Rodadas da semana: Deco.cx, Conta Simples, Turbi e Fluna acertam captações

Quatro startups brasileiras de diferentes áreas de atuação e estágios de vida distintos atraem fundos de venture capital; foi o caso da Maya Capital, que liderou a rodada na Deco.cx

Investidores e empreendedores iniciam o ano com o mercado ensaiando uma retomada, a exemplo do visto na CES em Las Vegas (Foto: Bridget Bennett/Bloomberg)
13 de Janeiro, 2024 | 07:35 AM

Bloomberg Línea — O ano de 2024 começa aquecido em rodadas em startups brasileiras. Uma delas foi a Deco.cx, uma plataforma de construção de experiência digital, que captou US$ 2,2 milhões em uma rodada Safe Seed liderada pela MAYA Capital, gestora de venture capital de Mônica Saggioro e Lara Lemann, seguida por FJLabs, Lanx e Crivo Ventures.

Houve também captações de startups de mobilidade (Turbi), de fintech (Conta Simples) e de TI (Fluna) (veja mais abaixo).

Os fundadores da Deco.cx, Guilherme Rodrigues (CEO), Luciano Júnior (CTO) e Rafael Crespo (CMO), disseram que a decisão de optar pelo modelo chamado de Simple Agreement for Future Equity (Safe) foi fundamentada pela agilidade e pela estrutura já existente da empresa.

O Safe é um instrumento financeiro usado em transações de capital de risco, no qual o investidor fornece capital à startup em troca de um direito futuro de receber ações da empresa em uma rodada.

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Ou seja, o Safe não representa uma participação acionária imediata.

Isso permite que as partes evitem a necessidade de avaliar a empresa imediatamente e simplifica o processo de investimento. Segundo os fundadores da Deco.cx, esse modelo tem sido adotado por startups early stage no Brasil e é indicado por escritórios de advocacia que trabalham com essas transações.

Conheça mais das empresas que levantaram fundos nos últimos dias:

Deco.cx

A história da Deco.cx começou na VTEX (VTEX), uma das maiores empresas de tecnologia do país, em que Guilherme Rodrigues trabalhou na equipe de experiência do usuário e no desenvolvimento de ferramentas para desenvolvedores. Mais tarde, ele se tornou um dos fundadores e CEO da Deco.cx.

Foi na VTEX que Rodrigues passou a trabalhar com Luciano Júnior e Rafael Crespo. “Nós três tínhamos uma ambição de fazer alguma coisa que impactasse a região”, disse Crespo.

“Nós nos posicionamos como uma plataforma de construção de experiência digital. Fazemos site, aplicativo”, disse. A startup fornece uma plataforma de front-end de código aberto para a construção de lojas online de forma rápida, mais simples e menos dispendiosa.

A empresa atraiu mais de 65 clientes como Grupo Reserva, Osklen e Zee.Dog.

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A proposta da Deco é ser uma alternativa ao Wix e ao Wordpress, de modo que não seja necessário contar com uma equipe de desenvolvedores mais experientes - programadores juniores já conseguem trabalhar em cima da página estruturada pela Deco. O objetivo, portanto, é simplificar o processo de construção de experiências digitais complexas, tornando-o acessível a uma ampla gama de desenvolvedores.

A empresa cobra uma mensalidade em cima do volume de tráfego na página: US$ 10 para cada 10.000 visualizações da página. “Lidamos com pico de demanda, o que é um problema na área de e-commerce. Em uma promoção de Black Friday, se você não tiver um servidor de infraestrutura muito robusto, o site vai cair”, disse Crespo.

A Deco trabalha com 36 agências parceiras e, para quem não tem time interno de desenvolvedores, a startup possui um ambiente no Discord que conta quase 2.500 desenvolvedores para tarefas.

“Temos essa ambição de atender uma demanda global que vem da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia, com mão de obra brasileira, do interior, que hoje não tem acesso a essa demanda”, disse Crespo.

Em outubro de 2022 a Deco abriu uma rodada anjo em que participaram justamente donos de agências digitais, além dos sócios fundadores da VTEX, Geraldo Thomaz e Mariano Faria. “Até maio do ano passado, captamos US$ 600 mil só com indivíduos.”

A empresa começou a captar com a MAYA Capital no começo de agosto e fechou os investidores em outubro. O dinheiro, segundo Rodrigues, será aplicado em marketing e na expansão para os Estados Unidos. “Estamos com 25 pessoas na equipe, não devemos contratar muito mais do que isso. A prioridade é chegar ao breakeven”, disse Rodrigues.

A Deco planeja aproveitar a entrada nos EUA como uma forma de acelerar ainda mais o desafio tecnológico no Brasil, estabelecendo uma ponte entre a demanda global e o talento local.

Turbi

A Turbi, startup de locação e assinatura de veículos, anunciou uma captação de R$ 150 milhões liderada pela Arc Capital, pela Reag Investimentos e pela Clave Capital. O montante será usado para a compra de novos carros, o que permitirá o aumento da frota própria, contribuindo para elevar a rentabilidade da empresa, que já incomoda o setor de locação, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea.

A startup desenvolveu uma plataforma que permite o aluguel de veículos por hora. A reserva é feita por aplicativo e o cliente desbloqueia o carro por meio do celular: pode utilizar pelo tempo que quiser, mediante devolução no mesmo local da partida. A ideia é pagar pelo uso, com seguro e combustível.

O cofundador da Turbi Daniel Prado disse que 90% desse valor será usado para a compra de novos carros, o que vai representar um incremento de 45% na frota.

“Atualmente, estamos com cerca de 3.600 carros e vamos ultrapassar os 5.300 veículos com a aquisição e a ativação dos novos modelos”, disse Prado à Bloomberg Línea.

Segundo a Turbi, a captação também permite à empresa explorar novas frentes de negócios e expandir suas operações para outras cidades, consolidando sua presença no mercado nacional.

Segundo Prado, após essa aquisição a startup atinge 3.500 veículos próprios. Com esse tamanho de frota, a Turbi caminha para se consolidar como uma locadora de médio porte.

Conta Simples

A Conta Simples captou US$ 41,5 milhões em uma rodada Série B. A fintech brasileira, que oferece soluções de gestão financeira para pequenas e médias empresas, disse que recebeu interesse de investidores, o que levou à decisão estratégica de buscar capital adicional.

A rodada foi liderada pela Base10 Partners e contou com Valor, Jam Fund, Y Combinator, Big Bets, Broadhaven e Domo.VC. Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Conta Simples, Rodrigo Tognini, destacou que a iniciativa para levantar fundos não estava inicialmente nos planos.

“Entramos em 2023 com a ideia de atingir o breakeven no fim de 2024, início de 2025. Começamos com esse objetivo, mas o que aconteceu foi que 2023 foi um ano excepcional. Crescemos tanto em receita de maneira expressiva quanto conseguimos controlar muito bem a estrutura de despesa e custo. Consequentemente, chegamos ao breakeven em outubro de 2023″, disse Tognini.

O empreendedor disse que, embora a Conta Simples sempre tenha operado de maneira austera em relação ao capital, o crescimento rápido em 2023 impulsionou a necessidade de novos investimentos.

Fluna

A Fluna, startup de automação e integração de processos, fechou sua primeira captação externa. A Hiker Ventures, fundo de venture capital da gestora AF Invest, investiu R$ 2,5 milhões na startup. Fundada em 2020, a Fluna diz ter mais de 30 clientes e 24 mil usuários de seus sistemas.

A tecnologia da startup permite a comunicação entre diferentes linguagens, criando soluções modulares e adaptáveis a cada necessidade. Com as “peças” prontas, a construção de cada produto se torna mais rápida e menos custosa, segundo a empresa.

“Fazemos parte da chamada terceira onda de automação de processos, em que conseguimos combinar diversas tecnologias. Em vez de oferecer apenas uma ferramenta para nossos clientes, conseguimos elaborar uma ‘caixa’ de soluções que se integram da forma mais eficaz”, disse Paulo Cerqueira, CEO da Fluna, em comunicado à imprensa.

A rodada Seed será usada para aumentar os investimentos em tecnologia e ganhar tração nos próximos anos. O objetivo é dobrar o faturamento em 2024, com a entrada de novos clientes.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups