País mais pobre da UE não consegue auxílio para pandemia

A Bulgária tem 6,3 bilhões de euros a receber, mas a instabilidade política é um dos obstáculos

O não cumprimento de metas climáticas também é um fator decisivo
Por Slav Okov
10 de Setembro, 2021 | 04:03 PM

Bloomberg — O governo improvisado da Bulgária, país mais pobre da União Europeia no qual a taxa de vacinação contra Covid-19 é a mais baixa do bloco, está lutando para acessar bilhões de euros em auxílio para a pandemia, vindo de Bruxelas, enquanto se prepara para uma nova onda do vírus.

Juntamente com os Países Baixos, o país dos Bálcãs com 7 milhões de habitantes é um dos dois únicos membros da UE a não apresentar um plano definitivo para gastar sua parte do auxílio de mais de 700 bilhões de euros do bloco para recuperação econômica.

O país tem em jogo 6,3 bilhões de euros em auxílio, que está se tornando cada vez mais crucial para sua economia à medida que as mortes – cuja taxa já é a mais alta per capita da UE – começam a aumentar.

O problema para o gabinete provisório em Sófia é que, com a Bulgária próxima da terceira eleição geral em menos de um ano, ele não pode depender da ajuda de um parlamento fragmentado para atender às demandas de Bruxelas de renovação do judiciário e de cumprimento das metas de descarbonização.

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“É muito difícil para um governo interino com um horizonte de dois a quatro meses resolver questões tão grandes, por exemplo na área do estado de direito, que talvez exija uma maioria constitucional em um futuro parlamento”, disse Atanas Pekanov, primeiro-ministro interino responsável pela gestão do financiamento da UE, em uma entrevista nesta semana.

“Atingir o equilíbrio perfeito teria sido mais fácil se tivéssemos qualquer visão ou opinião do parlamento”, disse Pekanov, que pretende apresentar o plano “nas próximas semanas”. “Nós não tivemos, então temos de esperar as negociações. Elas determinarão o cronograma para recebermos o financiamento”.

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Do contingente oriental da UE, não é apenas a Bulgária que está testemunhando o atraso do auxílio para a pandemia. Mas os obstáculos para a Hungria e a Polônia estão atrelados a preocupações com o estado de direito após anos de confrontos com Bruxelas.

A Bulgária também enfrentou anos de escrutínio da UE sobre sua incapacidade de combater a corrupção de alto nível e estabelecer tribunais independentes. Na verdade, seu atual impasse político decorre de protestos anticorrupção que eclodiram em 2020.

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Contudo, há outras questões em jogo, incluindo a dependência do carvão para cerca de 40% da produção de energia do país. Isso torna a Bulgária o quarto maior consumidor de carbono da UE e complica a meta do bloco de alcançar a neutralidade climática até 2050, com temores de possíveis fechamentos de minas e fábricas em algumas das regiões mais pobres do bloco.

“Temos de fazer muito mais para lidar com as mudanças climáticas, reduzindo a intensidade do uso de carbono na economia”, disse Pekanov. “Mas não podemos ir muito rápido se não lidarmos com as preocupações dos cidadãos. Esse é nosso limite”.

Do lado fiscal, a Bulgária é mais forte, ostentando um dos menores déficits orçamentários e índices de dívida pública da UE. O país pretende adotar o euro em 2024, e o governo está trabalhando para cumprir os requisitos técnicos para manter esse prazo “viável”, disse Pekanov.

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