Mudamos de patamar como player dominante em LatAm, diz CEO da Vinci Partners

Em entrevista à Bloomberg Línea, Alessandro Horta conta os próximos passos da incorporação da gestora americana Compass e diz que agenda de M&A segue ativa, mas com outro foco

Alessandro Horta, cofundador e CEO da Vinci Partners (Foto: Divulgação)
12 de Março, 2024 | 05:10 AM

Bloomberg Línea — A Vinci Partners manteve negociações com a gestora americana Compass por quase dois anos até que chegasse ao desfecho da transação de incorporação anunciada na última semana. O negócio levará a gestora brasileira a se tornar um “player dominante na América Latina” em ativos alternativos, com alcance global, disse o CEO da Vinci Partners, Alessandro Horta, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Com mais de US$ 50 bilhões em ativos combinados, deixamos de ter uma dimensão que era mais brasileira e passamos a uma dimensão regional com relevância e também global”, afirmou o executivo. Segundo ele, nesse período em que conversou com a Compass e outras empresas, foi possível concluir que não existem muitos players com essa complementariedade de negócios e áreas de atuação.

A nova empresa combinada terá mais de US$ 150 milhões em receitas - “o que é relevante para uma empresa de prestação de serviços” - e mais de 600 colaboradores em nove países. O CEO da Vinci (VINP) disse que uma consultoria global fará o trabalho de identificação de sinergias e do processo de integração nos próximos meses. Por ora, o plano é manter a marca Compass nos mercados em que já atua.

“O importante desse deal são as dimensões que acreditamos que podemos tirar dele. A Vinci até então era uma empresa diversificada, com foco em alternativos e presença no Brasil, com o chamado local-to-local, ou seja, capital brasileiro investido no país, além do global-to-local e do local-to-global”, disse Horta.

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Leia mais: Vinci Partners vai incorporar Compass e passará a US$ 50 bi em ativos em LatAm

Com essas três estratégias, a Vinci chegou sozinha a cerca de US$ 14 bilhões em ativos sob gestão, o equivalente a R$ 70 bilhões. “Mas sentíamos falta de ter uma base maior de distribuição, e a expansão pela América Latina era uma escolha óbvia para nós desde a época do IPO [na Nasdaq em janeiro de 2021].”

Além dessa questão, segundo ele, faltam para investidores institucionais e high net worth (indivíduos muito ricos) internacionais opções de soluções para a América Latina. “Temos estratégias de infraestrutura, real estate, crédito privado para Brasil, que é uma parte importante da região, mas não responde por tudo. Percebíamos essa necessidade”, disse o CEO da Vinci.

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A Vinci Partners é uma das mais tradicionais e maiores gestoras independentes do país. Foi fundada em 2009 por Alessandro Horta e Gilberto Sayão - chairman da empresa -, ambos egressos do UBS Pactual, em que ocuparam posições de diretoria.

A Compass, fundada em 1995 em Nova York e hoje com presença em nove países, tem atuação destacada no global-to-local, o que vai possibilitar à Vinci acessar uma estratégia a mais, a global-to-regional. “Vamos poder oferecer para o investidor internacional o acesso à região da América Latina como um todo, além, é claro, do produto que faça sentido dentro de cada país”, disse Horta.

A gestora americana atua com três verticais de negócios principais: Asset Management, Wealth Management e Third Party Distribution, com mais de 300 profissionais e escritórios em Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai, além de Estados Unido e Reino Unido.

A nova instituição combinada vai superar o Pátria Investimentos, que tinha cerca de US$ 32 bilhões em ativos sob gestão ao fim de 2023, em tamanho na classe de alternativos na região.

A Vinci também se reforça no local-to-global, dada a presença da Compass em mercados como México, Chile e Colômbia, em que a alocação no exterior de investidores institucionais é uma prática disseminada.

“Há várias alavancas para tocar, que serão identificadas e sugeridas pela consultoria, nas áreas de produto, de operações, de distribuição”, disse Horta.

Potencial de aumento de receitas e novos M&As

Segundo ele, há pouca sobreposição entre a Vinci e a Compass, e a maior parte das sinergias deve vir da frente de receitas, e não de custos. “Vemos muito potencial de ganhos em receitas imediatas, em áreas em que temos a capacidade, mas eles não colocam [recursos] porque não têm track record.”

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Um desses casos, segundo ele, é o de fundos regionais. “Há uma oportunidade enorme.”

O CEO da Vinci disse que a tese de negócios para o investidor da ação negociada na Nasdaq não muda, mas que ele passa a ter acesso a uma empresa com área de atuação expandida, regional, o que é raro para gestoras brasileiras, mas comum pensando em casas voltadas para ativos alternativos na Ásia ou na Europa, por exemplo - o mercado americano, dado o seu tamanho, é um caso à parte.

Com a incorporação da Compass, novas transações “transformacionais” ficam on hold no curto prazo, mas “continuamos bastante ativos em operações em verticais específicas, como real estate, private equity, infraestrutura e crédito privado”.

“Estamos em praticamente todas as verticais, mas agora temos dimensão maior. Deixamos de olhar apenas o Brasil e podemos entrar em verticais em outros países da América Latina. O pipeline fica grande, mas são operações com mais foco e em que possamos trazer não apenas AuM [ativos sob gestão] como também times que sejam complementares aos nossos”, disse o CEO da Vinci Partners.

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Reforço no partnership

Horta disse também que o negócio endereça três pontos considerados fundamentais no segmento em que atuam, com o reforço em capital, ideias - o conhecimento para a estratégia - e talentos.

“Nesse tempo de conversas com a Compass, percebemos uma aderência cultural muito grande com a Vinci, uma empresa também fundada pelos sócios, com ética e uma visão estratégica convergente.”

Como reflexo essa identificação, mais de vinte sócios da Compass passarão a integrar o partnership da Vinci, incluindo os fundadores Manuel Balbontín e Jaime de la Barra, levando o total para mais de sessenta. Terão acesso às mesmas regras de lockup e vesting dos sócios atuais da gestora brasileira.

Os sócios da Compass terão o equivalente hoje a cerca de 18% do capital da Vinci, por meio da emissão de novas ações, além de uma parte menor de pagamento em dinheiro do caixa da gestora brasileira. Haverá um earn-out atrelado ao cumprimento de metas até 2028, que pode chegar a 7,5% do capital.

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Balbontín, atual presidente do conselho da Compass, e De la Barra, vice-chairman, vão integrar o conselho da Vinci.

Com a emissão de novas ações, a empresa cresce naturalmente de market cap, que está perto de US$ 610 milhões atualmente. “Eles [os sócios] acreditam muito na nova companhia e preferiram receber a maior parte do pagamento em ações do que em dinheiro.”

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Nos termos finais da transação, a Vinci, embora tenha um volume menor de AuM do que a Compass, se tornou a empresa que vai incorporar porque possui uma margem maior na operação com a gestão própria de ativos, o que resulta em um lucro maior, segundo explicou o executivo.

Horta disse que o objetivo é integrar ao máximo as duas empresas, dentro do respeito às estruturas regulatórias de cada mercado, “para que possamos explorar as melhores práticas para todas as pessoas e todas as estratégias”.

Os mais de 600 profissionais devem receber stock options como forma de alinhamento de interesses.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.