A visão dos estrangeiros para a bolsa às vésperas da eleição. É hora de voltar?

Depois de conversa com investidores nos EUA, Itaú BBA destaca interesse dos estrangeiros em determinados ativos brasileiros passadas as incertezas

Setores financeiro, de utilities e varejo estão entre os preferidos dos investidores estrangeiros, segundo o Itaú BBA
25 de Outubro, 2022 | 06:07 PM

Bloomberg Línea — O cenário externo conturbado somado às incertezas no Brasil, principalmente às vésperas do segundo turno das eleições, tem deixado investidores estrangeiros em modo de espera, aguardando pelo melhor momento de entrada, apesar de boas oportunidades à vista. É o que destacou o Itaú BBA.

Em relatório divulgado nesta terça-feira (25), o banco compartilhou seus insights sobre conversas com 25 instituições nos Estados Unidos com relação ao cenário macroeconômico no Brasil, a oportunidades e a riscos para o mercado local de ações.

Em suma, apesar do grande interesse de investidores dos EUA pela bolsa brasileira, as casas de investimento ainda não estão aumentando de forma substancial as alocações no país. Passadas as incertezas, contudo, a expectativa é a de “fluxos massivos” para o mercado acionário brasileiro.

“O cenário macro parece muito bom, com sólidos números fiscais, inflação em queda e números surpreendentemente fortes do PIB”, escreveu o estrategista Marcelo Sá, do Itaú BBA, que assina o documento.

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O Itaú BBA destacou também que no roadshow de setembro na Europa, os investidores estavam construtivos e overweight (com posição acima da média do mercado, equivalente a compra) em Brasil.

Entre os setores preferidos dos investidores estrangeiros na bolsa brasileira estão o financeiro, de utilities (empresas de serviços públicos, como concessionárias de energia) e shopping centers, bem como nomes do varejo.

A poucos dias do segundo turno da eleição presidencial no Brasil, o resultado do pleito e das eleições para a Câmara e o Senado também estiveram entre os principais temas de discussão.

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Segundo Sá, muitos investidores perguntaram sobre o risco de os resultados das eleições serem contestados caso a diferença entre os dois candidatos seja pequena. As políticas econômicas de cada candidato e as perspectivas para o limite de gastos também estiveram entre as dúvidas levantadas na ocasião.

“Os investidores sabem que o teto de gastos será modificado, mas queriam entender como poderia ser o novo regime fiscal e se seria suficiente para manter a relação entre dívida pública e PIB sob controle”, escreveu o estrategista.

Com relação à política monetária, a maioria dos investidores destacou que a inflação está caindo mais rapidamente do que o previsto e que o Banco Central pode começar a cortar as taxas mais cedo do que outros países – embora não tenha havido consenso sobre quando isso poderia começar.

O Itaú BBA estima que a autoridade monetária deverá começar a cortar as taxas de juros em agosto, com a taxa Selic encerrando 2023 a 11% ao ano - está atualmente em 13,75%.

Os setores e papéis preferidos na Bolsa

Commodities

No relatório, o estrategista do Itaú BBA destacou um grande interesse de investidores estrangeiros em falar sobre a Petrobras (PETR3; PETR4), mas as discussões se concentraram principalmente em políticas e leis governamentais, e não no preço da commodity. “Os clientes ficaram bastante divididos sobre essa posição.”

Entre os nomes da siderurgia, apenas a Gerdau (GGBR4) foi mencionada nas conversas, em linha com a visão do banco brasileiro de que é o melhor nome do segmento.

Segundo Sá, houve algumas dúvidas sobre a Suzano (SUZB3), com muitos temendo uma possível correção nos preços da celulose. “Também houve visões negativas para a Vale (VALE3) dado o pessimismo sobre a China. Não houve interesse pelos nomes das proteínas, apesar do valuation muito barato.”

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Financeiro

Os investidores também demonstraram, segundo o relatório, uma visão positiva para papéis do setor financeiro, mas uma posição neutra para bancos. As ações de B3 (B3SA3), XP (XP) e BTG Pactual (BPAC11) foram as principais escolhas entre os investidores dos EUA, dado que deverão se beneficiar, segundo o Itaú, da redução das taxas de juros, seja por meio de ganhos mais altos ou via expansão de múltiplos.

Para o Itaú BBA, o preferido dentro do setor é B3, dado os fundamentos sólidos, a alta liquidez e o valuation atrativo, de 15x o preço sobre o lucro (P/L), oferecendo um desconto de cerca de 30% em relação às bolsas internacionais.

“Para os grandes bancos, compartilhamos nossa visão mais cautelosa sobre o crescimento dos NPL [empréstimos com atrasos de pagamento] e recomendamos que os investidores mudem para esses nomes financeiros. Nossa escolha para grandes bancos continua sendo Banco do Brasil (BBAS3), por conta do valuation”, escreveu Sá.

Utilities e shopping centers

Nas conversas, os investidores estrangeiros também compartilharam visões positivas para o setor de utilities e de shopping centers, destacou o relatório, dada a provável redução dos rendimentos dos títulos do Tesouro com o fim das incertezas. Os principais nomes citados foram Equatorial (EQTL3), Eletrobras (ELET3; ELET6), Energisa (ENGI11) e Sabesp (SBSP3).

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“Discutimos as perspectivas de preços de energia, excesso de oferta e hidrologia, bem como o processo de renovação de concessões das distribuidoras. Estamos muito otimistas com a Sabesp, dado seu valuation atrativo e maiores chances de privatização”, escreveu o estrategista do banco.

Alguns clientes mencionaram ainda Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3), “mas estamos mais céticos quanto aos seus desafios de privatização”, destacou Sá.

Dentre os shoppings, Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI3) e brMalls (BRML3) foram citados pelos investidores, sendo o último o nome preferido do BBA no segmento.

Consumo e varejo

De acordo com o Itaú BBA, a maioria dos investidores consultados concordou que os segmentos de consumo e varejo serão os principais beneficiados com os juros mais baixos e com os incentivos governamentais para impulsionar os gastos.

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No espaço do varejo alimentar, a preferência continua no Assaí (ASAI3), embora alguns tenham demonstrado interesse por Grupo Mateus (GMAT3). Entre as demais varejistas, Lojas Renner (LREN3) e Arezzo (ARZZ3) foram os mais consensuais, enquanto alguns investidores citaram Raia Drogasil (RADL3) e Grupo Soma (SOMA3).

No e-commerce, o Mercado Livre (MELI) continua sendo a holding principal da maioria dos clientes, que permanecem otimistas com as perspectivas da empresa.

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Por outro lado, o estrategista do Itaú BBA destacou “visões muito negativas” para Magazine Luiza (MGLU3), Via Varejo (VIIA3) e Americanas (AMER3).

Outros setores

Durante as conversas, outros nomes também foram citados pelos investidores. Segundo o Itaú BBA, Hapvida (HAPV3) foi o único nome citado na área da saúde, com investidores cada vez mais construtivos. Além disso, muitos investidores disseram gostar de Localiza (RENT3), dada a qualidade da empresa e sua liquidez.

A WEG (WEGE3) foi citada como uma boa escolha, dada a qualidade da empresa e o forte crescimento esperado para os próximos anos. “Espera-se que a empresa se beneficie da tendência de transição energética que provavelmente continuará”, escreveu Sá.

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Impacto da alta de juros nos EUA

Durante as conversas com o Itaú BBA, investidores estrangeiros também afirmaram que a dinâmica da inflação e das taxas dos EUA provavelmente vão afetar o apetite por investimento no Brasil.

Segundo o relatório, os investidores ficaram surpresos com a resiliência da inflação dos EUA e com as perspectivas de quão agressivo o Fed pode ter que ser para conter a inflação. O consenso apontou para um pico de 4,5% a 5% das taxas, que estão atualmente no patamar entre 3,00% e 3,25%.

“Dito isso, muitos fundos globais que estão perdendo dinheiro nos EUA estão menos dispostos a correr riscos como investir no Brasil, dadas todas as incertezas. Alguns clientes mencionaram que a estabilidade nos EUA poderia incentivar os fundos a alocar mais dinheiro no Brasil”, escreveu o BBA.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.