Atraso de gasoduto da Petrobras faz Brasil comprar gás mais caro

Custos com importação de gás mais que dobraram no país durante os primeiros sete meses deste ano, para US$ 3,7 bilhões

A Petrobras está se posicionando para comprar volumes adicionais de GNL para atender às suas demandas contratuais este ano
Por Mariana Durao e Peter Millard
19 de Agosto, 2022 | 03:35 PM

Bloomberg — A maior economia da América Latina está sendo obrigada a competir por importações de gás natural mais caras após a Petrobras (PETR4) não conseguir finalizar um importante gasoduto que aumentaria o abastecimento doméstico em 40%.

A Petrobras postergou deste ano para 2023 o início de uso do gasoduto Rota 3, revelou a empresa discretamente no mês passado em um documento. Isso significa que a companhia está pagando preços mais altos pelo gás da Bolívia e é forçada a disputar cargas marítimas com compradores europeus.

Embora os volumes de importações de gás natural sejam menores, graças à abundância de energia hidrelétrica após o país emergir de uma seca, os custos com esse tipo de importação mais que dobrou no Brasil durante os primeiros sete meses deste ano, para US$ 3,7 bilhões. Ainda assim, o país pode precisar aumentar as importações de GNL até o final do ano se chover pouco no período úmido, disse Rivaldo Moreira Neto, sócio e CEO da consultoria Gas Energy.

Importação de gás natural pelo Brasil em 2022dfd

O atraso do gasoduto da Petrobras não poderia vir em pior momento. A invasão da Ucrânia pela Rússia abalou o mercado global de gás natural, levando os compradores a pagar mais para garantirem algumas escassas cargas antes do inverno do hemisfério norte. O Brasil está cada vez mais exposto a riscos de abastecimento conforme a produção da Bolívia diminui e o país torna-se um exportador não confiável. O resultado serão preços de energia mais altos em um país já atingido pela inflação.

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“Se o Brasil tiver um período de chuvas não muito bom corremos o risco de ter que importar mais durante o auge do inverno na Europa”, disse Moreira. “Os 10-12 milhões de metros cúbicos da primeira fase da Rota 3 trariam alívio.”

A Petrobras está se posicionando para comprar volumes adicionais de GNL para atender às suas demandas contratuais este ano depois que o atraso do duto removeu uma fonte alternativa de fornecimento, disse a empresa em resposta a perguntas.

O Brasil depende da hidroeletricidade para mais de 60% de sua produção de energia. No ano passado, uma seca histórica quase forçou o país a racionar energia elétrica. Os reservatórios nacionais agora estão cheios, mas a maior economia da América Latina vem sofrendo mais frequentemente com a escassez de chuvas como resultado das mudanças climáticas.

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O atraso na operação do gasoduto é o mais recente revés em um projeto de refinaria no Rio que tem um histórico de escândalos envolvendo propina, custos excedentes e baixas contábeis. Mesmo com o gasoduto Rota 3 pronto, a empreiteira responsável abandonou as obras de conclusão da unidade de processamento de gás natural (UPGN) do Polo Gaslub - como é conhecido o complexo, no passado chamado de Comperj - e a Petrobras teve que abrir uma licitação para substituí-la.

“Eles estão perdendo um suprimento equivalente ao da Bolívia porque não temos a Rota 3”, disse Bruno Pascon, sócio e diretor da CBIE, uma consultoria de infraestrutura energética. “Se o Brasil não investir em segurança energética, os preços do gás natural vão ficar complicados.”

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