O que Cosan, Vale e Elon Musk têm em comum? Negócio de R$ 23 bi responde

Transição energética e avanço de carros elétricos podem impulsionar negócios da mineradora, que passa a ter a holding de Rubens Ometto como uma de suas principais acionistas

Mercado de carros elétricos continua a crescer e a atrair o interesse de players como a Cosan
07 de Outubro, 2022 | 07:14 PM

São Paulo — A Cosan (CSAN3), um dos principais grupos empresariais do Brasil, mirou o esperado protagonismo do Brasil no cenário mundial de transição energética ao anunciar a compra de 4,9% da Vale, com opção para chegar a 6,5% nesta sexta-feira (7). Trata-se de uma aposta em futuros ganhos com os investimentos da gigante do minério de ferro em negócios voltados para o promissor mercado de eletrificação.

O negócio é avaliado em cerca de R$ 23 bilhões a preços de ação da Vale desta sexta.

Nos últimos meses, a mineradora (VALE3) tem focado em transformar sua divisão de metais básicos (cobre e níquel) em uma nova alavanca de lucros, diante da maior demanda por baterias de veículos e sistemas de energias renováveis.

“A Vale é exatamente o tipo de empresa na qual buscamos investir: um ativo global único atuante em um setor fundamental para o Brasil e estratégico para a transição energética do mundo. A qualidade de suas reservas de minério de ferro e metais básicos (níquel e cobre) é imprescindível para viabilizar a descarbonização siderúrgica e a eletrificação”, disse Luis Henrique Guimarães, CEO da Cosan, em comunicado sobre a compra da fatia na mineradora.

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No último dia 29 de julho, em teleconferência com analistas de bancos, a administração da Vale já destacava o potencial de crescimento do seu negócio de metais básicos no longo prazo com o avanço da frota de veículos elétricos e também confirmava as discussões do assunto com seus acionistas. Na época, os executivos da Vale disseram, no entanto, que não havia ainda uma decisão sobre se haveria um IPO (oferta pública inicial de ações) para sua divisão de metais básicos.

O conselho de administração da companhia acabou aprovando, no final do mês passado, a reorganização das operações de metais básicos, com a transferência dos ativos de cobre para a Salobo Metais e a transferência dos ativos de níquel para uma nova sociedade a ser constituída pela Vale no Brasil. Os ativos de níquel e cobre continuarão a ser consolidados e detidos integralmente pela Vale.

No começo desta semana, o assunto voltou a motivar a disparada dos preços das ações com notícias de que a mineradora estava em negociações para vender uma participação minoritária de US$ 2,5 bilhões em seus negócios de metais básicos, a fim de aumentar sua produção de cobre e níquel para atender à crescente demanda impulsionada pela transição energética.

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Endividamento

O anúncio da aquisição das ações da Vale por volta das 14h30 provocou, no entanto, uma reação negativa do mercado aos papéis da Cosan, que passaram a cair com força. No fechamento, a queda foi de 8,72%.

Os analistas Felipe Ruppenthal e Rodrigo Diniz, da Eleven Financial colocaram sob revisão a recomendação para os papéis da Cosan, ressaltando preocupação com o aumento do nível de endividamento da companhia.

“A operação faz parte da estratégia de diversificação da companhia, que já atua nos setores de energia (Raízen), gás natural (Compass), lubrificantes (Moove) e transporte ferroviário (Rumo). Em nossa visão, a operação torna a operação da Cosan ainda mais complexa, sem muita sinergia com os demais negócios da companhia. Ainda, a companhia já está com uma alavancagem de 2,4x Ebitda, e a transação exigirá que a companhia se endivide ainda mais”, observaram os analistas.

Em agosto do ano passado, a Cosan já havia anunciado a decisão de investir em novos negócios, elegendo o segmento de mineração e logística. Acabou comprando do grupo chinês CCCC (China Communications Construction Company) um terminal portuário privado em São Luís, no Maranhão, para o escoamento de minério de ferro.

Também negociou a criação de uma joint venture com o empresário Paulo Brito, um dos acionistas da Aura Minerals (AURA33), para a exploração de minério no Pará a partir de 2025.

Futuro promissor

Quanto à ação da mineradora, Ruppenthal e Diniz mantiveram a recomendação de compra para o papel da Vale, com preço-alvo de R$ 112 - a ação caiu 0,05% hoje, para R$ 75,51. Ao analisar a reorganização das operações de metais básicos, ambos destacaram que a Vale visa maior eficiência nos processos e na gestão ao centralizar as operações de metais básicos no Brasil em duas sociedades.

“Este movimento mostra o compromisso da companhia no desenvolvimento do segmento que hoje corresponde a cerca de 10% de sua geração de caixa, mas tem um futuro bastante promissor em um cenário de transição energética. Acreditamos que pode ser um primeiro passo para uma futura oferta pública de sua divisão de metais básicos”, apontaram os especialistas da Eleven.

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Em maio, a Vale confirmou ter assinado um contrato com a Tesla (TSLA), líder mundial na produção de carros elétricos, para o fornecimento de longo prazo de níquel. A mineradora afirmou ainda, na ocasião, que o acordo com a empresa fundada pelo bilionário Elon Musk era ampliar a exposição da mineradora à indústria de veículos elétricos.

- Matéria corrigida para esclarecer que a joint-venture da Cosan para exploração de ferro no Pará foi negociada com o empresário Paulo Brito, e não com a Aura Minerals.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.