua exposição à classe média, enquanto o BTG foca nas classes A e B. Esse movimento deve trazer resultados significativos nos números da companhia”, analisou.

Nomes tradicionais

Já a Dexco, antiga Duratex, chega ao Ibovespa em meio a uma transformação que incluiu a mudança de nome, aprovada pelo seu conselho de administração há dois meses, dentro da estratégia de expansão do grupo do setor de construção civil para novos negócios.

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Pode-se dizer que, ao contrário de Petz, Méliuz, Inter e Rede D’Or, que abriram capital recentemente, a Dexco, fundada há 70 anos, é um nome tradicional do pregão da Bolsa, mas que hoje traça um novo caminho para seus negócios, com foco também na agenda ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança).

A fabricante de calçados Alpargatas é outra companhia bem conhecida pelo mercado acionário. Centenária, a empresa tem sido favorecida pelos bons ventos da exportação de seus produtos. Após divulgar seu resultado financeiro do segundo trimestre, considerado “forte”, seu papel conseguiu ter melhora de recomendação.

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“A Alpargatas reportou um forte resultado do segundo trimestre com receita líquida da divisão Havaianas (+55% versus segundo trimestre de 2019) 19% acima do esperado por nós e EBITDA consolidado também 15% acima do estimado por nós, com ganho de margem de 2 pontos percentuais versus 2019. Este é o conjunto de resultados de alta qualidade, impulsionado por volumes mais fortes, com 4 milhões de pares no Brasil (10%) acima da estimativa e 3 milhões de pares na divisão internacional (+38%) acima do esperado. Revisamos nossas estimativas de volume internacional de longo prazo para cima, o que, junto com esses resultados, levou nosso preço-alvo para o final de 2022 para R$ 65 (de R$ 46 anteriormente para 2021). ALPA4 permanece com recomendação de compra e como umas das ações preferidas em nosso universo de cobertura”, informou o Bradesco BBI.

Alpargatas, que tem em seu portfólios alguns dos calçados mais tradicionais do país, é uma velha conhecida dos consumidores brasileiros e chega agora ao Ibovespadfd

IBrX 100

Petz confirmou que suas ações vão integrar a nova carteira do Ibovespa a partir da próxima segunda-feira até o dia 30 de dezembro, acrescentando que vai compor também o IBrX, somando um total de nove índices na B3, incluindo o IBRA (Índice Brasil Amplo), ICON (Índice de Consumo), IGCT (Índice de Governança Corporativa Trade), IGC (Índice de Governança Corporativa Diferenciada), IGC-NM (Índice de Governança Corporativa Novo Mercado), ITAG (Índice de Ações com Tag Along Diferenciado) e SMLL (Índice Small Cap).

O sócio da iHub Investimentos, Paulo Cunha, considera que os novos papéis ainda possuem participação irrelevante, sem volume de negociação comparável às locomotivas da Bolsa, como Vale e Petrobras. “Ter mais figurinhas no Ibovespa é saudável, embora a liquidez dessas ações ainda seja muito restrita. Não é como uma Vale que movimenta mais de R$ 1 bilhão por dia”, afirma Cunha.

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Ele diz que a inclusão de Petz no índice, por exemplo, não significa que o setor pet tenha aumentado significativamente seu peso no cálculo do PIB brasileiro. “O mercado vê a Petz com bons olhos, porque ela tem uma atuação no comércio eletrônico, com vendas online, e esse tipo de movimento passou a ser valorizado com a pandemia. Para o mercado, é tipo bitcoin: não tem muito fundamento, mas vamos nessa”, afirma o sócio da iHub.

Cunha vê uma crescente preferência dos economistas com outro índice da B3, o IBrX 100, que reúne as 100 ações mais negociadas da Bolsa. “Ele tem mais empresas em sua composição. Isso permite uma visão mais abrangente”, diz.

Uma das estreantes na nova carteira do IBrX 100, a Positivo Tecnologia afirma que “se orgulha em comunicar ao mercado que suas ações (POSI3) passam a integrar o IBrX-100” e que “essa conquista reforça o compromisso da companhia com a transparência na comunicação e relacionamento com o mercado”, segundo comunicado divulgado pela empresa curitibana.

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Não às “penny stocks”

Por que pode ser importante saber quais ações vão entrar no Ibovespa? A XP analisou a questão e respondeu em um recente relatório: “As ações incluídas no índice Ibovespa no passado valorizaram 10,4% na média, 30 dias antes do rebalanceamento”.

Os analistas citaram três motivos para isso: as ações passam a ser alvo de compra por parte dos fundos, o que aumenta as negociações das mesmas ao redor da data de anúncio e do rebalanceamento; os fundos passivos e ETFs, aqueles que buscam replicar o retorno do índice, passam a comprar os ativos adicionados ao Ibovespa; e a inclusão no índice do Ibovespa pode levar a um maior interesse por parte de investidores, levando ao aumento de informação pública e, consequentemente, de liquidez.

A XP lembra três critérios de seleção para fazer parte do Ibovespa: serem ativos negociados com regularidade, ou seja, estar entre os ativos elegíveis que, no período de vigência das três carteiras anteriores, em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade (IN), representem em conjunto 85% do total desses indicadores.

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Além disso, terem sido negociados em 95% dos pregões durante o mesmo período; tenham um volume financeiro relevante, isto é, uma participação de pelo menos 0,1% do volume negociado durante o período de vigência das três carteiras anteriores; por último, não serem “penny stocks”, que são ações negociadas a valores menores do que R$ 1.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.