Quebra da FTX pode desencadear ‘efeito dominó’ para corretoras cripto

Especialistas falam de ‘seleção natural’ para empresas do setor, em mais um capítulo que pode levar à fuga dos ativos de risco pelos investidores

Alta de juros global acabou com a euforia do mercado de criptomoedas
11 de Novembro, 2022 | 03:49 PM

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Bloomberg Línea — Os investidores estão liquidando criptomoedas nesta sexta-feira (11) em meio a mais um capítulo de incerteza para o ativo: o pedido de falência da corretora FTX. E a FTX pode puxar consigo outras empresas de cripto, de acordo com especialistas.

Nesta sexta, o Bitcoin (BTC) caiu 5,5% para US$ 16.833,25 e o Ether caiu 4,5%, para US$ 1.262,09. Há espaço para mais quebradeira. Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin, disse que o mercado todo sentirá a quebra da FTX, assim como sentiu com outras crises envolvendo empresas de cripto.

“Haverá tanto uma redução no preço dos ativos como redução de confiança e participação no setor”, disse Rabelo. Contudo, como a tecnologia por trás das criptomoedas não foi afetada, ele espera que o mercado se recupere do recuo.

“É possível que outras empresas acabem quebrando, principalmente aquelas globais, que vivem alavancadas umas nas outras e com isso há mais desconfiança no mercado”, afirmou.

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Para o CEO do Mercado Bitcoin, a quebra da FTX não tem a ver com problemas no ecossistema ou na tecnologia, mas sim com uma empresa que “operava sem governança, análise de risco ou qualquer responsabilidade com os clientes”.

Tida como líder global, a FTX chegou a receber investimento de celebridades como Tom Brady e de Gisele Bündchen.

Por sua vez, Guillermo Torrealba, CEO da exchange Buda.com, disse à Bloomberg Línea que a quebra da FTX representa um duro golpe para o ecossistema de cripto porque aumenta as dúvidas sobre “alguns serviços centralizados”, como a plataforma criada por Sam Bankman-Fried. Nesse sentido, Torrealba apontou que uma das falhas da FTX foi não manter a liquidez, um fator em que “se esperava que não falhasse”.

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Uma exchange de criptomoedas, diz Torrealba, “não deve tocar no dinheiro dos clientes”, e eles devem sempre poder retirar todos os seus fundos.

“No caso da FTX foi demonstrado que eles não tinham custódia. Ou seja, eles próprios mantinham a custódia de seus clientes e, de fato, aparentemente a haviam emprestado a terceiros. Isso é um golpe muito duro. Não sabemos, mas provavelmente os recursos de seus clientes ficarão congelados por um período que pode levar anos até que o processo de recuperação judicial seja concluído”, diz Torrealba.

Crise já esperada

Para Robson Gonçalves, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, as criptomoedas devem ser entendidas como “commodities virtuais”, e portanto “a quebra do valor das cripto e eventuais falências de instituições já eram esperadas à medida que o Federal Reserve iniciou o ciclo de alta dos juros”.

“Quando há uma redução na movimentação com criptomoedas, as instituições mais fragilizadas na fase expansiva acabam sofrendo mesmo”, disse.

A Binance desistiu da aquisição da FTX anunciada nesta semana. “No início, nossa expectativa era poder oferecer apoio aos clientes da FTX para prover liquidez, mas os problemas estão além do nosso controle ou capacidade de ajuda”, disse a empresa, por meio de nota.

“Toda vez que um grande player de um setor falhar, os consumidores de varejo sofrerão. Vimos nos últimos anos que o ecossistema de criptomoedas está se tornando mais resiliente e acreditamos que, com o tempo, os atores que fazem uso indevido dos fundos dos usuários serão eliminados pelo livre mercado”, disse a Binance, acrescentando que “à medida que os arcabouços regulatórios são desenvolvidos e a indústria continua a evoluir em direção a uma maior descentralização, o ecossistema crescerá com mais robustez.”

De acordo com Typson Sánchez, cofundador da exchange Panda e diretor de P&D da Athena Bitcoin, o cenário complexo do mercado de criptomoedas afetou muitos dos negócios da empresa. “Alguns caíram completamente e outros estão em espera para ver como o mercado se comporta”, disse.

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Sánchez acrescentou que “as receitas são mantidas, mas têm alguns pontos altos devido à alta volatilidade”. Ele comentou que, apesar disso, “e das empresas que estão no setor há algum tempo, sabemos como superar essa incerteza”.

Essa situação se reflete em outras empresas do setor na região.

É o caso da Buda que, segundo Torrealba, sabe lidar com esses ciclos, “esses invernos que acontecem (...) a cada quatro anos (...) isso não nos afeta além do que afeta o ecossistema como como um todo, então os volumes de Buda diminuíram nos últimos 12 meses, mas continuamos muito estáveis e saudáveis”.

Ativos lastrados em emissão própria

A estratégia da FTX de lastrear operações cripto de emissão própria é muito comum em momentos de inovação no mercado financeiro, segundo Gonçalves, da FGV, o que cria uma “exuberância falsa a partir das próprias operações”.

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Daniel Vogel, CEO do unicórnio mexicano Bitso, que assim como a FTX conta com a Tiger Global entre seus principais investidores, disse em comunicado: “Este é um momento difícil e triste para a indústria, e especialmente para aqueles diretamente afetados pela violação da FTX”.

“Ciente das condições fluidas do mercado, atualmente detemos 100% dos fundos Bitso+ de nossos clientes em Bitso. Portanto, 0% dos fundos de nossos clientes têm exposição direta ou indireta a FTX/Alameda ou FTT”, disse Vogel.

Seleção natural

Gonçalves explica que a criptomoeda deve ser entendida como uma inovação e que há momentos de contração e expansão quando se está inovando. “Olhando o setor automobilístico, por exemplo, houve uma proliferação de montadoras no começo, e depois, na maturidade, quando há o inverno, você acaba tendo esse processo de seleção natural”.

Para ele, o processo de limpa e seleção natural de emissoras de cripto seguirá a linha da taxa de juros americana e afetará empresas que por conta do vácuo regulatório conseguiram um crescimento potencial, mas “falsamente exuberante”.

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Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups

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Jornalista com experiência em startups e tecnologia