Itaú negocia venda de operação na Argentina; mercado avalia possíveis razões

Bloomberg Línea — O Itaú Unibanco (ITUB4) afirmou estar em “negociação preliminar” para vender sua operação na Argentina para o Banco Macro, em fato relevante divulgado nesta manhã de terça-feira (6). O movimento foi visto como positivo pelo mercado devido ao agravamento da economia do país vizinho, que sofre um processo de hiperinflação e desconfiança crescente dos investidores - a mais recente de uma série de crises.

As ações do Itaú encerraram o pregão desta terça em alta de 0,70%, cotadas a R$ 27,34, com valorização acumulada da ordem de 4% em seis meses, quase em linha com o desempenho do Ibovespa (3%) no período.

A confirmação do maior banco do Brasil ocorreu após a imprensa argentina revelar planos sobre a negociação.

Listado nas bolsas de Buenos Aires e Nova York, o Macro é um dos principais bancos privados da Argentina, com extensa rede de agências no país, que atende desde pessoas físicas até grandes empresas, descreveu Renato Lulia Jacob, diretor de relações com investidores e inteligência de mercado do Itaú.

“Até o presente momento, o Itaú Unibanco não assinou documento vinculante em relação a essa possível alienação”, ressalvou o executivo no fato relevante.

Analistas de mercado ainda avaliavam a notícia nesta manhã. José Eduardo Daronco, analista da Suno Research, considerou a notícia positiva, em avaliação a pedido da Bloomberg Línea.

“O Itaú está buscando crescer em outras avenidas e enxergo essa possível alienação como positiva, dado que libera capital para outras avenidas [de crescimento]”, avaliou o especialista.

Ele lembrou que, nos últimos anos, embora o Itaú tenha crescido bastante nos países da América Latina, principalmente no Chile, a operação argentina ficou cada vez menos representativa no balanço do banco.

“Isso tem origem nos problemas estruturais que vive a Argentina, com uma inflação superando os 100% ao ano”, citou Daronco.

Já Guilherme Tiglia, sócio e analista de ações da Nord Research, destacou que, por enquanto, não há nada firmado entre o Itaú e o Macro, que se trata apenas de uma intenção de alienação.

“O desejo de saída do país vai em linha com o momento de alta instabilidade econômica enfrentada na Argentina, com inflação descontrolada e alta desconfiança dos investidores. Neste momento, a prioridade não seria o investimento/presença no país considerando todo esse contexto, liberando recurso para investimento em outras prioridades”, observou Tiglia.

Para o analista da Nord, o movimento do Itaú frente à alta instabilidade no país vizinho pode ser interpretada como positivo. “Ao mesmo tempo, é algo de menor representatividade quando olhamos para o ‘todo’. Vale ressaltar que o banco tem presença em outros países da América do Sul, e não é recente a sua presença na Argentina”, enfatizou.

Na América do Sul, o Itaú também tem operações no Uruguai, no Paraguai, no Chile e na Colômbia. No primeiro trimestre, o banco lucrou R$ 8,4 bilhões, alta de 14,6% em 12 meses, com ROE (retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio anualizado) de 20,7%. Foi um resultado favorecido pelo aumento da receita com prestação de serviços e seguros e crescimento da margem financeira com clientes devido ao efeito positivo da expansão da carteira, associado à gradual mudança do mix de produtos.

Presença desde 1979

O Itaú opera na Argentina desde 1979, com foco inicial em empresas de grande porte com ligações comerciais com o Brasil. Em 1995, o banco deu início a operações de varejo em Buenos Aires. Em 1998, aumentou a presença naquele país com a aquisição do Buen Ayre Bank, renomeado posteriormente para Banco Itaú Argentina.

O conglomerado oferece, por intermédio do Banco Itaú Argentina, produtos e serviços nos segmentos de grandes empresas (corporate), pequenas e médias empresas e varejo.

Em 2019, o Banco Itaú Argentina abriu duas agências digitais expandindo sua presença no mercado financeiro argentino.

Segundo o Banco Central da Argentina, em 31 de dezembro de 2022, era o 16º maior banco na Argentina em termos de total de empréstimos em pesos argentinos, o 11º. considerando apenas bancos privados, com uma participação no mercado de 2,1%.

-- Atualiza às 15h55 com comentário do analista da Nord, histórico do banco na Argentina

-- Atualiza às 17h20 com a cotação do fechamento do pregão

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