Estrangeiro aposta R$ 62,6 bi em ações brasileiras no 1º bimestre

Em fevereiro, o ingresso de capital externo conseguiu se manter no patamar de R$ 30 bi, apesar da eclosão do conflito geopolítico

Ações ligadas às cotações de commodities, como os papéis da Vale e da Petrobras, apresentam valorização neste ano e contribuem para o desempenho positivo do Ibovespa
03 de Março, 2022 | 11:37 AM

São Paulo — O investidor estrangeiro já aplicou cerca de R$ 62,6 bilhões na Bolsa brasileira nos dois primeiros meses do ano, sendo R$ 32,5 bilhões em janeiro e R$ 30,1 bilhões em fevereiro, segundo dados da B3.

Esse saldo positivo, resultado de compras de ações superiores às vendas no período pelos estrangeiros, contribui para a trajetória positiva do Ibovespa no primeiro bimestre de 2022. Em janeiro, o principal índice do mercado acionário nacional (IBOV) valorizou 6,98%. Em fevereiro, mês da eclosão do conflito bélico entre Rússia e Ucrânia, o ritmo da alta mensal foi bem menor (0,89%).

“Enquanto 2021 foi negativo para o mercado de renda variável brasileiro, especialmente o de ações, 2022 promete ser bastante diferente para os países emergentes, em especial, para o Brasil, apesar das eleições em outubro”, aposta Paulo Bueno, sócio e gestor na Santa Fé Investimentos.

Em 2021, o Ibovespa acumulou perda de 11,93%, encerrando o segundo ano da pandemia da covid aos 104.822 pontos (ontem fechou aos 115.173 pontos). No ano passado, o índice cravou uma nova máxima histórica (130.776) no dia 7 de junho. A mínima do ano foi registrada em 1º de dezembro (100.774 pontos, menor patamar desde 5 de novembro de 2020), quando os EUA confirmaram o primeiro caso da variante ômicron, despertando receios de risco à retomada econômica global.

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Na avaliação da Santa Fé, gestora de fundos independente, o Brasil virou, neste ano, o destino dos recursos dos investidores estrangeiros em busca de ganhos com as elevadas taxas de juros (Selic a 10,75% ao ano) e também foco de oportunidades de investimentos no mercado de ações local com múltiplos extremamente convidativos, os mais baixos em décadas, além de ter se tornado uma das nações que mais vacinaram sua população e, apesar da ômicron, a pandemia por aqui parece estar sob controle.

A menor letalidade da covid reforça a avaliação de que o pior já passou na gestão da maior crise sanitária do século. Até ontem (2), o país tinha 82,6% de sua população vacinada com ao menos uma dose (única ou 1ª dose), 72,3% com 1º ciclo vacinal completo (dose única ou 2º dose) e 30,2% com dose de reforço, segundo dados do Ministério da Saúde. A média móvel de óbitos caiu 37,3% em relação a 14 dias, enquanto o ritmo de novos casos recuou 58,5%. Os estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, voltaram a cogitar o fim da obrigatoriedade do uso de máscara de proteção em locais públicos.

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"Caso a economia vá bem nos EUA ou ande mal das pernas globalmente, essa é uma tendência que se percebe. Mas o que se prevê é que o país norte-americano se estabilize em 2022 e que os investidores passem a ficar atentos para outros mercados, como Brasil, Índia, Rússia, África do Sul e China”, diz Paulo Bueno, sócio e gestor na Santa Fé Investimentos

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Risco eleitoral

O investidor estrangeiro vê a moeda brasileira desvalorizada (antes da pandemia o dólar estava abaixo dos R$ 4,50 e depois oscilou próximo de R$ 6), somada aos múltiplos baixos da Bolsa e ao cenário de juros elevados. “O Brasil ficou muito barato por motivos políticos e principalmente fiscais. Entretanto, as taxas de juros altas aqui atraem os investidores. Isso salta aos olhos internacionais. Já aconteceu outras vezes, ou seja, existem evidências anteriores. A Bolsa brasileira se destacará em dólar”, avalia Bueno.

O clima de pré-campanha eleitoral indicando uma nova polarização entre esquerda e direta é relativizado. Sobre a disputa presidencial entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), líder nas últimas pesquisas de intenção de voto, o gestor da Santa Fé Investimentos considera que, apesar do cenário potencialmente complicado, o mercado conhecendo bem os dois candidatos não deverá apresentar grandes solavancos. “Estamos otimistas com o Brasil e vemos espaço para uma boa valorização nas ações brasileiras”, comenta.

Com a Rússia diante de uma crise com a Ucrânia e a China com questões regulatórias, o Brasil passou a ser a bola da vez para os investidores, segundo a Santa Fé. “Nossos ativos ficaram extremamente baratos e somos um dos maiores exportadores de commodities do mundo. Acreditamos que o Brasil certamente será o grande destino desse fluxo”, disse Bueno.

As ações da Vale e da Petrobras, duas blue chips atreladas às cotações de commodities (minério de ferro e petróleo, respectivamente), ilustram esse movimento positivo. PETR4 já acumula alta superior a 21% neste ano. VALE3 já valorizou mais de 27% em 2022.

“O movimento de ingresso de capital estrangeiro na Bolsa brasileira deve continuar no curto e médio prazo”, aposta o gestor.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.