Sem pressa para o IPO, Ebanx usa caixa da operação para chegar a 29 países

Fintech de pagamentos decidiu priorizar neste momento o avanço em mercados emergentes, contou Paula Bellizia, presidente de Pagamentos Globais, à Bloomberg Línea

Paula Bellizia, presidente de Global Payments do EBANX: na carreira, foi anteriormente presidente da Microsoft no Brasil e Country Manager da Apple para o país, além de VP de Marketing do Google para a América Latina
11 de Outubro, 2023 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — A fintech brasileira de pagamentos Ebanx, que recentemente anunciou a expansão para mais oito países africanos e dois na América Latina - para um total de 29 mercados na América Latina e Caribe, na Índia e na África -, tem ampliado as operações sem depender de financiamento de investidores nem da entrada de novos sócios por meio de uma oferta pública inicial (IPO).

Em entrevista à Bloomberg Línea, Paula Bellizia, presidente de Pagamentos Globais do Ebanx, disse que a companhia conta com “histórico de geração de caixa positivo”. E é esse caixa que tem bancado a expansão global da companhia.

Para Bellizia, que assumiu o cargo no começo de 2022 com a expansão global justamente como uma de suas missões, a empresa analisa o potencial de mercado em cada região, bem como a demanda específica de seus clientes globais. Assim decidiu somar Costa do Marfim, Egito, Gana, Marrocos, Senegal, Tanzânia, Uganda e Zâmbia, além de Bahamas e Jamaica, à operação.

Segundo a executiva, que anteriormente era vice-presidente de Marketing do Google para a América Latina e também foi presidente da Microsoft no Brasil e Country Manager da Apple para o país, a posição financeira do Ebanx é uma vantagem competitiva, especialmente em um cenário em que o acesso a fundos continua com restrições no mercado de maneira geral.

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Isso permite que a empresa concentre seus esforços em impulsionar o crescimento em mercados emergentes, sem considerar a listagem em bolsa como prioridade imediata.

Embora o Ebanx tenha protocolado um pedido de IPO em 2021, a oferta foi adiada à medida que as condições do mercado de capitais se deterioraram com a perspectiva de aumento da taxa de juros - que depois se concretizou no começo do ano seguinte nos Estados Unidos.

Em junho de 2021, a Advent International, gigante americana de private equity, investiu US$ 430 milhões para adquirir uma parte minoritária na fintech fundada em 2012 por Alphonse Voigt, Wagner Ruiz e João Del Valle. Foi uma das maiores rodadas já levantadas por uma fintech brasileira.

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Dois anos antes, a fintech havia alcançado o status de unicórnio - ao superar um valuation de US$ 1 bilhão - com um investimento do FTV Capital, com participação do Endeavor Catalyst.

O Ebanx tem concorrentes como a uruguaia dLocal (DLO), que conta com a General Atlantic como investidor, e a americana Stripe. A fintech nascida em Curitiba antes de ganhar o Brasil e outros mercados desenvolveu uma plataforma de processamento de pagamentos cross-border, para auxiliar empresas globais a expandir seus negócios e oferecer serviços de pagamento integrados, sem a necessidade de que tenham que estabelecer uma operação local.

Em seu evento anual de pagamentos em São Paulo no fim de setembro, o Ebanx anunciou uma integração com a Adobe para atender mercados emergentes. Empresas globais como Sony, Uber, Shein e Shopee são alguns clientes da plataforma de pagamentos.

O Ebanx tem atualmente mais de 1.600 clientes ativos. A empresa não divulga números financeiros, mas disse que cresceu 44% no volume de transações em 2022 em relação ao ano anterior.

A empresa reduziu custos com demissões a partir de 2022, reduzindo a equipe de 1.300 pessoas para 800. “Todo mundo no mundo inteiro olhou para a operação do ponto de vista de custo, mas também tivemos um olhar estratégico, voltar para nosso core de uma empresa global de pagamentos”, disse a executiva.

Para além da América Latina

O Ebanx prioriza mercados em que possa oferecer soluções para seus parceiros e atender à demanda de expansão. No ano anterior, a fintech entrou na Nigéria, no Quênia e na África do Sul. Por isso, agora decidiu ganhar escala na operação na África para mais oito países, além da chegada à Índia de olho no seu grande potencial de mercado e no momentum de crescimento de pagamentos instantâneos.

Na Índia, a fintech começa a operar em sandbox com a UPI, ainda sem parcelamentos. A UPI (Unified Payments Interface) é um sistema de pagamento online desenvolvido e adotado no país asiático nos moldes do Pix. Trata-se de uma plataforma de pagamentos digitais que facilita a transferência de dinheiro entre contas bancárias por meio de smartphones.

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Bellizia disse que o Ebanx planeja expandir sua equipe nos novos países, visando a qualidade e o conhecimento local e adaptando-se às condições específicas de cada mercado. A empresa anunciou recentemente um diretor regional na África, além de um time na Índia.

A executiva explicou que, até o momento, o Ebanx optou por uma expansão essencialmente organica, aproveitando seu conhecimento técnico e de produtos. No entanto não está descartada a possibilidade de aquisições no futuro, se essa for considerada a estratégia mais adequada.

“Nós não vimos a necessidade até este momento de fazer essa expansão por meio de uma aquisição. Até este momento, a melhor alternativa tem sido fazer a expansão organicamente, ou seja, com o nosso conhecimento, com a nossa plataforma.”

‘Dividindo territórios

Em geral, empresas (merchants) têm mais de um parceiro para processar pagamentos, o que significa que o Ebanx divide alguns territórios com concorrentes. Bellizia disse que o Ebanx é “muito criterioso para cada ponto percentual e produtividade”.

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“A batalha de pagamentos se ganha no dia-a-dia da operação. É ali que queremos ser competitivos, sermos o melhor sistema de pagamento”, afirmou.

Bellizia enfatizou que a fintech mede o sucesso com base na performance e na aprovação de pagamentos, visando a competitividade e a entrega de resultados para os clientes.

“A escala é um vetor importante, porque uma vez que estamos integrados com grandes marcas, é importante que, com cada vez menos parceiros, eles [merchants] resolvam mais [as necessidades de] mercado para eles, resolvam mais o seu portfólio de países”, explicou a executiva.

Operação na Argentina

Questionada sobre se a fintech eventualmente deixaria de operar na Argentina por causa das incertezas do câmbio, Bellizia disse que “o que temos feito é nos anteciparmos lá dentro”, explicando que todas as transações são realizadas pelo dólar oficial e dentro das normas de compliance.

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“É claro que a situação da Argentina merece um olhar muito minucioso, porque as condições de operar mudam com as condições regulatórias do país. E elas têm mudado bastante.”

Na Argentina, existem controles cambiais e restrições para a compra de moeda estrangeira. Isso significa que pessoas e empresas têm dificuldade em acessar dólares americanos e outras moedas estrangeiras para proteger seus ativos financeiros da desvalorização da moeda local.

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“Também operamos ‘contado com líquidos’, que é uma operação supervisionada e legal no país. Temos conseguido apoiar os nossos merchants a continuar suas operações, apesar da instabilidade.”

A expressão “contado con liqui” refere-se a uma operação financeira na Argentina relacionada com a compra e a venda de ativos financeiros, como ações ou títulos, em moeda estrangeira (geralmente dólares americanos) para evitar as restrições cambiais impostas pelo governo argentino.

É uma maneira de amenizar o efeito das restrições, ao permitir que os participantes comprem ativos em pesos argentinos e, em seguida, os vendam em moeda estrangeira no exterior, geralmente por meio de uma conta em um banco estrangeiro. A transação é assim chamada porque envolve a entrega de ativos em troca de pagamento em moeda estrangeira “líquida”, ou seja, em dinheiro.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups