Por que o Guia Michelin suspendeu as avaliações de restaurantes brasileiros

À Bloomberg Línea, a empresa disse que não há prazo para que as avaliações sejam retomadas; as últimas atualizações no país são de 2020

A empresa alega que o contexto tem “impossibilitado que os inspetores avaliem de forma justa e atualizem as seleções de restaurantes”
24 de Julho, 2022 | 08:00 PM

Bloomberg Línea — Ainda sentindo os efeitos da pandemia de coronavírus, o Guia Michelin, uma das classificações mais importantes da gastronomia, decidiu suspender as avaliações dos restaurantes brasileiros no eixo Rio-São Paulo, onde o trabalho dos inspetores do guia se concentra.

Em nota, a empresa diz que o trabalho foi “profundamente impactado” por conta da pandemia. Além disso, aliado à incerteza local, o contexto tem “impossibilitado que os inspetores avaliem de forma justa e atualizem as seleções de restaurantes” seguindo as recomendações que respeitam os compromissos centrais do guia.

No ano passado, por conta do fechamento da maior parte dos restaurantes devido às restrições impostas pela covid-19, o guia gastronômico também não conseguiu avaliar as melhores casas do Brasil. A última edição atualizada foi publicada em setembro de 2020 – e assim deve se manter por algum tempo.

Segundo nota enviada à imprensa, a empresa afirma que o atual contexto local também tem impedido que a publicação desempenhe plenamente seu papel de fomentador turístico, cultural e econômico no Brasil. No momento, o Guia busca “encontrar apoio para retomar suas atividades de seleção e recomendação o mais breve possível”.

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Em resposta à Bloomberg Línea, a empresa disse que “o Guia Michelin espera retornar as atividades no Brasil o mais breve possível”, mas ainda sem previsão para que isso aconteça.

Para Fernando Reis, CEO da Restaurant Week, festival gastronômico que acontece no país desde 2007 em 15 cidades brasileiras, o mercado local vai perder muito com a suspensão das avaliações.

“Não vejo um motivo claro nos argumentos da empresa. Quem mais perde são os que buscam o reconhecimento, que é um sinônimo de qualidade. Me preocupa porque a certificação é um grande diferencial”, diz.

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Reis destaca também que, sobre a retomada do setor no pós-pandemia, há dois diferentes cenários a serem considerados, com casas reduzindo a operação e, de outro lado, grupos com maior estrutura abrindo novas casas. “Na balança, o mercado está em crescimento”, afirma.

Por enquanto, os estabelecimentos brasileiros já previamente selecionados pelo Guia Michelin continuarão a ser promovidos com suas distinções nas plataformas digitais do guia, sites e aplicativos, onde o público pode ter acesso às recomendações baseadas em visitas anteriores, feitas pela equipe de inspeção.

Contexto

Lançado no ano de 1900 na França, o Guia Michelin se estabeleceu, ao longo do tempo, como uma referência de recomendações dos melhores restaurantes e hotéis em todo o mundo.

Presente em 39 destinos internacionais, as seleções do guia destacam talentos locais e internacionais, tradições culinárias e culturas gastronômicas, e contam com três compromissos-chave, que são expertise, independência e consistência.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.