Tok&Stok renegocia dívidas e recebe injeção de R$ 100 mi de Carlyle e sócios

Varejista de móveis diz que fechou 17 lojas e que sua dívida de R$ 350 milhões foi reestruturada de tal modo que está liberada do pagamento com bancos por dois anos

Tok&Stok em São Paulo diz que fechou 17 lojas de um total de 68 como parte do processo de reestruturação
26 de Junho, 2023 | 08:16 PM

Bloomberg Línea — A Tok&Stok, varejista de móveis e decoração em crise financeira, assinou um acordo de reperfilamento de toda sua dívida bancária e o recebimento de um aporte de capital de R$ 100 milhões de seu atual acionista controlador, o Carlyle, e de outros sócios, informou a companhia em nota nesta segunda-feira (26).

Há dois anos, o Carlyle anunciou um acordo com a SPX Capital para que a gestora assumisse toda a sua operação no país, com possibilidade de novos investimentos conjuntos. O comunicado desta segunda indica que, no caso da Tok&Stok, a empresa americana de private equity segue como investidora.

Segundo a Tok&Stok, o aporte fortalece o caixa da companhia em um momento em que a dívida bancária de cerca de R$ 350 milhões foi reestruturada, o que libera os próximos dois anos de pagamento aos bancos e permite que a operação volte a ser prioridade.

“A conclusão dessa reestruturação financeira representa um sinal de confiança tanto dos credores financeiros como dos próprios acionistas, que seguem otimistas em relação à retomada operacional da marca”, disse a companhia. Segundo o comunicado, a Tok&Stok já apresenta geração de caixa positiva em 2023 como resultado de seu processo de reestruturação.

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A companhia informou também que o processo de reestruturação resultou no fechamento de 17 lojas que não eram rentáveis, mas que, ainda assim, manteve a presença física em todos os estados em que já atuava com as 51 lojas da rede que operam no positivo.

“Diante de um momento desafiador de mercado, a empresa coloca seu foco na gestão de caixa e melhora da operação”, reforçou a Tok&Stok.

A tradicional rede varejista de móveis e decoração contratou em fevereiro a consultoria especializada Alvarez & Marsal para uma reestruturação financeira, e a alternativa de um pedido de recuperação judicial esteve na mesa, segundo fontes a par do assunto disseram à Bloomberg Línea em abril.

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Segundo outra fonte, o objetivo fundamental da reestruturação era o de melhorar as margens e voltar a gerar caixa, ao mesmo tempo em que buscava renegociar a dívida, concentrada em quatro bancos e com vencimento no curto e no médio prazos. A empresa vinha conseguido manter as receitas, que fecharam o ano passado acima de R$ 1 bilhão, mas há dificuldades para a geração de caixa.

A empresa disse que a estratégia agora é voltada para o back to basics, com foco no essencial, a fim de alcançar a recuperação operacional da companhia.

Citou o “desenvolvimento de frentes como simplificação de seu organograma, da gestão de processos em suas lojas, da operação em seu centro de distribuição e com foco na transformação digital rentável, utilizando sistemas ágeis e robustos para garantir a excelência em seu atendimento”.

A empresa chegou a ser alvo de um pedido de falência apresentado pela Domus Aurea, uma fornecedora de tecnologia, mas efetuou depósito na Justiça paulista na semana passada.

Investimentos e IPO frustrado

Para entender a crise financeira atual da Tok&Stok, solucionada por ora com a injeção de capital, é necessário dar um passo atrás e voltar ao começo da gestão de Octávio Pereira Lopes, que assumiu em setembro de 2020 com a missão específica do Carlyle de realizar um IPO.

O fundo americano havia comprado 60% do capital em 2012 por R$ 700 milhões, do casal de franceses Régis e Ghislaine Dubrule, que fundaram a Tok&Stok em 1978, e perseguia um evento de saída.

O executivo promoveu investimentos em tecnologia e contratações, por exemplo, para que a companhia se preparasse para uma oferta e reduzisse a dependência quase que total de lojas físicas. Em 2019, ano pré-pandemia, as vendas por canais digitais responderam por cerca de 10% das vendas.

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Mas o plano de IPO não vingou: a empresa decidiu ir ao mercado no fim de 2020, no mesmo momento em que concorrentes com crescimento mais acelerado e modelos de vendas digitais mais eficientes também buscaram abrir o capital. A elevada dependência de lojas físicas em um contexto em que a economia ainda se ressentia das medidas de restrições à circulação também pesou.

A Mobly (MBLY3) concluiu um IPO que movimentou R$ 812 milhões no começo de fevereiro de 2021; uma semana depois, foi a vez da Westwing (WEST3), cujo IPO teve volume de R$ 1,16 bilhão. Ou seja, na disputa de investidores pela mesma tese, a Tok&Stok, embora maior em tamanho, líder nas classes A e B e de marca mais conhecida, foi preterida por rivais muito mais novos. Era um sinal de suas dificuldades.

A piora das condições de mercado no segundo semestre de 2021 fechou de vez não só a janela para IPOs como as chances de captação ou de venda de parte do capital. O Carlyle, por sua vez, desistiu não só da Tok&Stok como também do Brasil, ao negociar sua operação com a SPX.

Em setembro do mesmo ano, Pereira Lopes decidiu aceitar convite para assumir a Light (LIGT3), empresa de energia do Rio de Janeiro também em dificuldades financeiras, deixando inacabada a sua missão de levar a Tok&Stok para o IPO. Segundo uma fonte, ele não conseguiu concluir tampouco o processo de turnaround, a exemplo de outros três executivos que comandaram a empresa em cinco anos.

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Em agosto passado, a varejista começou a reduzir o quadro de pessoal, com dezenas de demissões, segundo a pessoa ouvida pela Bloomberg Línea.

Neste começo de ano, houve especulações no mercado sobre uma hipotética fusão entre a Tok&Stok e a Mobly, que envolveria ganhos de sinergias entre as partes em pontos como negociação com fornecedores, mix de lojas no modelo omnichanel e atuações complementares por faixa de renda. Mas a dívida da Tok&Stok foi um impeditivo, dado que a Mobly, sem alavancagem, não estava disposta a assumir o risco.

A Tok&Stok foi uma das principais apostas do Carlyle, do bilionário norte-americano David Rubenstein. Em 2021, a SPX Capital, gestora cofundada por Rogério Xavier (ex-BBM e ex-banco Garantia), assumiu as operações do Carlyle no Brasil em um momento de crescimento e de diversificação e internacionalização dos negócios. Entrar em private equity era um caminho natural para a gestora.

Em anos passados, o Carlyle já havia aportado em empresas brasileiras como a operadora de turismo CVC (CVCB3), a rede de restaurantes Madero e a varejista de brinquedos Ri Happy. As três empresas também operam com níveis mais altos de alavancagem. Na semana passada, a Ri Happy anunciou ao mercado a contratação da Starboard Partners para negociar a reestruturação de sua dívida.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.