Inflação: Confira insumos importados da Rússia que terão preços pressionados

CEO da Logcomex, startup de big data para comércio exterior, diz que consumidor perde, já que oferta pode ficar escassa no país

Pan al vapor
24 de Fevereiro, 2022 | 09:41 AM

São Paulo — O conflito bélico entre Rússia e Ucrânia pode impulsionar a inflação no Brasil com o encarecimento de insumos, como trigo e milho, segundo especialista. A Rússia é um dos principais produtores de trigo e milho do mundo, o que poderia impactar diretamente as cotações desses produtos e a vida do consumidor brasileiro.

“Caso o conflito faça com que o fornecimento dessas commodities seja freado, o produto brasileiro ganha, já que o preço delas deve encarecer. Por outro lado, o consumidor perde, já que com as mercadorias sendo vendidas para o exterior a oferta no Brasil fica mais escassa”, diz Helmuth Hofstatter Filho, CEO da Logcomex, startup de big data para comércio exterior.

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Há outros insumos importantes na pauta de importações do Brasil. Segundo dados da Logcomex, a Rússia foi a principal fornecedora de cloreto de potássio para o Brasil em valor transacionado, com US$ 1, 4 bilhão (34% do total) em 2021, e a segunda em peso transacionado com 3,84 mil toneladas (29 do total).

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“Quando falamos em comércio exterior, a Rússia, sem dúvidas, é um dos principais parceiros comerciais brasileiros ao longo dos últimos anos. Só no ano passado, o país estava em 10º lugar entre os países que o Brasil mais importou”, diz o CEO da Logcomex.

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Entre os principais produtos estão os insumos para a produção de fertilizantes. Para Helmuth, isso é motivo de alerta.

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“Se analisarmos os principais produtos importados da Rússia, vemos cloretos de potássio, amônio e uréia, que são componentes importantes para a produção de fertilizantes. Dessa maneira, caso o conflito acarrete na redução do fornecimento desses suprimentos, a tendência é o setor do agronegócio sofrer com isso”, avalia.

Confira os 10 produtos russos mais importados pelo Brasil em 2021

  1. Cloretos de potássio - US$1.444.217.232,45
  2. Diidrogeno-ortofosfato de amônio - US$889.095.810,39
  3. Uréia - US$ 514.303.474,02
  4. Hulha betuminosa - US$ 411.738.423,17
  5. Nitrato de amônio - US$ 397.119.747,44
  6. Adubos (fertilizantes) minerais ou químicos, que contenham os três elementos fertilizantes: Nitrogênio (azoto), fósforo e potássio - US$354.633.490.25
  7. Alumínio - US$ 138.708.682,55
  8. Hulha antracito - US$ 66.084.187,48
  9. Malte - US$ 64.032.076,51
  10. Produtos laminados planos de ferro ou aço - US$ 54.417.823,68

Expectativa de inflação

Hoje, o Banco MUFG Brasil, controlado pelo grupo financeiro Mitsukishi UFJ Financial, revisou para cima sua projeção para a inflação oficial do Brasil, citando a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia e o impacto no preço de insumos.

Antes, a previsão do banco era de IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 4% em 2022. Agora subiu para 5,5% para todo este ano.

“Os principais fatores para essa revisão são: aumento da inflação de alimentos devido ao clima desfavorável afetando culturas relevantes como soja, milho e arroz; pressão adicional sobre os preços dos combustíveis em meio ao contínuo aumento dos preços do petróleo no exterior e risco de níveis ainda mais altos em caso de escalada da guerra entre a Rússia e a Ucrânia; melhor controle da pandemia nos próximos meses levando a algum repasse de custos para os preços dos serviços; escassez de insumos ainda impactando os preços industriais nos próximos meses”, pontuou o banco, em nota.

Para Ricardo Leite, estrategista-chefe da Diagrama Investimentos, o panorama mundial da economia fica instável e afeta todas as populações ao redor do planeta, e o consumidor vai sentir seu poder de compra diminuir cada vez mais.

“No Brasil, a inflação deverá permanecer como um problema por um tempo, no começo a inflação estava concentrada em alimentos e combustíveis, mas agora vemos se espalhar por diversos setores influenciando uma pressão em cadeia”, comentou, em nota.

A escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia pode dificultar os esforços do Banco Central de controlar as pressões inflacionárias, tendo efeito na condução da política monetária. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC se reúne nos próximos dias 15 e 16 de março. Hoje a taxa Selic está em 10,75% ao ano.

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Guerras são essencialmente inflacionárias para o mundo. Ao mesmo tempo, os riscos recessivos de um novo choque no petróleo deixam os bancos centrais em corner, especialmente em economias como EUA e Europa. Para os emergentes, há pouco espaço para ser condescendente com a inflação, o que deveria manter o plano de voo do Copom para a Selic”, citou análise dos economistas do Banco Original, Marco Caruso (economista-chefe), Lisandra Barbero e Eduardo Vilarim.

As próximas decisões dos bancos centrais nos países desenvolvidos e emergentes devem considerar o agravamento do cenário geopolítico com os últimos acontecimentos. “A guerra regional intensificará as pressões inflacionárias globalmente, e os mercados de energia ainda poderão ver outro aumento maciço depois que os EUA e seus aliados responderem. Os riscos de estagflação complicarão o que os bancos centrais farão daqui para frente, mas agora os investidores estão vendendo ações e acumulando commodities”, observou Edward Moya, analista de mercado financeiro da OANDA em Nova York.

(atualiza às 12h com notas do MUFG Brasil, da Diagrama Investimentos, do Banco Original e da OANDA)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.