BTG Pactual dobra a aposta em estratégia para avançar em venture capital

Banco de investimento amplia tamanho de aportes em um número menor de startups por meio do seu programa boostlab, contam os executivos João Sá e Gabriela Lima à Bloomberg Línea

Sede do BTG Pactual na avenida Faria Lima, em São Paulo (Divulgação)
06 de Dezembro, 2023 | 05:11 AM

Bloomberg Línea — O BTG Pactual pretende replicar na frente de venture capital os resultados alcançados em mais de uma década em suas estratégias de private equity.

Para tanto, adota novos passos em sua principal estratégia nessa área, o boostlab, programa de aceleração de startups, contaram João Sá, responsável pela área de venture capital do BTG Pactual, e Gabriela Lima, responsável pelo boostlab, à Bloomberg Línea, em rara entrevista do banco sobre o tema.

Desde meados de 2022, o boostlab faz parte da área de capital privado do BTG Pactual (BPAC11), que é liderada pelo sócio e managing partner Renato Mazzola: é uma frente de negócios que inclui as estratégias para os ativos ilíquidos com capital proprietário e de terceiros.

O boostlab nasceu originalmente em 2018, estruturado por Mazzola como um programa “equity free” com estratégia proprietária que tinha o objetivo de levar inovação de startups para dentro do BTG, ao mesmo tempo em que fundadores tinham acesso ao ecossistema do banco.

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Foi uma fase que durou cinco anos, com dez batches e 76 startups aceleradas, em parceria com a ACE, hoje é uma investidora em early stage.

Na edição deste ano, que se encerrou no último dia 30 com um demo day e a apresentação das startups participantes para um público de investidores, sócios e convidados, o banco passou a investir nas startups selecionadas para o programa, com mudanças no relacionamento com as mesmas.

Para a próxima edição em 2024, cuja fase de inscrição das startups candidatas vai até o próximo dia 15, o valor aportado será de R$ 1 milhão, com limite de R$ 2 milhões, o dobro deste ano.

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“Ganhamos confiança no novo modelo. O aumento do cheque, que não é o principal na nossa proposta de valor, é uma sinalização do nosso comprometimento com a tese”, disse João Sá.

Uma das mudanças foi torná-lo anual, em vez de semestral, com o objetivo de estender o período de interação com as selecionadas, incluindo ganho de escala e oportunidades de negócios. O programa voltado para startups com produto e receita já validados dura oito meses, de abril a novembro.

Outra novidade deste ano foi reduzir o número de empresas para um total de seis, de um total de 539 inscritas, para que a atenção dedicada a cada uma pudesse aumentar.

“Da mesma forma como as nossas estratégias em private equity preferem portfólios concentrados, pois acreditamos que o alfa [retorno acima da média de mercado] nessas companhias é gerado pela atenção às teses e o compromisso de tempo com a gestão, decidimos levar esse conceito para o boostlab”, disse Sá.

“O objetivo da mudança foi ganhar mais profundidade nas discussões de gestão e produto das startups, para que o banco consiga trabalhar melhor com as empresas selecionadas”, completou Gabriela Lima.

Na edição deste ano no novo formato, foram selecionadas as startups Data Rudder, ElloX, Fluid, LastLink, Streamshop e Turivius. Todas continuam no portfólio do banco ao fim do programa, mas passam a contar com menos assessoria, para que possam caminhar com suas “próprias pernas”, mantendo, por outro lado, acesso ao ecossistema do banco, segundo ressaltou a executiva.

Casos específicos que façam sentido dentro da estratégia do banco podem ser alvo de um relacionamento mais aprofundado, com aumento de participação, explicaram. Um exemplo passado é a Celcoin. “Para bons negócios, sempre teremos apetite e capital disponível”, disse Sá.

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‘Valor não está no capital’

Por outro lado, alguns dos pontos bem avaliados que já existiam anteriormente no programa foram preservados, segundo explicaram os executivos.

“O banco continua a oferecer o acesso ao seu ecossistema e isso inclui aproximar as startups do seu capital intelectual especializado, como sócios e executivos que entendem das teses das companhias aceleradas. É uma atuação abrangente, do atacado ao varejo, que vai além do setor financeiro”, explicou Sá.

São mais de R$ 30 bilhões do banco sob gestão na frente de capital privado, o que inclui teses que vão de IoT (Internet das Coisas) a telecom e educação, disse.

Um exemplo é justamente uma das startups selecionadas no programa deste ano, a LastLink, que atua na chamada creator’s economy e que chamou a atenção por critérios como mercado endereçável, potencial de crescimento exponencial e, novamente, produto e receita validados, disse Lima.

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“Colocamos empreendedores em contato com profissionais de empresas de cada setor para que possam buscar valor e identificar os pontos mais apropriados de desenvolvimento durante o programa”, disse Sá, ressaltando que, na visão do banco, o valor do programa está justamente no acesso ao capital intelectual e ao ecossistema, mais do que no aporte realizado, classificado como simbólico.

Ele destacou que, ao realizar aportes nas startups, o BTG Pactual busca no fim do dia retorno financeiro a exemplo do que já acontece na área de capital privado. “O banco busca ganhos de capital, como em uma estratégia tradicional de private equity.”

”Não vamos deixar de querer trazer inovação para o banco, mas o que vai dizer se a estratégia foi bem-sucedida ou não é olhar para trás e calcular se o retorno foi condizente ao risco. É um olhar de investidor”, disse João Sá. Isso traz, segundo ele, um alinhamento com os demais acionistas e com a própria companhia, dado que o interesse econômico se sobrepõe ao estratégico no programa.

“É uma abordagem muito mais de um fundo do que a de um CVC [Corporate Venture Capital] tradicional. E a inovação é uma consequência esperada do investimento”, afirmou Gabriela Lima em referência ao “braço” de investimento de empresas em capital de risco.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.