Nova política da Petrobras afeta resultados e títulos de refinaria do Mubadala

Acelem, que opera a refinaria de Mataripe, passou a ter títulos negociados com desconto depois que a estatal começou a vender gasolina e diesel abaixo de preços do exterior

A Acelen é a dona da Refinaria de Mataripe e seus ativos logísticos na Bahia
Por Vinícius Andrade - Giovanna Bellotti Azevedo
21 de Agosto, 2023 | 07:28 PM

Bloomberg — A nova política de preços de combustíveis implementada pela Petrobras tem causado problemas para uma refinaria de petróleo controlada pelo Mubadala Capital, o que entrega aos detentores de títulos de dívida um dos piores retornos da América Latina.

A Acelen, que opera a refinaria de Mataripe, no estado da Bahia, viu seus títulos de dívida em dólar recuarem para cerca de 63 centavos de dólar, uma queda de 26 centavos desde fevereiro. A perspectiva para a dívida com vencimento em 2031 foi revisada para negativa pela Moody’s Investors Service no início do mês, em meio a riscos crescentes à geração de caixa da empresa.

A inquietação do mercado sobre o futuro da refinaria diz menos sobre a própria empresa e mais sobre as consequências da política de preços de combustíveis da Petrobras. A estatal tem vendido gasolina e diesel com desconto em relação aos preços internacionais no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que questionou os patamares dos preços dos combustíveis no país.

A Acelen afirma que sua refinaria está em desvantagem: por um lado, a empresa diz que a Petrobras, fornecedora dominante no Brasil, vende óleo cru a preços altos. E, por outro, não consegue competir com refinarias rivais que estão vendendo gasolina e diesel a preços mais baratos. As alegações sobre os preços do óleo cru foram feitas em uma reclamação junto ao Cade, a autarquia de defesa da concorrência.

PUBLICIDADE

“A Petrobras está dificultando a vida da Acelen”, disse Ezequiel Fernandez, analista da Balanz Capital Valores. Essa combinação de fatores pressiona os chamados crack spreads - diferença entre o preço que a Acelen paga pelo óleo cru e o que consegue repassar aos consumidores - da companhia.

O crack spread ajustado da Acelen caiu para US$ 8,20 por barril no primeiro trimestre, uma queda de 54% em relação ao ano anterior, enquanto a receita recuou 10%, para US$ 2,2 bilhões.

“O Brasil precisa assegurar um mercado de refino em condições justas e competitivas”, disse a Acelen em nota. Distorções no mercado brasileiro e um mercado internacional volátil - em meio à guerra na Ucrânia e fatores econômicos globais - têm sido refletidos nos resultados, segundo a Acelen.

PUBLICIDADE

A Petrobras (PETR3, PETR4) não respondeu imediatamente a pedido de comentário.

As margens da Acelen nos últimos trimestres foram prejudicadas por altos custos de frete no mercado internacional de very-low sulfur fuel oil (VLSFO), custos associados a contratos de curto prazo e gastos com o ramp-up da produção, segundo Cristiane Spercel, analista da Moody’s.

Essas pressões estão começando a amenizar, disse Spercel, mas “2023 será um ano mais apertado em termos de geração de caixa”.

A Acelen, também conhecida como MC Brazil Downstream, foi criada após o Mubadala - a unidade de gestão de ativos de US$ 20 bilhões do fundo soberano de Abu Dhabi - comprar a refinaria de Mataripe da Petrobras em 2021 por cerca de US$ 1,65 bilhão.

O fato de os títulos negociarem em níveis tão baixos sugere que os investidores estão se preparando para chances “substanciais” de algum evento de crédito, disse Fernandez, adicionando que uma injeção de capital pelo Mubadala é provável se as condições se deteriorarem ainda mais e o serviço da dívida se tornar problemático.

A Acelen “está confortável com a liquidez do negócio” e continua a avançar em seus novos projetos, segundo a empresa em nota, em que não comentou a hipótese de uma injeção de capital.

Nos preços atuais, “precisamos começar a avaliar um eventual apoio por parte do controlador”, disse Fernandez, que carrega uma recomendação “underweight” (exposição abaixo da média do índice de referência) para os títulos. “O caso para ficar short não é mais tão atraente.”

PUBLICIDADE

- Com a colaboração de Maria Elena Vizcaino, Mariana Durao e Peter Millard.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Governo deve acionar AGU para liberar estudos da Petrobras na Foz do Amazonas

Real estate rural: como a BrasilAgro saiu da tese para 320 mil hectares de terras