Lula recebe faixa e prega união: ‘Divididos, seremos país do futuro que não chega’

Do Parlatório do Planalto, presidente empossado voltou a dizer que ‘é tempo de reconstrução’ e que ‘não é hora para ressentimentos’

Lula sobe a rampa do Planalto para discursar a eleitores, depois da posse no Congresso
01 de Janeiro, 2023 | 06:41 PM

Bloomberg Línea — Depois de tomar posse em cerimônia no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi até o Palácio do Planalto receber a faixa de presidente e se dirigir ao povo, do Parlatório do palácio.

No novo discurso, o agora presidente empossado voltou a falar em “união e reconstrução” e disse que, 20 anos depois de ter sido empossado presidente pela primeira vez, precisa voltar a combater a fome, a pobreza e a desigualdade social. E foi mais categórico que de costume: “A disputa eleitoral acabou”.

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“A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras”, disse ele, em referência ao governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

Foi o discurso em que Lula foi mais enfático ao falar de união e da superação do clima de polarização estimulado pelo governo Bolsonaro. “Juntos, somos fortes. Divididos, seremos sempre o país do futuro que nunca chega, e que vive em dívida permanente com o seu povo”, disse. “O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade.”

Ato simbólico

O recebimento da faixa de presidente tem valor apenas simbólico, e não formal. Mas Lula participou de um dos momentos mais emblemáticos desse momento, que foi receber a faixa de Fernando Henrique Cardoso, em 2003. Foi a primeira vez que o poder passou da direita para a esquerda no Brasil.

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Na posse deste ano, Lula não recebeu a faixa de seu antecessor. Na quinta-feira (29), Jair Bolsonaro (PL), dois dias antes de terminar o mandato, viajou para os Estados Unidos, para evitar dar a faixa ao petista.

Por isso, Lula recebeu a faixa de um grupo de apoiadores e representantes da sociedade civil. Com destaque para o cacique Raoni Metuktire. Em 2019, Bolsonaro chamou Raoni de “peça de manobra” de “interesses internacionais”, no discurso do agora ex-presidente na Assembleia Geral da ONU.

Lula recebe a faixa de representantes da sociedade civil

O presidente empossado recebeu a faixa das mãos de Aline Souza, catadora de materiais recicláveis de 33 anos, negra, filha e neta de catadoras.

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Reconstrução

Lula também procurou retirar de si a imagem de que tentará reeditar seus dois governos anteriores, ou retomar políticas do governo Dilma Rousseff (PT), que o sucedeu em 2010. “Temos um imenso legado”, disse ele, “mas não nos interessa viver do passado”.

Nessa parte do discurso, exaltou conquistas de seus governos anteriores para deixar claro que não pretende adotar a mesma postura conciliadora que marcou suas gestões.

“Infelizmente, muito do que construímos em 13 anos foi destruído em menos da metade desse tempo. Primeiro, pelo golpe de 2016 contra a presidenta Dilma. E na sequência, pelos quatro anos de um governo de destruição nacional cujo legado a História jamais perdoará”, discursou, ao citar os quase 700 mil mortos por covid-19, as 33 milhões de pessoas que passam fome e os “125 milhões sofrendo algum grau de insegurança alimentar”.

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“O que o povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um genocídio”, declarou. Nesse momento, as pessoas que acompanhavam o discurso da Praça dos Três Poderes começaram a cantar “sem anistia!”, em referência crítica à política de encerramento da ditadura militar, que em 1979 anistiou os crimes cometidos pelos agentes do Estado.

Para frente

Mas Lula continuou: “Não é hora para ressentimentos estéreis”. “Vamos virar essa página e escrever, em conjunto, um novo e decisivo capítulo da nossa história. Nosso desafio comum é o da criação de um país justo, inclusivo, sustentável, criativo, democrático e soberano, para todos os brasileiros e brasileiras.”

Para os próximos anos, Lula se comprometeu, novamente, em trabalhar pela reindustrialização do Brasil, retomar as obras de infraestrutura, combater as mudanças climáticas, “romper com o isolamento internacional e voltar a se relacionar com todos os países do mundo”.

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.