Seis pontos-chave das eleições na Argentina para ficar de olho neste domingo

Saiba quem são os candidatos, como funciona a votação, se Milei tem chance de vencer no primeiro turno e a influência das redes sociais

Cerca de 35,4 milhões de eleitores estão habilitados a votar
Por Mariano Espina (BR)
22 de Outubro, 2023 | 06:45 AM

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Bloomberg Línea — Neste domingo (22), ocorrem as eleições na Argentina. O próximo presidente será definido se o candidato mais votado obtiver mais de 45% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado mais próximo. Caso isso não ocorra, haverá um segundo turno em 19 de novembro.

Na disputa pela presidência, competem Javier Milei pela coalizão Liberdade Avança, Sergio Massa pela União pela Pátria, Patricia Bullrich pela Juntos pela Mudança, Juan Schiaretti pelo Fazemos pelo Nosso País e Myriam Bregman pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT).

Nas primárias realizadas em 13 de agosto, Milei obteve 29,86%, Juntos pela Mudança 28%, União pela Pátria 27,28%, Schiaretti 3,71% e o FIT 2,61%.

#1 O que será votado e principais distritos

Neste domingo, os argentinos votarão para a presidente e vice-presidente, além de 24 senadores nacionais em oito províncias, 130 deputados nacionais, 19 parlamentares do Mercosul no distrito nacional e 24 parlamentares do Mercosul no distrito regional.

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Estão habilitados a votar na Argentina 35.394.425 cidadãos, dos quais 37% estão concentrados na província de Buenos Aires, 8% em Córdoba, 7,96% em Santa Fe e 7,16% na cidade de Buenos Aires.

Nas primárias, a União pela Pátria venceu na província de Buenos Aires, Juntos pela Mudança na cidade de Buenos Aires e em Santa Fe, e a Liberdade Avança em Córdoba.

#2 Participação e voto em branco

Nas primárias de 13 de agosto, votaram 69% dos eleitores habilitados, uma das taxas de participação mais baixas desde o retorno à democracia em 1983. A essa baixa participação soma-se 5,51% de votos em branco.

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“A insatisfação expressa na soma de ausências, votos em branco e votos nulos superou a frente mais votada, que foi a Liberdade Avança, extrapolando esses valores em relação ao eleitorado em condições de votar. Os únicos precedentes históricos semelhantes ocorreram nas eleições gerais de 2003 e nas primárias de 2015″, afirmou Marcelo Bermolén, diretor do Observatório da Qualidade Institucional (OCI), em um relatório publicado pela Universidade Austral.

Em entrevista à Bloomberg Línea, a cientista política Ana Iparraguirre disse que, com o voto em branco, o aumento esperado na participação e os eleitores que escolheram partidos que já não competem nas eleições gerais, a diferença entre a Liberdade Avança e a União pela Pátria é aumentada em seis pontos percentuais. “Qualquer mudança nesses segmentos pode virar a eleição”.

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#3 Sergio Massa permanece na competição

Após presidir a Câmara dos Deputados, Sergio Massa assumiu o Ministério da Economia em agosto de 2022. Durante sua gestão, em um contexto de uma histórica seca, algumas das principais variáveis macroeconômicas pioraram, incluindo a inflação, que já atingiu 130% ao ano.

Mesmo assim, Massa foi escolhido pela maioria dos líderes da coalizão governante como o candidato da União pela Pátria e, apesar do complexo cenário econômico, ainda mantém chances de chegar ao segundo turno.

“Após as primárias, os candidatos que emergiram com mais chances foram Milei e Massa. Bullrich teve dificuldade em reter rapidamente os votos de Horacio Rodríguez Larreta e ficou em uma situação desconfortável na campanha”, explicou o cientista político Diego Reynoso.

Sobre Massa, ele disse: “Apesar de ser o ministro da Economia de um governo com 17% de aprovação (segundo a pesquisa realizada para a Universidade de San Andrés), com muitos erros políticos e dificuldades em controlar a economia, sendo ele o ministro, ele surge como um candidato competitivo”.

Isso se deve, segundo Reynoso, ao fato de que “a eleição não se trata apenas de economia, a presença de Milei mudou toda a discussão pública”. “Estamos discutindo a incerteza em relação ao futuro, pelo que ele pode implementar e suas qualidades, e isso torna Massa competitivo, por ter características que o associam mais ao papel de uma presidência”, disse.

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#4 Javier Milei e as chances de vencer no primeiro turno

Milei surgiu há vários anos como um economista que criticava as administrações de turno nos canais de televisão, com um discurso liberal na economia. Sua fama cresceu a ponto de obter um assento na Câmara dos Deputados da Nação, depois de obter 17% dos votos nas eleições legislativas na Cidade de Buenos Aires em 2021.

Seu discurso antiestablishment ecoou fundo em diversos setores da sociedade e, com uma estrutura precária, conseguiu superar os principais partidos políticos da Argentina na maioria dos distritos do país.

Quanto às eleições gerais e às possibilidades de vencer no primeiro turno, a cientista política explicou que “o principal desafio de Milei tem a ver com as expectativas”.

Segundo Iparraguirre, o candidato da LLA “cometeu o erro de criar a expectativa de vencer no primeiro turno e, se não conseguir aumentar seu número de votos, isso gerará dúvidas sobre suas chances de vencer a eleição”.

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Se os resultados das primárias se repetirem, a LLA conquistará cerca de 40 cadeiras na Câmara dos Deputados e 8 senadores, muito longe das 129 e 37 cadeiras necessárias em cada câmara para obter a maioria simples.

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#5 As chances de Bullrich e do JxC

O Juntos pela Mudança (JxC) enfrenta uma situação assimétrica. A partir de 10 de dezembro, governará em pelo menos dez distritos (de 24) em todo o país, um recorde para uma força não peronista desde o retorno à democracia. Continuará com força na Câmara dos Deputados e no Senado.

No entanto, apesar das expectativas de meses atrás, a aparição de Javier Milei e da Liberdade Avança quebrou a polarização entre Juntos pela Mudança e o Governo e deixou Patricia Bullrich com menos chances de assumir a presidência no final deste ano.

“O JxC vinha com uma definição baseada na polarização com o kirchnerismo. Governou e ficou com uma imagem ruim. Bullrich desafiou o status quo de seu partido nas primárias, mas após as primárias, teve dificuldade em definir seu lugar”, disse Iparraguirre.

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Segundo a cientista política, na construção do discurso de Bullrich, houve tensão entre a ideia de ordem e a personalidade mais disruptiva. Mesmo assim, ela aponta que a candidata do Juntos pela Mudança conseguiu, ao longo dos dias, encontrar seu lugar no meio do espectro (entre Javier Milei e Sergio Massa).

#6 O papel do Tik Tok e das redes sociais

Nas primárias, foi questionado o papel das máquinas eleitorais e dos territórios, uma característica dos partidos tradicionais. Milei venceu em localidades que nunca visitou e nas quais tinha poucos ou nenhum representante.

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“Milei soube usar os novos canais de comunicação, que alcançam todos os lugares, e isso faz com que a divulgação não seja mais pelos canais tradicionais. Outros líderes vêm de mundos mais tradicionais, e Milei não vem de lá e encontrou uma maneira de se destacar”, disse Reynoso.

Apesar do papel inegável das redes sociais nestas eleições, Iparraguirre afirma que “Milei teve 13 pontos a menos nas províncias que escolhiam governador ao mesmo tempo do que nas que não escolhiam”, para não descartar a importância das máquinas eleitorais locais.

“Milei teve um bom desempenho onde a competição pelos governos locais já estava resolvida. Onde as máquinas locais já estavam relaxadas, Milei teve um bom desempenho; onde as eleições provinciais e nacionais estavam unificadas (Cidade e província de Buenos Aires, Santa Cruz, Entre Ríos, Catamarca), ele teve dificuldades”, disse Reynoso.

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Mariano Espina

Mariano Espina (BR)

Jornalista argentino com especialização em política. Anteriormente, trabalhou nas redações do jornal El Economista e do portal Data Clave. Graduado em jornalismo pela Universidade de El Salvador.