O que esperar para a economia da Argentina com Milei, segundo 9 bancos e corretoras

A perspectiva de mudanças radicais com o novo presidente geraram entusiasmo, mas analistas de Wall Street fazem alerta para os desafios profundos que deverão ser enfrentados

Loja na Argentina
Por Giovanna Bellotti Azevedo - Kevin Simauchi - Vinícius Andrade
20 de Novembro, 2023 | 12:11 PM

Bloomberg — Analistas e investidores receberam com entusiasmo a perspectiva de mudanças radicais na Argentina depois que o libertário Javier Milei venceu a votação presidencial no domingo (19), embora alertem para os desafios profundos enfrentados pelo líder que assumirá uma economia com inflação de três dígitos e crescimento estagnado.

Os analistas afirmaram que aguardam detalhes sobre como Milei cumprirá sua promessa de reformular a segunda maior economia da América do Sul. As nomeações para o novo ministério são fundamentais para determinar se a forte alta nos ativos desta segunda-feira (20) terá continuidade.

Os títulos soberanos dispararam hoje, juntamente com as ações de empresas argentinas listadas nos EUA e um fundo negociado em bolsa que investe na nação sul-americana depois que Milei derrotou o ministro da Economia, Sergio Massa, por uma margem maior do que o esperado. Os mercados locais estão fechados devido a um feriado nacional.

O estrategista do Morgan Stanley (MS), Simon Waever, vê espaço para os títulos subirem até 4 centavos, mas alerta que os traders precisarão de provas de que os desequilíbrios serão corrigidos sem grandes solavancos.

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A dolarização da economia argentina, uma promessa-chave da campanha de Milei, poderia levar a movimentos abruptos nos preços e a um aumento da inflação, dependendo de como for implementada. Outro desafio é angariar apoio no Congresso para avançar com medidas impopulares.

Morgan Stanley

O banco prevê um ajuste de pelo menos 80% na taxa de câmbio oficial em dezembro, o que deverá destravar entradas reprimidas e incentivar os exportadores de trigo a enviar rapidamente a produção para o exterior.

Milei propõe reduzir o intervencionismo estatal, mas os desafios incluem “inflação galopante, moeda sobrevalorizada, restrições de capital e importação e falta de acesso ao mercado”.

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Investidores de títulos precisam “ser convencidos ao longo do caminho de que os desequilíbrios podem ser corrigidos sem incidentes”. Prefere os títulos com vencimento em 2030.

Javier Mileidfd

Goldman Sachs

Os investidores agora vão direcionar seu foco para os anúncios de política econômica de Milei - com a taxa de câmbio oficial sendo uma variável crítica a ser monitorada. Nomeações para o gabinete, especialmente o Ministro da Economia e cargos no banco central, também serão fundamentais.

Seaport Global

“Milei venceu com 10 pontos percentuais de diferença sobre Massa. Em seu discurso, ele pregou uma terapia de choque para a Argentina. Isso significa que a dolarização será implementada imediatamente? Se sim, isso significaria uma depreciação significativa com consequências inflacionárias imediatas.”

Edwin Gutierrez, da Abrdn

“A chave aqui será quem ele traz para sua equipe econômica, com o retorno de Federico Sturzenegger e Luis Caputo.” Os títulos em dólares devem ganhar devido à margem de vitória de Milei, mas “esse fenômeno deve ser bastante efêmero, pois isso realmente não dá muita leitura em termos de governabilidade”, diz Edwin Gutierrez, gestor de fundos na Abrdn em Londres.

Claudia Calich, da M&G Investments

“Milei enfatizou corretamente que não há espaço para o gradualismo. Precisamos mudar o curso do país de forma muito contundente e na direção certa, o que eu acho que todos, incluindo os mercados, concordarão”, diz Claudia Calich, chefe de dívida de mercados emergentes na M&G Investments.

Calich, que tem uma posição levemente overweight (comprada) na Argentina, espera que um novo ministro da economia seja nomeado nos próximos dias, que provavelmente começará a negociar com o FMI.

“A dolarização será muito difícil de fazer no curto prazo e até mesmo no longo prazo. Pode-se argumentar se essa é de fato a melhor opção para um regime cambial na Argentina.” É necessária uma disciplina fiscal rigorosa para manter de maneira crível uma política de dolarização.

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Graham Stock, da RBC BlueBay Asset Management:

“Milei precisará de uma boa dose de sorte para administrar um ajuste que será percebido pelos argentinos como dor a curto prazo por um pagamento incerto a longo prazo”, diz Graham Stock, estrategista sênior de dívida soberana de mercados emergentes na RBC BlueBay Asset Management.

O discurso da vitória “mantém viva a esperança de que seu governo conterá tecnocratas experientes da oposição e que ele será capaz de construir uma maioria no Congresso para avançar em seu programa legislativo. Esse programa legislativo precisa priorizar o ajuste fiscal.”

Eleitores de Mileidfd

Stuart Sclater-Booth, da Stone Harbor Investment Partners

“Na margem, é positivo ver uma grande derrota do kirchnerismo, mas a questão real é como a Argentina sai do buraco? Estamos vendo alguns nomes ortodoxos sendo apresentados para cargos no gabinete, mas são esses mesmos nomes do ‘time dos sonhos’ que cavaram o buraco em primeiro lugar. A primeira regra para buracos é parar de cavar”, diz Stuart Sclater-Booth, gestor de portfólio de dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners.

Walter Stoeppelwerth, da Gletir

Milei “tem um mandato popular com quase 11,5 pontos percentuais de margem de vitória, o que lhe confere um quociente de governabilidade que se estende além do baixo ponto de partida legislativo”, afirma Walter Stoeppelwerth, estrategista sênior com sede em Montevidéu na corretora Gletir.

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“Milei precisa afirmar seu compromisso com a coerência fiscal para apelar ao mercado e deve apresentar um governo de coalizão para proteger sua nova administração do peronismo e da resistência organizada à mudança.”

Leandro Galli, da J.P. Morgan Asset Management

“A nomeação de Milei abre a porta para um plano de consolidação fiscal potencialmente mais draconiano e reformas para enfrentar os desequilíbrios macroeconômicos acumulados ao longo dos anos.”, diz Leandro Galli, gestor de portfólio de dívida de mercados emergentes na J.P. Morgan Asset Management.

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