Manifestações na China e surtos de covid derrubam preços de commodities

Cotações de petróleo, minério de ferro e produtos agrícolas caíam nesta segunda-feira em reação aos protestos em diversas cidades chinesas contra a política de Covid Zero

População foi às ruas para demonstrar raiva e frustração contra as autoridades e ao Partido Comunista
Por Bloomberg News
28 de Novembro, 2022 | 08:59 AM

Bloomberg — As cotações das commodities caíram na manhã desta segunda-feira (28) à medida que o surto de covid na China piorou e uma série de protestos de rua em cidades de todo o país ameaçam prejudicar a atividade econômica no país e derrubar a demanda por energia, alimentos e matérias-primas.

Os metais básicos caíram no início do pregão, com os contratos futuros de cobre caindo até 2% em Londres antes de reduzir as perdas ao lado das ações chinesas. O minério de ferro em Dalian caiu até 3,2%, enquanto os futuros do petróelo West Texas Intermediate (WTI) caíram até 3,5% em Nova York, caindo para o nível mais baixo desde dezembro de 2021. Os futuros do óleo de cozinha em Dalian caíram até 3% devido às preocupações com o ameaça à demanda em restaurantes e hotéis que já sofrem com os bloqueios.

A causa imediata das manifestações chinesas são as políticas restritivas do governo para conter a covid, que foram atribuídas pela população como por ter contribuído para um incêndio mortal em Xinjiang na semana passada. Pequim poderia responder flexibilizando ainda mais os controles contra a covid - que já sinalizou como seu plano de longo prazo - ou adotando restrições ainda mais severas enquanto busca reprimir a agitação social.

Um retorno dos bloqueios mais rígidos reduziria ainda mais a demanda por várias commodities importantes. A China é o maior importador global, incluindo de petróleo a minério de ferro e soja, e as compras já caíram este ano devido à desaceleração da economia.

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A flexibilização das restrições, por outro lado, poderia impulsionar a segunda maior economia do mundo, estimulando a demanda por combustíveis e metais e elevando o consumo de energia industrial. Enquanto isso, a incerteza fez os investidores correrem para o refúgio do dólar americano, o que pressiona as commodities internacionais cotadas na moeda, como o petróleo bruto.

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“A situação da covid na China continua pesando nos mercados de metais, com casos recordes anunciados novamente no fim de semana, juntamente com os protestos amplamente divulgados”, disse Colin Hamilton, diretor administrativo de pesquisa de commodities da BMO Capital Markets, em nota por e-mail. “Esperamos que os novos bloqueios prejudiquem a confiança do mercado no final do ano e, assim, atrasem algumas compras de matérias-primas no próximo mês.”

Os temores sobre o agravamento da situação do vírus na China e as restrições do governo ofuscaram o impacto das mais recentes medidas de estímulo de Pequim - um corte nas taxas de depósito compulsório que os bancos são obrigados a manter - promulgadas na sexta-feira, de acordo com uma nota do Shanghai Metals Market. As vendas dos fabricantes estão caindo no momento em que os controles mais rígidos da covid atingem a economia real e o consumo de cobre, disse.

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Os protestos vêm logo após um novo conjunto de medidas que prometiam menos interrupções na contenção da doença. Mas essas políticas foram seguidas do pior surto de covid na China desde o início da pandemia, com as autoridades voltando rapidamente aos lockdowns para controlar a propagação.

As medidas afetam as fábricas, atingindo a demanda por matérias-primas como metais, carvão e gás que alimentam as operações, bem como o diesel necessário para o transporte de mercadorias. O risco é que o tráfego de passageiros e os voos das companhias aéreas também desacelerem, pesando ainda mais na demanda por petróleo.

Os dados de congestionamento do Baidu mostraram que o tráfego no horário de pico nas principais cidades na manhã de segunda-feira caiu acentuadamente em relação ao ano anterior. Em Chongqing, a maior cidade da China, o tráfego caiu pela metade, enquanto em Pequim caiu 45% e em Guangzhou foi 35% menor. A demanda chinesa por petróleo pode cair para uma média de 15,11 milhões de barris por dia no quarto trimestre, abaixo dos 15,82 milhões de barris no mesmo período do ano passado, de acordo com uma estimativa de Gregory Lackner, analista de produtos petrolíferos da Kpler.

Carvão e milho

O preço à vista semanal do carvão fretado da principal região de mineração de Shanxi para o centro comercial de Qinghuangdao caiu 11%, para 1.260 yuans (US$ 174) a tonelada, de acordo com a Cinda Securities. A queda ocorre quando o consumo de geradores de energia deve aumentar, já que os primeiros períodos de frio atingem grande parte do país.

Embora as usinas de energia precisem queimar menos carvão, o aumento de infecções nos três principais centros de mineração do país, Shanxi, Shaanxi e Mongólia Interior, também pode reduzir a produção, de acordo com relatórios locais. O crescimento da energia renovável no país também pode atingir um obstáculo, já que os trabalhadores são mantidos fora dos locais de trabalho por medidas contra o coronavírus.

Os contratos futuros de milho em Dalian, por sua vez, subiram para o nível mais alto em seis meses, com a oferta prejudicada pelas medidas de controle da covid que impedem que a nova safra chegue ao mercado. Os futuros da soja em Chicago caíram 0,9%, a maior queda em uma semana, antes de reduzir as perdas para 0,6%. A China é o maior importador mundial de soja e um grande comprador de milho e trigo.

A Argentina também ressuscitou uma medida cambial no fim de semana com o objetivo de impulsionar suas vendas de soja. Enquanto isso, as exportações de soja dos EUA na semana encerrada em 17 de novembro caíram para o nível mais baixo desde setembro, mostram dados do governo divulgados na sexta-feira.

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O algodão caiu 2,6%, para 78 centavos de dólar por libra, uma baixa de três semanas, com os protestos no maior importador do mundo nublando as perspectivas de demanda. A demanda global pela fibra também recuou à medida que os consumidores gastam menos dinheiro com roupas, deixando as fábricas funcionando abaixo do ritmo normal em meio a um excedente de produção esperado, de acordo com um relatório da Plexus Cotton.

A perspectiva para as commodities depende em grande parte de como as políticas de Covid Zero da China vão evoluir a partir daqui. Uma ampla flexibilização das regras pode não surgir em 2023, de acordo com a Bloomberg Intelligence, desacelerando o crescimento da demanda de energia da China para apenas 5%, semelhante à expansão observada este ano.

-- Com colaboração de Winnie Zhu, James Poole, Sarah Chen, Mark Burton, Alex Longley, Megan Durisin e Mumbi Gitau.

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