Corte da Selic ganha força com exterior, mas é improvável com Fed ativo, diz BTG

Para João Scandiuzzi, estrategista-chefe do BTG Pactual, movimento de corte da Selic é pouco provável no curto prazo dada a ausência de fatos consolidados

Sede do BTG Pactual na Faria Lima, em São Paulo: banco está cauteloso com apostas em alívio monetário no Brasil (Divulgação)
21 de Março, 2023 | 04:40 AM

Bloomberg Línea — O otimismo em torno da entrega do novo arcabouço fiscal contribuiu para uma expectativa por parte de observadores do mercado de que o Banco Central possa cortar a taxa Selic nos próximos meses.

A expectativa pelo movimento dovish veio junto com a crise bancária dos Estados Unidos e da Europa nas últimas semanas, com apostas em manutenção dos juros pelo Federal Reserve após a ação coordenada global para aliviar a crescente instabilidade financeira. Para João Scandiuzzi, estrategista-chefe do BTG Pactual, no entanto, o processo de alívio monetário no país é pouco provável.

“O Banco Central do Brasil não trabalha com propostas, mas com fatos políticos já consolidados. Portanto, uma fase de implementação e credibilidade não é algo que advogaria para um corte muito prematuro [da Selic]”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo ele, o que poderia levar a uma discussão sobre corte dos juros “mais para frente” seria a alteração do regime de metas de inflação, algo que já vem sendo discutido, mas com a ressalva de que as conversas ainda são “prematuras”.

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Scandiuzzi destacou que o cenário externo favorece o fechamento da curva de juros no Brasil, mas que é difícil pensar em um corte das taxas pelo BC se o Federal Reserve ainda estiver ativo em seu processo de aperto monetário.

O Comitê de Política Monetária (Copom) e o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) decidem nesta quarta-feira (22) as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente. Por aqui, a expectativa é pela manutenção da Selic em 13,75% ao ano.

Já nos EUA, a maioria dos economistas projetava, antes do fim de semana, uma alta em 0,25 ponto porcentual, para um intervalo de 4,75% a 5%. As apostas de uma pausa ou até cortes, contudo, ganharam força após o Fed e outros bancos centrais anunciarem medidas para aumentar a liquidez dos mercados diante do colapso do Silicon Valley Bank, do Signature Bank e da crise do Credit Suisse.

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João Scandiuzzi, estrategista–chefe do BTG Pactual: avaliação de que o Fed pode 'ganhar tempo' na reunião desta quartadfd

“O Fed deverá passar uma mensagem de cautela nesta reunião. Uma opção é ele ficar parado, o que não seria improvável, de forma a ganhar tempo e acumular mais evidências sobre o choque atual”, disse. Scandiuzzi não vê, contudo, espaço para cortes no momento.

Por ora, disse, a crise vai potencializar os efeitos da política monetária que já são “cumulativos e defasados”.

É o caso, por exemplo, da concessão de crédito, cuja desaceleração já era esperada, mas que agora será antecipada. “Os bancos vão entrar em um modo muito mais conservador na concessão de crédito, de forma a melhorar a posição de liquidez e reter earnings”, afirmou.

Principais alocações

Marcelo Santucci, CIO de Portfolio Solutions Internacional do BTG Pactual, contou que a casa não realizou nenhuma mudança na carteira em decorrência dos eventos das últimas semanas, dado que o BTG Pactual já via uma taxa terminal do Fed acima do esperado pelo consenso de mercado e uma pausa por mais tempo do que o estimado.

“Quando vemos o mercado precificando cortes neste ano, isso nos parece prematuro. O mercado está assumindo que a inflação vai convergir para a meta mais rapidamente – o que não acredito. Por isso o call de manter a taxa, para quebrar a inércia inflacionária e convergir para a meta”, disse.

Com essa visão, o BTG aposta em papéis de renda fixa mais curtos e de alta qualidade no exterior, priorizando títulos soberanos atrelados à inflação com vencimento de um a três anos. “Eles estão com uma taxa nominal a um patamar interessante, e qualquer recessão pode ter compressão de yield.”

Na renda variável, a avaliação de Santucci é de que o S&P 500 ainda é muito resiliente e de que deveria sofrer um ajuste para conversar com a taxa terminal estimada.

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O BTG tem posição underweight (abaixo da média do mercado) no principal índice americano e preferência por empresas consideradas sólidas, de “qualidade” e com foco em dividendos. “Como há muita incerteza e não está claro se a batalha contra a inflação está ganha, além de eventos inesperados, preferimos ficar em empresas dominantes em seus mercados e boas pagadoras de dividendos.”

A avaliação é que, quanto mais restritivo o aperto, maior será o processo de consolidação, com pequenas empresas fechando ou sendo vendidas. As mais dominantes e geradoras de caixa, por sua vez, tendem a ganhar ainda mais fatia de mercado, afirmou. É o caso, por exemplo, de empresas de saúde e utilities (que prestam serviços públicos como os de energia), segundo ele.

“Estamos monitorando o cenário. Não achamos que é momento ainda para sair vendendo nem comprando tudo. Nossas alocações estavam preparadas para o contexto desafiador e a economia dos EUA ainda vai ter que se adequar a juros mais altos do que nos últimos anos.”

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.