Dólar perderá mais força ante o real? Essa é a aposta da vez de fundos globais

Pausa esperada no aperto monetário do Fed e desaceleração da economia americana alimentam apostas de gestoras em moedas de emergentes como o Brasil

Real deve continuar a ganhar valor versus o dólar americano, na visão de alguns gestores globais (Adriano Machado/Bloomberg)
Por Ruth Carson - Malavika Kaur Makol - Karl Lester
16 de Maio, 2023 | 05:38 AM

Bloomberg — Alguns dos maiores investidores institucionais do mundo estão apostando em moedas de mercados emergentes como o Brasil para superar seus pares de nações ricas à medida que o aperto monetário se aproxima do fim, o crescimento desacelera e crescem os apelos por um dólar mais fraco.

A T. Rowe Price, que administra US$ 1,3 trilhão em ativos, a Fidelity International e a abrdn estão entre as empresas globais que fazem apostas otimistas em certos ativos da América Latina, onde dois anos de aumentos agressivos nas taxas de juros amenizaram a inflação, colocando-a em curso para cortes mais cedo do que na maioria das outras regiões.

Nesta segunda-feira (15), o dólar caiu 0,89% e encerrou negociado a R$ 4,89. No fim de 2022, a moeda americana era cotada a R$ 5,28.

A francesa Amundi, maior administradora de fundos da Europa com cerca de US$ 2,1 trilhões em ativos sob gestão, espera que o peso mexicano e o real brasileiro liderem a recuperação.

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Com os aumentos médios dos preços ao consumidor em queda por dois trimestres sucessivos depois de uma alta de 11 anos, um número maior de nações em desenvolvimento está vendo suas taxas ajustadas pela inflação se tornarem positivas e aumentarem sua diferença em relação aos países desenvolvidos.

A América Latina está na vanguarda dessa mudança: Brasil e México oferecem rendimentos reais de 9,1% e 5%, respectivamente, em comparação com retornos próximos de zero nos Estados Unidos e negativo em 5,6% no Reino Unido. E isso estimula o chamado carry trade: tomar empréstimos em países com juros mais baixos e investi-los em mercados que oferecem rendimento mais elevado.

“Na maioria das vezes, as moedas high yield terão melhor desempenho”, disse Edwin Gutierrez, chefe de dívida soberana de mercados emergentes da britânica abrdn, com mais de US$ 600 bilhões em ativos sob gestão. O gestor permanece “construtivo” sobre os ativos “dado o abrandamento da economia dos EUA e o ciclo de aperto monetário do Federal Reserve chegando ao fim”.

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As moedas dos países em desenvolvimento subiram neste ano, mesmo quando os dados econômicos da China e dos EUA enviaram sinais confusos sobre o que se deve esperar e mesmo que a espera dos investidores por uma mudança na política do Fed tenha se prolongado. O MSCI EM Currency Index se estabilizou após um início de ano em montanha-russa, subindo 1,3% desde o final de fevereiro.

Investidores estão apostando que os ganhos de tais moedas podem continuar à medida que a maior parte dos aumentos de juros do Fed termina e o rali do dólar perde força. Isso, e a luta contínua para resolver um impasse do teto da dívida dos EUA, estão impulsionando a tese de uma rotação para longe do dólar.

“Moedas com bom rendimento real e forte balanço de pagamentos externo devem se beneficiar”, disse Esther Law, gerente sênior de recursos da Amundi. “Assim que houver mais clareza sobre o impacto das preocupações bancárias e o Fed estiver claramente fazendo uma pausa, acho que isso oferecerá uma boa oportunidade para as moedas emergentes.”

Os ganhos estão sendo liderados por moedas do México, do Chile, do Brasil e da Colômbia, bem como da Hungria, da Polônia e da Indonésia.

Moedas de países que exportam commodities acumulam valorização ante o dólar desde novembro do ano passadodfd

Commodities reforçam ganhos

As perspectivas para as moedas dos mercados emergentes fora da América Latina são mistas. A rupia indiana é preferida por gestores, incluindo a americana T. Rowe Price, enquanto outras moedas asiáticas são apoiadas pelo rápido crescimento econômico. Mas outras divisas permanecem vulneráveis a riscos, incluindo dívidas pendentes, turbulência política e impasses diplomáticos.

Essa vulnerabilidade estava em exibição na África do Sul na semana passada, quando o rand caiu para níveis mínimos sucessivos depois que os EUA acusaram a nação de estar em ajuda à Rússia. A geopolítica é apenas o mais recente de uma série de fatores de risco que preocupam a moeda, incluindo uma crise doméstica de energia e a queda da popularidade do presidente Cyril Ramaphosa.

O potencial para tais crises continua a manter alguns investidores afastados dos mercados emergentes. O Man Group, o maior fundo hedge de capital aberto do mundo, alertou que uma rota “violenta” está chegando à classe de ativos.

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A Lazard Asset Management alertou os investidores para serem “altamente seletivos”, pois o impacto total das preocupações bancárias dos EUA sobre o crescimento global ainda não foi visto.

Essas ameaças também estão no radar de Leonard Kwan. O gestor baseado em Hong Kong da T. Rowe Price ainda favorece o peso chileno, a rupia e o peso mexicano. Ele permanece “construtivo” em relação às moedas, mesmo enquanto observa algum efeito de uma desaceleração econômica dos EUA.

Enquanto isso, todos os olhos estão voltados para o Fed em busca de qualquer sinal de pausa no aperto monetário. Se o banco central dos EUA sinalizar uma mudança nas prioridades do combate à inflação, o dólar deve enfraquecer ainda mais e os mercados emergentes devem se beneficiar, de acordo com Paul Greer, gestor de recursos da Fidelity em Londres.

“Do ponto de vista da avaliação, as moedas dos mercados emergentes ainda estão baratas”, disse Brendan McKenna, estrategista da Wells Fargo em Nova York. “As moedas emergentes podem não apenas se fortalecer em relação ao dólar neste ano, à medida que o Fed chega ao fim de seu ciclo de aperto, mas também podem superar o desempenho em relação às moedas pares do G10 [grupo que reúne as dez maiores economias do mundo].”

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- Matéria atualizada às 7h35 de terça-feira com o total de ativos sob gestão da francesa Amundi, de US$ 2,1 trilhões.

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