Alarme de juro mais alto no Reino Unido desafia contas públicas

Anúncio do banco central do país na quinta-feira deve resultar em um aumento gradual das taxas de juros

Embora investidores não esperem nenhum movimento do BOE até o próximo ano, a escala de financiamento do Reino Unido deixou as contas públicas seis vezes mais expostas
Por David Goodman (London) - Alex Morales e Libby Cherry
06 de Agosto, 2021 | 02:37 PM

Bloomberg — O plano do ministro das Finanças do Reino Unido, Rishi Sunak, de reequilibrar as contas públicas atingidas pela pandemia acaba de ser desafiado pela contagem regressiva do Banco da Inglaterra para encerrar a era dos juros em mínimas históricas.

O anúncio do banco central na quinta-feira de que as autoridades precisarão apertar de forma moderada a política monetária nos próximos anos aponta para uma dor de cabeça duradoura para o ministro.

A estratégia resultará em um aumento gradual das taxas de juros e, por fim, a reversão de posições de quase 900 bilhões de libras (US$ 1,3 trilhão) em títulos públicos comprados no âmbito do programa de flexibilização quantitativa para estimular a economia.

Isso eliminaria o suporte no qual Sunak se apoia para limitar o custo da dívida contraída para suavizar o impacto da Covid-19. Embora investidores não esperem nenhum movimento do BOE até o próximo ano - e ainda assim apenas com pequenos aumentos -, a escala de financiamento do Reino Unido deixou as contas públicas seis vezes mais expostas às mudanças nas taxas de juros do que antes da crise financeira, de acordo com o Escritório de Responsabilidade Orçamentária.

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Dado esse cenário, o Tesouro britânico pode enfrentar custos mais elevados para pagar o serviço da dívida, ao mesmo tempo em que Sunak trabalha para manter o déficit sob controle. É uma posição desconfortável para um ministro conservador que descreve como “dever sagrado” a tarefa de manter as finanças públicas sob controle e considera a dívida um anátema para sua ideologia política.

“Em tempos difíceis, a QE (flexibilização quantitativa) teve o efeito colateral de beneficiar o governo”, disse Rory MacQueen, economista do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social, em Londres. “É natural que, quando isso é revertido, o governo não receba tanto benefício fiscal da QE.”

Sunak conta com uma recuperação econômica sustentada para recompor as receitas fiscais e ajudar a equilibrar as contas nos próximos anos. Ele também sinalizou repetidamente que está monitorando os pagamentos de juros devidos sobre a dívida crescente do país.

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“À medida que as taxas de juros e a inflação mudam, isso tem impacto sobre nossa dívida”, disse Sunak ao GB News em junho. “Esse é um dos muitos riscos com os quais devo me preocupar.”

O Tesouro se esquivou do debate, observando que Sunak já começou a se preparar para uma mudança em direção a custos de financiamentos mais normais.

“Mudanças nas taxas de juros estão entre uma série de riscos para as finanças públicas que monitoramos de perto, e é por isso que, no orçamento de março, o governo definiu as ações sendo tomadas para garantir que as finanças públicas voltem a uma posição sustentável”, disse um porta-voz do Tesouro.

O déficit do Reino Unido foi de quase 300 bilhões de libras nos 12 meses até março de 2021, o equivalente a mais de 14% do PIB. Para o ano fiscal corrente, a última previsão do Escritório de Responsabilidade Orçamentária previu a relação dívida/PIB acima de 10%, superando o pior resultado registrado na crise financeira global.

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