IPOs: Brasil deve fechar 2º semestre com total recorde de ofertas de novas ações, projeta XP

Pedro Mesquita, responsável pela área de investimentos do grupo, aumenta sua previsão inicial para mais de 100 operações e volume de R$ 250 bilhões no acumulado de janeiro a dezembro

B3 já celebrou a chegada de 43 companhias que concluíram oferta inicial de ações (IPO) neste ano
11 de Agosto, 2021 | 09:38 AM

São Paulo — O Brasil deve fechar o 2º ano da pandemia da Covid-19 com mais empresas listadas na Bolsa, marcando um novo recorde nas ofertas de novas ações, em meio a um cenário positivo de retomada econômica com o avanço da vacinação. O volume de IPOs (estreias na B3) e “follow-ons” (ofertas subsequentes, realizadas por companhias com ações já listadas) em 2021 pode superar a expectativa inicial. A XP, uma das instituições financeiras nacionais mais ativas na coordenação de aberturas de capital, aumentou, por exemplo, sua previsão para o total de operações de janeiro até dezembro.

“Acredito que a gente vai ter mais de 100 ofertas, entre IPOs e follow-ons, e também um volume histórico. A gente tinha falado, no início do ano, em R$ 200 bilhões em ofertas, mas acredito que esse número vai ser ultrapassado com a melhora da pandemia, com as reformas que estão sendo feitas pelo Congresso. A gente está com uma previsão agora de R$ 250 milhões em ofertas até o fim do ano”, revela Pedro Mesquita, sócio da XP e Head de Investment Banking, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea.

Até ontem, a B3 contabilizava 43 novas companhias listadas neste ano, acima do número de 2020 (28 estreantes). A fila de empresas à espera da cerimônia de toque do sino no primeiro pregão só aumenta mesmo com a proximidade de 2022, ano de eleição presidencial, evento com tradição de levar maior volatilidade e até turbulências ao mercado brasileiro de capitais.

Eleição

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“O ano eleitoral é sempre um ano mais instável, mas a gente tem de lembrar que estamos vivendo no Brasil um cenário de juros super baixos que praticamente o País nunca viveu, o que possibilita sim o mercado de equities, porque o investidor acaba não encontrando rentabilidade na renda fixa”, afirma Mesquita.

Em março, o Banco Central iniciou um ciclo de alta da taxa básica de juros, a fim de conter apostas em uma inflação acima da meta. Em junho, quando o IPCA (inflação oficial) acumulava 8,35% em 12 meses, o Copom elevou a Selic em 0,75 ponto para 4,25%. Foi o 3º aumento do ano. Mesmo assim, o juro real ainda está em patamar historicamente baixo. A próxima reunião do colegiado do BC será nos próximos dias 3 e 4 de agosto, e se espera uma nova elevação.

Na avaliação do sócio da XP, a economia brasileira ainda enfrenta problemas antigos e nem se recuperou totalmente da crise de 2014 a 2017, marcada por uma grande recessão, mas ele se mostra confiante com as perspectivas positivas para o Brasil, como o avanço das reformas estruturais e do combate ao novo coronavírus. “A gente tem um cenário de pandemia muito mais benigno do que teve no ano passado. A gente já está enxergando uma luz no fim do túnel”.

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145 mil pontos

A XP trabalha, segundo Mesquita, com uma projeção de Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, próximo dos 145 mil pontos. Ontem, o índice fechou nos 122.202 pontos (-0,66%).

“A gente vê um espaço grande para o crescimento do índice. Visitamos muitas empresas, conhecemos muitos empresários, e todos estão muito otimistas com a rentabilidade e o lucro de suas companhias neste ano”.

Ele considera que o segundo semestre será melhor do que o primeiro para as operações de abertura de capital, com demanda principalmente dos investidores domésticos por novos papéis. “Mais ou menos 75% da demanda de IPO, desde 2019, tem sido de investidores locais”, estima Mesquita.

Para o executivo da XP, a atual onda de IPOs reflete um amadurecimento do mercado brasileiro de capitais, que passou a listar mais companhias de médio porte ou de alcance regional, provenientes de setores ainda pouco representados na Bolsa (como agronegócio e startups) e de outras regiões (como Nordeste e Centro-Oeste).

“O Brasil, que é um país continental, tem menos de 500 empresas negociadas na Bolsa. Para efeito de comparação, o Peru tem quase 300, enquanto a Índia conta com mais de 5.000 companhias listadas. Temos aqui ainda poucas empresas abertas”, compara.

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.