Cogna mira novas ‘avenidas’ com vendas para estados e parcerias, diz CEO

Maior grupo de educação do país cresce 20% no 2º tri e amplia geração de caixa após turnaround; Roberto Valério conta próximos passos à Bloomberg Línea

Roberto Valério, CEO da Cogna: grupo mira parcerias com outras empresas para entrar com sua expertise de conteúdo
10 de Agosto, 2023 | 08:28 AM

Bloomberg Línea — Um dos setores “esquecidos” do investidor nos últimos anos, a educação voltou ao radar com a melhora de indicadores financeiros como reflexo de um processo de turnaround. Um dos exemplos é a Cogna (COGN3), maior grupo de educação do país, cuja ação subiu mais de 50% neste ano.

A valorização vem na esteira de resultados como crescimento da ordem de 20% e redução da alavancagem no segundo trimestre, cujos números foram divulgados na noite de quarta-feira (9).

Apesar da contínua evolução dos resultados e da melhora das perspectivas econômicas no país, com o início da redução do custo de capital, a empresa não prevê uma mudança de planos para ampliar os investimentos ou buscar um M&A neste momento.

A prioridade é continuar a executar o plano de crescimento de médio e longo prazos, segundo disse o CEO da Cogna, Roberto Valério, em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Vejo um cenário com perspectivas melhores do que no trimestre anterior. Isso favorece o crescimento de algumas indústrias e a nossa de educação é uma delas”, disse o executivo, citando o início do corte de juros pelo Banco Central, a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e a percepção de um novo governo mais assentado.

“Mas continuamos a trabalhar em cima de fundamentos para trazer os resultados, que estão aparecendo. Se o cenário macro também contribuir, melhor.”

A empresa apresentou crescimento de 20% tanto na receita líquida quanto no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) recorrente e de 52% da geração de caixa operacional no segundo trimestre na comparação com o mesmo período de 2022.

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A receita líquida ficou em R$ 1,387 bilhão; o Ebitda recorrente, em R$ 355 milhões, enquanto a geração de caixa chegou a R$ 112,5 milhões. O prejuízo líquido ajustado foi de R$ 11 milhões.

O executivo citou o aumento do Ebitda e da geração de caixa em ritmo superior. “Isso reflete a nossa visão de longo prazo, em que buscamos construir uma etapa de cada vez, para que tenhamos um crescimento consistente.”

O aumento da receita tem sido puxado pelo resultado da Kroton, divisão de ensino superior do grupo, que chegou ao quarto trimestre seguido de crescimento, com base em uma estratégia que inclui buscar safras de alunos que chegam com receita maior do que a anterior. “Se a base tem qualidade, a evasão é menor e a receita cresce”, resumiu.

Ensino presencial ganha força

No segundo trimestre, a base de alunos de ensino superior presencial – segmento chamado de alta presencialidade – cresceu 7,1%, acima dos 5% do ensino à distância (baixa presencialidade).

“Vemos como um movimento natural, em linha com o que acontece com outras indústrias, como a de viagens. Com o fim da pandemia, o aluno volta a procurar mais cursos presenciais”, afirmou.

Embora o ensino presencial implique despesas mais altas, o movimento não é visto com preocupação, segundo o CEO da Cogna. Isso porque tem se dado em cursos de gradução com tíquetes mais altos e menos sensíveis a preço, o que permite o repasse de parte da inflação.

A melhora dos números na Kroton envolveu também um trabalho de aproximação do aluno para ampliar o engajamento – e, assim, reduzir a evasão, com efeito perceptível principalmente no ensino presencial – e de monitoramento mais próximo das contas a receber.

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Isso tem se traduzido na melhora de indicadores que vão do aumento da taxa de rematrículas até a redução de PCLD (Provisões para Créditos de Liquidação Duvidosa) do nível equivalente a 13,2% da receita líquida no segundo trimestre de 2022 para 11,2% no período neste ano.

Houve também aumento da margem bruta por causa da operação digital, que permite alavancagem operacional, segundo disse Valério ao se referir à característica do ensino à distância de custos fixos e variáveis que sobem menos.

“Ao mesmo tempo em que ganhamos na margem bruta e na redução de PCLD, gastamos um pouco mais em marketing com a consolidação das marcas, caso da Anhanguera, algo que é importante para o crescimento futuro, porque se reflete em uma captação maior de alunos”, disse.

Diante dessa equação, segundo ele, a margem Ebitda se manteve praticamente estável - passou de 39,0% para 38,2%. “Buscamos esse equilíbrio e mostramos para o mercado que não precisamos perder margem por causa do investimento.”

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Kroton Med

O CEO da Cogna destacou ainda a melhora do resultado da Kroton Med, a divisão que reúne as seis unidades na área de medicina. “Há um efeito de maturação das marcas e de consolidação da operação, tanto comercial quanto de ganho de eficiência com processos.”

“As margens na Kroton Med estão melhorando e as receitas sobem quase 28% no ano contra ano. Conseguimos repassar a inflação tanto para o aluno que é veterano quanto para o calouro, algo que é muito difícil no online”, afirmou.

Uma iniciativa no ensino médico é uma parceria com o Hospital A.C. Camargo para a área de oncologia. Valério explicou o racional do projeto, que, segundo ele, não se restringe a esse segmento.

“Temos aprendido que é possível fazer parcerias com marcas que também são fortes e possuem conteúdo e conhecimento, e nós entramos com nossa capacidade de distribuição, de plataforma, de aplicativos digitais.”

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Segundo ele, os resultados até aqui sustentam um otimismo do ponto de vista de contribuição de receitas e a avaliação é que esse modelo possa ser repllicado a parcerias em outros setores.

Em Vasta, a plataforma de soluções para escolas do ensino básico, as receitas cresceram 43% na base anual, com contribuição de cerca de R$ 40 milhões no trimestre da nova linha de receitas de B2G, de vendas de material didático em grandes contratos para secretarias estaduais e de municípios maiores. É um mercado endereçável estimado em R$ 2 bilhões de produtos que a Vasta atualmente já oferece.

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Outro destaque do resultado, segundo o executivo, foi a redução da alavancagem para 1,98x a dívida/Ebitda, abaixo do patamar de 2x pela primeira vez desde 2020. “Com essa taxa de juros elevada, temos aproveitado a geração de caixa para reduzir a dívida e as despesas financeiras”, afirmou.

“Sempre que me perguntam sobre M&A, eu digo que o mais importante é a redução do endividamento e é o que estamos fazendo.”

Segundo ele, novas amortizações podem ser feitas, além do resgate antecipado de dívida quando houver essa oportunidade junto aos bondholders, dado o fato de que os juros ainda estão elevados.

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Em julho, o grupo realizou a sua primeira emissão de um social bond, com taxas mais baixas, a CDI + 1,90% e prazos alongados, o que indica o apetite do mercado a esse tipo de produto, segundo ele.

Por outro lado, o CEO da Cogna disse que a empresa pretende manter os níveis de investimento (Capex) de R$ 400 milhões a R$ 450 milhões ao ano, que aponta ser necessário para a “construção de longo prazo”.

Para os próximos trimestres, a expectativa é a de continuidade desse processo gradual de turnaround que já vem de pelo menos três anos, disse Valério.

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A Cogna não está sozinha no grupo das empresas de educação cuja melhora dos indicadores tem sido bem recebida por investidores. Outro exemplo é a Yduqs (YDUQ3), com uma valorização da ação da ordem de 110% neste ano.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.