Quais as ações ‘blindadas’ e as mais sensíveis ao resultado das urnas?

Às vésperas do 1º turno, analistas e gestores apontam os setores que podem se comportar de forma mais resiliente às incertezas da disputa

Analistas e gestores citam setores como o de bancos como um dos menos expostos às urnas
29 de Setembro, 2022 | 08:23 AM

Bloomberg Línea — Um dos principais fatores de risco e incertezas para investidores na bolsa brasileira pode ter o seu desfecho nesta domingo (2 de outubro), ou ao menos um passo importante para que isso aconteça, se houver o afunilamento da disputa com a definição de um segundo turno.

Ainda que a cena externa tenha tido mais peso sobre os mercados neste ano do que em eleições anteriores, com temores sobre inflação, alta global dos juros, risco crescente de recessão e guerra da Rússia na Ucrânia, a incerteza com relação ao resultado eleitoral ainda pressiona os ativos domésticos.

Enquanto algumas empresas podem ser consideradas “blindadas” na bolsa ante o desfecho nas urnas, outras tendem a ser mais impactadas por causa da forte exposição ao governo. A Bloomberg Línea consultou gestores e analistas para saber como o mercado está posicionado.

Para Roberto Attuch, fundador e CEO da casa de análise Ohmresearch, o fim da disputa eleitoral deverá reduzir as incertezas e contribuir para a retomada do mercado de renda variável no Brasil.

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“Se não houver questionamento, uma repetição do 6 de janeiro [de 2021 nos Estados Unidos], com contestação das urnas, bem como se houver reconhecimento nacional e internacional, podemos ter uma recuperação [da Bolsa]”, afirmou, referindo-se à invasão no Capitólio antes da posse de Joe Biden.

Embora o Ibovespa (IBOV) apresente queda da ordem de 1% em setembro até ontem (28), o índice avança 3,5% no acumulado do ano.

A três dias do primeiro turno, Lula mantém a liderança sobre Bolsonaro em praticamente todas as pesquisas eleitorais. O líder de esquerda também figura à frente em cenários de segundo turno, que será realizado em 30 de outubro, se necessário.

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Confira, a seguir, as principais apostas de gestores e analistas na Bolsa por setores.

Ações “blindadas” ao resultado das urnas

Bancos

Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro, destaca que o setor bancário tende a ter bom desempenho independentemente dos resultados eleitorais, dado que pode se beneficiar tanto de um cenário de alta quanto de queda dos juros.

Em uma pesquisa com gestores locais feita pela XP, a maioria mostrou otimismo em relação ao setor. Dentre os nomes preferidos estão Itaú Unibanco (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), e, embora este último envolva riscos políticos, os papéis estão hoje sendo considerados baratos, segundo o levantamento. Menos gestores também mencionaram apostas nas ações do Bradesco (BBDC4).

Óleo e gás

Apesar da incerteza em torno do cenário macro, a maioria dos gestores consultados pela XP está posicionada no setor de óleo e gás. Além de Petrobras (PETR3; PETR4), empresas menores do setor como PetroRio (PRIO3), 3R Petroleum (RRRP3) e PetroReconcavo (RECV3) foram citadas por muitos como exposição ao setor sem risco político. Há, contudo, preocupação com os riscos de execução, segundo o levantamento.

Construtoras

Segundo analistas, as ações de incorporadoras voltadas ao segmento de baixa renda despontam como uma escolha defensiva no cenário atual. Com o ciclo de aperto monetário chegando ao fim, a percepção é que o setor tende a se beneficiar independentemente do resultado da disputa presidencial.

Isso porque um programa federal de apoio à habitação popular deve figurar como prioridade para ambos os candidatos líderes nas pesquisas – o atual Casa Verde e Amarela ou mesmo um modelo mais parecido com o Minha Casa, Minha Vida, seu antecessor nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

Em setembro até a terça-feira (27), as ações de Tenda (TEND3), Direcional (DIRR3) e MRV (MRVE3) acumulavam ganhos de 21%, 15,8% e 14,4%, respectivamente.

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“Não vejo nenhum candidato mudando o programa [habitacional] de maneira negativa. Se der Bolsonaro, é continuidade. Se for Lula, não deve mudar muito”, diz Ygor Altero, chefe de mercado imobiliário da XP, que cita a ação da Cury (CURY3) como preferida, seguida pela Direcional (DIRR3).

O JPMorgan (JPM) também avalia que as eleições presidenciais não devem impactar o segmento de baixa renda, à medida que “os principais candidatos apoiam o programa Casa Verde e Amarela”, segundo relatório divulgado no início do mês e assinado pelo analista Marcelo Motta.

No melhor cenário, diz o banco de investimento americano, subsídios adicionais poderiam ser anunciados. No pior cenário, podem ser autorizados novos saques do FGTS para estimular o PIB. O banco cita, em ordem de preferência, as ações de MRV, Direcional, Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3) e Tenda.

Ações mais sensíveis às eleições

Na ponta oposta, algumas empresas podem ser mais sensíveis ao desfecho das eleições. É o caso de estatais, como Petrobras e Banco do Brasil.

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Na pesquisa da XP com gestores, a grande maioria disse ver um movimento de preços muito binário no curto prazo para ambas as companhias na bolsa, a depender do resultado das urnas.

Também foram mencionados potenciais riscos políticos de eleições estaduais nos papéis da Sabesp (SBSP3).

Attuch, da Ohmresearch, afirma que, caso Jair Bolsonaro seja reeleito, poderá haver discussões sobre uma possível privatização da Petrobras, enquanto no caso de Lula, haverá uma especulação sobre uma eventual mudança da política de preços da companhia.

A avaliação é compartilhada por Silvio Cascione, diretor da Eurasia no Brasil. No caso de um segundo mandato de Bolsonaro, ele afirma que este seguiria a agenda promovida pelo ministro Paulo Guedes, isto é, de colocar à venda algumas estatais.

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“A Petrobras seria o carro-chefe, focando em sua atividade mais lucrativa e maximizando o pagamento de dividendos”, disse durante o Bloomberg Línea Summit, no último dia 14 de setembro.

Caso Lula seja eleito, contudo, a estratégia seria a de atribuir às estatais papel relevante na indução do crescimento econômico, destaca Cascione, ganhando espaço, inclusive, no mercado de atuação da Eletrobras (ELET3; ELET6), cujo controle foi vendido neste ano pela União.

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“A Petrobras assumiria um papel importante não só no setor de óleo e gás, mas os petistas têm dado um recado de que ela atuaria também em setores nos quais a Eletrobras tem atuação, como energias renováveis”, disse. Esse movimento, segundo ele, significaria menos dividendos e mais foco no longo prazo em termos de resultados.

Diante da maior volatilidade dos papéis, a gestora britânica Schroders optou neste mês por reduzir a exposição a ações de companhias estatais brasileiras, após uma forte recuperação dos papéis nos últimos meses, embolsando lucros antes da eleição.

– Com informações da Bloomberg News

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.