Estamos preparados para ajudar a consolidar o setor de petróleo, diz CEO da Enauta

Em entrevista à Bloomberg Línea, Décio Oddone afirma que a empresa dispõe de caixa e capacidade técnica para estar na ponta que vai liderar o movimento de M&A no Brasil

campo atlanta enauta
06 de Outubro, 2023 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Com os preços do petróleo de volta a patamares acima de US$ 80 o barril, o mercado está otimista com as operadoras independentes de óleo e gás, conhecidas como junior oils. É uma indústria que está prestes a passar por um movimento de consolidação, segundo o CEO da Enauta (ENAT3), Décio Oddone, que diz que a empresa tem condições para ser uma das líderes dessa tendência.

“Muitas operadoras independentes surgiram com o processo de desinvestimento da Petrobras, mas esse é um negócio de escala. Acredito que haverá um movimento de consolidação no mercado. Nós estamos preparados para estar na ponta consolidadora, pois temos experiência, geração de caixa e um conjunto de acionistas que acredita nessa tese”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

Atualmente, o mercado brasileiro tem cerca de 90 operadoras independentes de óleo e gás. Aproximadamente dez são consideradas de grande porte, incluindo nomes como PRIO (PRIO3) (ex-PetroRio), PetroRecôncavo (RECV3) e 3R (RRRP3), além da própria Enauta.

Na visão de Oddone, ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entre 2016 e 2020 e ex-executivo que liderou operações da Petrobras na Argentina e na Bolívia, uma empresa precisa produzir entre 75 mil e 100 mil barris por dia para ter ganhos de escala.

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“Essa é uma escala razoável para se ter uma operação mais longeva. Além disso, com esse volume é possível ter mais acesso ao mercado de capitais, algo fundamental porque o investimento é extremamente importante no nosso negócio”, afirmou.

O executivo disse acreditar que o diferencial da Enauta em relação a seus competidores diretos é a capacidade técnica. “Somos a única [empresa do setor] independente que desenvolve do zero um projeto de grande porte em águas profundas. Nossa atuação é semelhante à das majors. Podemos aproveitar a capacitação que temos hoje em outros projetos.”

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Oddone contou que a Enauta busca ativos de baixo risco, preferencialmente em bacias conhecidas que já estejam em desenvolvimento. Uma prioridade, segundo ele, é o entorno do Campo de Atlanta, na Bacia de Santos, em que a companhia tem 100% de participação.

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“Estamos fazendo um pente fino [na região]. Depois, vamos buscar áreas adicionais em bacias que já têm descobertas [de petróleo ou gás natural].”

Na avaliação da analista de óleo e gás do Itaú BBA, Monique Grecco, o cenário é positivo para as operadoras independentes. “Temos uma visão construtivista para o preço do petróleo no curto e médio prazo.”

Em relatório do banco de fevereiro deste ano, analistas afirmam que as empresas independentes de petróleo e gás “oferecem oportunidades de investimento atrativas, diante de sua capacidade de execução e crescimento, probabilidade de preços elevados do petróleo no curto e médio prazo e baixo risco de grandes mudanças no ambiente regulatório.”

O Itaú BBA projeta preço médio do petróleo de US$ 80 no ano que vem. “Esse valor é bem superior ao break even das grandes operadoras independentes, que está entre US$ 50 e US$ 60″, pondera Grecco.

Por outro lado, com o encerramento do processo de desinvestimentos da Petrobras, as operadoras independentes terão que focar no desenvolvimento de novos campos, alerta a especialista.

No caso da Enauta, ela aponta que uma alternativa seria a antecipação do desenvolvimento de campos que a empresa já possui. “Isso não necessariamente implicaria em custos maiores. Exercer essa opcionalidade poderia diluir custos fixos”, diz Grecco.

A analista observa que o campo de Atlanta é um reservatório de volumes relevantes, que deve ter o início de produção de um novo FPSO (plataforma) no ano que vem. Outro ponto a favor da Enauta, acrescenta, é a qualidade do óleo produzido, que tem baixo teor de enxofre -- produto que vem sendo mais demandado após mudanças de regulação no negócio de combustível marítimo (bunker).

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Como principal risco para a companhia, Grecco aponta a implantação do sistema definitivo de produção em Atlanta. “Esse campo está parado e seu sistema vem apresentando problemas frequentes. O maior desafio da Enauta é garantir a travessia para o sistema definitivo.” Atlanta terá no ano que vem um sistema permanente, que deve operar até 2040.

Oddone esclarece que, com a produção do campo de gás de Manati e de petróleo de Atlanta, a companhia deve ter um portfólio mais balanceado.

“O que falta para nós é um portfólio balanceado, que gere caixa suficiente para poder investir ao longo do ciclo e fazer algum tipo de descoberta.”

Futuro do petróleo

Para o CEO da Enauta, embora o financiamento para projetos de óleo e gás esteja mais caro atualmente, em meio à tendência de descarbonização, a demanda do setor não está caindo.

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“Ainda existem milhões de pessoas sem eletricidade no mundo e a guerra na Ucrânia impactou o mercado. É difícil acreditar que vamos ter um mundo com petróleo muito mais barato”, avalia.

Segundo o executivo, mesmo com a China desacelerando, os preços da commodity não devem cair drasticamente. “Não consigo ver o preço do petróleo muito baixo no curto prazo. Até 2030, trabalhamos com o barril a US$ 70.”

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.