Nubank atinge rentabilidade recorde global de 30% e vê melhora do crédito, diz CFO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Guilherme Lago diz que empréstimos de maior qualidade se refletem em juros menores e destaca melhora de engajamento com cross-selling

Prédio que é a sede do Nubank na avenida Rebouças, na zona oeste de São Paulo (vista de fundo do edifício) (Foto: Divulgação)
13 de Novembro, 2024 | 07:24 PM

Bloomberg Línea — Em um trimestre sem eventos extraordinários, o Nubank superou as expectativas de mercado em termos tanto de crescimento do lucro como de rentabilidade e também mostrou um avanço que reflete a evolução e o amadurecimento de seu relacionamento com clientes, segundo Guilherme Lago, CFO (Chief Financial Officer) do banco, em entrevista à Bloomberg Línea sobre o resultado.

O banco concedeu um volume proporcionalmente maior de crédito de mais qualidade, com garantia, e isso se refletiu em métricas como a margem financeira líquida (NIM, na sigla em inglês), que teve queda de 140 pontos base na comparação trimestral, para 18,4% no terceiro trimestre.

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O NIM ajustado pelo risco diminuiu 90 pontos base em relação ao trimestre anterior, para 10,1%, em um ritmo mais lento em comparação com o NIM, dado que o custo do risco teve impacto de 50 pontos base, apontou o banco no release de resultados divulgado nesta quarta-feira (13).

“Quando olhamos a originação do crédito pessoal, o que cresce mais é a carteira do crédito com garantia, que são principalmente aquele com FGTS e o consignado”, disse Lago.

“São modalidades de crédito com taxas médias de juros mais baixas e também com níveis de perdas muito menores”, disse o executivo.

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O crédito com garantia cresceu 39% em volume na base trimestral - o dobro do ritmo da modalidade sem garantia - e 733% em 12 meses e respondeu por 16% do total da originação no período. Um ano atrás, essa participação estava em 3%.

Na base anual, por outro lado, houve aumento da margem financeira líquida ajustada ao risco, algo explicado, segundo o banco, pelo “foco em otimizar o valor ao longo do tempo de relação com os clientes”. Leia-se assumir o risco de um nível maior de perdas dentro do previsto em modelos de concessão do banco como parte de uma estratégia de criar um relacionamento e avançar na chamada “principalidade” (veja mais abaixo).

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Outro indicador que apontou melhoria no terceiro trimestre foi a inadimplência mais imediata, que mede atrasos de pagamento entre 15 e 90 dias: houve queda de 10 pontos base, para 4,4% no trimestre. Foi a segunda redução consecutiva sequencial (mas houve aumento nas taxas acima de 90 dias).

A melhora do perfil de crédito também se refletiu na base trimestral em estabilidade da receita líquida de juros (NII na sigla em inglês), que passou de US$ 1,718,1 bilhão para US$ 1,712,8 bilhão - em 12 meses, houve crescimento de 63% em base neutra de câmbio.

O banco apontou fatores que explicaram essa desaceleração do NII: “os rendimentos da carteira de cartões de crédito diminuíram, refletindo um melhor perfil de risco; e os rendimentos dos empréstimos diminuíram à medida que os empréstimos com garantia continuaram a crescer”.

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Três pilares do modelo

Executivos do banco, como o cofundador e CEO global, David Vélez, têm reiterado que o modelo de negócios conta com três pilares principais do ponto de vista de métricas financeiras e operacionais: expansão da base de clientes, aumento do engajamento dessa base - algo que se traduz na receita média mensal por cliente ativo - e eficiência operacional.

Os três apresentaram evolução nos três meses entre julho e setembro.

O banco ampliou a base em 5,2 milhões de clientes em três meses e em 20,7 milhões em 12 meses, para quase 110 milhões ao fim de setembro. O crescimento foi da ordem de 23% na comparação anual.

Neste começo de semana, a base chegou a 100 milhões de clientes no Brasil. “Quase 60% da população adulta do país é cliente do Nubank”, disse Lago.

“Alcançamos uma receita recorde de US$ 2,9 bilhões, impulsionada tanto pela aquisição de clientes quanto pela melhora no engajamento por meio de iniciativas de cross-selling e up-selling, combinada com lançamentos de produtos atrativos”, apontou o banco no release de resultados.

No consenso das projeções de analistas, consolidado pela Bloomberg, a expectativa apontava para receitas exatamente nessa magnitude de US$ 2,9 bilhões.

O aumento de 56% das receitas em base cambial neutra foi acompanhado por taxas maiores de expansão tanto do lucro bruto (67%) como do lucro líquido (107%), para US$ 553,4 milhões.

O lucro líquido ajustado chegou a US$ 592,2 milhões, acima dos US$ 554,1 milhões do consenso da Bloomberg.

Rentabilidade recorde

Essa combinação de avanço do lucro acima do das receitas resultou em aumento da rentabilidade: o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) anualizado passou de 28% para 30% no dado consolidado global - pela primeira vez nesse patamar. No consenso da Bloomberg, a expectativa era a de um ROE de 27,97%.

Considerando só o Brasil, o seu principal mercado, o ROE superou o patamar de 50%.

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“A rentabilidade seria ainda maior não fossem ajustes menores, como o reconhecimento que fizemos referente a um reposicionamento de nosso programa de fidelidade Nucoin, o que nos levou a ter uma despesa não recorrente de US$ 48 milhões”, explicou o CFO sobre essa métrica.

“Mesmo com essa despesa incorporada, os nossos níveis de eficiência atingiram um recorde de 31,4% no terceiro trimestre”, disse Jorg Friedemann, IRO (Investor Relations Officer) do Nubank, na mesma entrevista à Bloomberg Línea. Houve avanço de 60 pontos base versus segundo trimestre e de 300 pontos base em 12 meses nesse indicador.

O “custo de servir” médio mensal por cliente ativo continuou abaixo de US$ 1 e caiu na comparação tanto trimestral como anual: de US$ 0,9 nos dois casos para US$ 0,7 no terceiro trimestre.

No fim de setembro, o Nubank (NU) anunciou mudanças no programa Nucoin, que passou a permitir o uso desse ativo digital apenas para troca de produtos e benefícios dentro do seu app, e não mais para negociação.

60% de principalidade

Na frente de engajamento de clientes, a receita média mensal por cliente ativo (ARPAC, na sigla em inglês) ficou em US$ 11,0, versus US$ 11,2 no segundo trimestre, em razão de efeito cambial com a desvalorização do real, segundo os executivos.

Em base neutra de câmbio, houve alta de 2% na base trimestral e de 25% em 12 meses. Lago disse que, sob diferentes óticas, o engajamento continua a mostrar evolução.

“O nível de ativação dos clientes, que são aqueles que geraram receita para o banco nos últimos 30 dias, continua a subir apesar de um aumento expressivo da base: saiu de 82,8% para 83,6% no terceiro trimestre. Foi o 12º trimestre consecutivo em que esse índice subiu”, disse o CFO do Nubank.

Lago apontou também a evolução do indicador que mede a “principalidade” do cliente com o Nubank, ou seja, quando ele passa a utilizar o banco como principal instituição financeira - por exemplo, ao transferir mais de 50% de sua receita líquida mensal para o banco.

“Estamos batendo 60% de principalidade em todas as safras [de clientes], mas o que é mais interessante é que, nas safras mais novas, esse patamar tem sido atingido em menos tempo”, afirmou.

Friedemann apontou outra razão que impactou um crescimento menor da receita média mensal por cliente ativo: “o banco tem crescido muito em clientes no México e na Colômbia. E eles começam a engajar por meio do produto ‘conta’, que não gera uma ARPAC tão elevada”.

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Avanço na alta renda e em PMEs

Lago disse que o banco tem alcançado resultados positivos em segmentos como o voltado para a alta renda - chamado de Ultravioleta -, que dobrou de tamanho em número de clientes em seis meses; e o de atendimento de PJ (pessoa jurídica), que chegou a quase 3 milhões de clientes. “Nos tornamos o maior banco do país em clientes PME [pequenas e médias empresas]”, disse.

As duas operações internacionais do banco, ambas na América Latina, continuaram a crescer: o volume de depósitos chegou a US$ 3,9 bilhões no México e se aproximou de US$ 1 bilhão na Colômbia.

Lago ressaltou que os números de crescimento vêm acompanhados de indicadores que o banco considera relevantes, como NPS (Net Promoter Score, métrica de satisfação do cliente) que é o mais alto do segmento, índices de reclamação entre os menores do Banco Central e um custo de empréstimo de modalidades como FGTS e consignado cerca de 30% abaixo da média de mercado.

Nas negociações do after market, as ações do Nubank tinham queda em torno de 2% às 19h30 de Brasília nesta quarta; no acumulado do ano até o fechamento do dia, a valorização supera 90%.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.