Santander prevê 55 novas companhias listadas na B3 em 2021 com onda de IPOs

Em entrevista à Bloomberg Línea, executivos da área de investimentos falam sobre as diferenças entre os mercados brasileiro e norte-americano na hora de apostar em uma empresa estreante na Bolsa

Há 453 companhias listadas na B3, um número pequeno na comparação com o mercado acionário norte-americano (mais de 6.000 empresas)
25 de Agosto, 2021 | 05:21 PM

São Paulo — Um dos bancos que mais participam de coordenação de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), o Santander espera que o Brasil feche 2021 com pelo menos 55 novas companhias listadas na B3 ou até 60, dependendo das condições do mercado até o fim do ano. Hoje, este número está em 44, incluindo a estreia da Kora Saúde no último dia 13. No ano passado, foram 28 estreantes na Bolsa, que atualmente possui um total de 453 empresas.

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“É bem factível a gente bater 55 com muita tranquilidade. Obviamente não controlamos assuntos de volatilidade global ou ‘political noise’, barulho político, mas 55 me parece conservador, e 60 me parece uma ambição talvez realista”, diz Pedro Leite da Costa, chefe de renda variável do banco, em entrevista à Bloomberg Línea.

Ou seja, mudança no cenário macroeconômico também afeta a decisão de abertura de capital. Nem todas as companhias que pedem registro de IPO à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acabam realizando a operação. Foi o que se viu, na última segunda-feira (23), com o anúncio oficial de desistência da varejista Havan, a segunda do mês, depois da Athena Saúde no começo do agosto.

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O índice de mortalidade de IPOs no Brasil sempre foi relativamente alto. Então é natural que existam empresas que acessem o mercado e não consigam por ene motivos, como altas expectativas de avaliação, pouca receptividade em relação à tese, tamanho da oferta reduzido no setor, o que seja”, afirma Costa.

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Nos últimos dois meses, a CVM começou a analisar 14 pedidos de ofertas primárias, sendo nove em agosto, criando expectativas sobre os nomes das próximas companhias a tocar o sino do pregão da Bolsa.

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Uma dúzia [de novas empresas listadas] entre setembro e dezembro me parece até um número bastante conservador”, diz o chefe de renda variável do banco.

Comparação

Ele cita os EUA como um exemplo de sofisticação do mercado de capitais para relativizar a recente onda de IPOs no Brasil. “Nos EUA, são feitos 200 a 400 IPOs por ano. Às vezes mais. Nesse último ano foi bem mais do que isso, mais de 600”.

Costa afirma ainda que, no Brasil, ainda predomina a visão “curtoprazista” com muitos investidores mirando apenas um ganho rápido com aplicações em renda variável. No caso de IPO, há a figura do “flipper”, aquele que vende o papel logo no pregão de estreia para lucrar com uma possível disparada da cotação.

O Brasil ainda não tem uma cultura de investir em ações. A gente foi um país que investiu em renda fixa, não em renda variável. Os EUA obviamente estão em um outro patamar de sofisticação no que diz respeito à renda variável. Esse processo de equitização do mercado americano começou há 40 anos. Aqui começou há dois ou três anos”.

Gustavo Miranda, head de Investment Banking do Santander, dá uma noção da diferença entre os dois países. “No ano passado, os EUA chegaram a fazer em uma semana o número de ofertas que a gente fazia em um ano”.

A baixa liquidez dos papéis brasileiros ainda é um sintoma de mercado de capitais pouco amadurecido.

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“Nos EUA, os volumes são muito grandes. Lá é outro patamar. Aqui no Brasil, existem cerca de 450 empresas listadas. Dessas, mais ou menos metade tem alguma liquidez relevante. Se eu perguntar para alguns gestores quais se destacam, quais realmente têm alguma vantagem competitiva, o número fica ainda menor. Realmente a liquidez relevante de bons nomes no Brasil, em relação ao nosso PIB, ainda é pequena”, diz Miranda.

Educação financeira

Há mais de 6 mil empresas listadas na Bolsa de Nova York (mais de 2.800) e a Nasdaq (mais de 3.300). Miranda afirma que o investidor norte-americano de varejo conta com mais ferramentas na hora de analisar as candidatas a IPO, como sistemas de informações financeiras.

“Para um investidor de varejo, por exemplo, que vê um IPO, é relativamente bem mais fácil do que no Brasil comparar empresas, ver os múltiplos, ver se está caro ou barato. Há ainda muitas empresas que já se especializaram em analisar os IPOs, recomendando ou não participar”.

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Para Miranda, o Brasil ainda precisa avançar em educação financeira, em busca de um maior entendimento sobre como funciona o mercado de capitais.

“De alguma maneira, o mercado vai acabar se ajustando com o tempo, porque se a gente não educar bem os investidores - normalmente você tem momentos bons e ruins, como qualquer mercado no mundo -, a gente vai criar dissabores. Então, a gente tem que realmente ajudar as pessoas a investirem conforme o perfil delas, o momento de vida delas, as necessidades de liquidez, para elas investirem de uma maneira compatível com seus perfis”, afirma o responsável pela área de investimentos do Santander.

Com o maior número de ofertas iniciais de ações neste ano no Brasil, o investidor precisa organizar seu tempo para estudar os prospectos ou buscar orientação profissional, como uma assessoria em investimento.

“São raras as pessoas físicas que vão conseguir o tempo e a habilidade para analisarem as ofertas num período curto. Então, busquem uma boa assessoria, tentem evitar investir só porque ouviu dizer que a transação é quente e interessante. Pense bem na sua liquidez”, afirma Miranda.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.