Exclusivo: XP cobra na Justiça dívida de R$ 8,2 mi do bilionário Carlos Wizard

Empresário sofre ação de execução depois de não pagar 2 parcelas de empréstimo original de R$ 30 milhões, segundo processo na Justiça de SP

Carlos Wizard
24 de Outubro, 2022 | 03:23 PM

Bloomberg Línea — A Justiça de São Paulo deu três dias para que o empresário Carlos Wizard Martins, uma das pessoas mais ricas do Brasil, pague uma dívida de R$ 8,2 milhões com o Banco XP, que pertence à XP Inc (XP).

Em despacho deste domingo (23), o juiz Carlos Eduardo Borges Fantacini, da 26ª Vara Cível de São Paulo, atendeu a pedido feito pela XP e intimou Wizard e a Orion Consultoria Empreendimentos e Participações Ltda, que tem o empresário como sócio, para que efetuem o pagamento. Wizard tem ainda 15 dias para recorrer da execução ou para pedir o parcelamento do débito.

Wizard e a Orion também devem, segundo a sentença, indicar em cinco dias quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores, com prova documental.

A intimação atende a uma ação de execução de título extrajudicial movida pela XP, que cobra uma dívida de R$ 8.221.119,81 da Orion e de Wizard com o Banco XP. A ação, à qual a Bloomberg Línea teve acesso, foi ajuizada na última sexta-feira (21) na 26ª Vara Cível de São Paulo.

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Wizard é um dos empresários com atuação no ramo de franquias mais conhecidos e bem-sucedidos do país. O seu patrimônio, junto com a família, foi recentemente estimado em R$ 3,4 bilhões pela Forbes.

Ele comanda atualmente o grupo Sforza, holding estabelecida após a venda da escola de idiomas Wizard e do grupo educacional Multi ao britânico Pearson por R$ 1,7 bilhão em 2013 e que detém as marcas esportivas Topper e Rainha e as redes Mundo Verde, KFC, Taco Bell e Pizza Hut no mercado brasileiro.

Procurada pela Bloomberg Línea, a Sforza Holding, grupo de investimentos do empresário Carlos Wizard Martins, disse estar com dificuldades para administrar as suas dívidas. Em nota enviada na terça-feira (25), a holding disse que atua em setores “severamente afetados pela pandemia de Covid” e que contratou uma consultoria para reestruturar os débitos de curto e médio prazos.

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As renegociações de dívida estão sendo tentadas “com todos os bancos com os quais a Sforza mantém operações de crédito”. A empresa não informou o valor total de seus débitos.

De acordo com o comunicado, a Sforza investe nas áreas imobiliária, de gestão de ativos e private equity. Além dos impactos da crise da pandemia, disse a holding, seus negócios também foram afetados pela alta das taxas de juros a partir do segundo semestre de 2021, o que aumentou o valor total das dívidas.

Ação

A ação de execução é contra a Orion Consultoria Empreendimentos e Participações Ltda, decorrente de um empréstimo de R$ 30 milhões, formalizado em 22 de abril de 2021 por meio de uma CCB (Cédula de Crédito Bancário). Wizard, um dos sócios da Orion, figura como devedor solidário na CCB.

O empréstimo previa originalmente o pagamento da dívida por meio de 18 parcelas mensais de R$ 1.764.467,13, totalizando R$ 31.760.409,24 ao fim do período. Uma das cláusulas estabelecia que o eventual não pagamento nos prazos fixados implicaria o vencimento antecipado da dívida remanescente.

Na ocasião, em garantia ao pagamento das prestações estabelecidas na CCB, a Orion ofereceu ao Banco XP - como alienação fiduciária - uma Cédula de Depósito Bancário no valor de R$ 15 milhões.

Novos aditivos alteraram o chamado Custo Efetivo Total da operação, que inclui a soma de todos os encargos, e o valor das parcelas mensais remanescentes - esta alteração aconteceu em março deste ano.

Segundo os autos da ação, a parcela que venceu em 21 de setembro de 2022 não foi paga, o que levou à aplicação da cláusula de vencimento antecipado da dívida remanescente.

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“Em razão disso, em 18 de outubro de 2022, o Banco XP enviou 2 (dois) comunicados à Orion, para lembrá-la de que (i) a parcela com vencimento em 21 de setembro de 2022 já estava vencida e precisava ser imediatamente paga; e (ii) e existia uma outra parcela a vencer em poucos dias (em 21 de outubro de 2022), que deveria ser adimplida na data acordada; tudo sob pena de serem tomadas as providências cabíveis e previstas na CCB”, aponta a ação de execução movida pelo Banco XP.

“Lamentavelmente, no entanto, a Orion ignorou por completo a mensagem enviada pelo Banco XP e nunca a respondeu. Diante disso, na data de hoje [21 de outubro], o Banco XP declarou o vencimento antecipado de todas as parcelas em aberto da CCB”, aponta a petição.

O Banco XP executou as garantias oferecidas em contrato, mas elas não foram suficientes para cobrir toda a dívida remanescente: ficou em aberto o valor acima citado de R$ 8,221 milhões, motivo da ação de execução de título extrajudicial.

Segundo fontes do mercado, que pediram anonimato porque o assunto é privado, empresas de Carlos Wizard Martins têm dívidas na casa de dezenas de milhões de reais com outros bancos. O seu patrimônio está concentrado na pessoa física, e a razão para o não pagamento da dívida com o Banco XP seriam dificuldades de liquidez - ou seja, para transformar ativos em dinheiro.

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Entrevista recente à Bloomberg Línea

Carlos Wizard concedeu uma entrevista à Bloomberg Línea há dois meses, em agosto. Na ocasião, comentou a eleição presidencial e explicou o seu afastamento da política e o foco nos negócios. “Vi que o Brasil é muito mais forte que a política. Se vencer a esquerda, parabéns; se for a direita, parabéns. Neste ano, estou 100% voltado ao empreendedorismo porque é a fórmula que eu acredito que consegue realizar a transformação de um indivíduo e de uma sociedade”, afirmou o empresário.

Neste ano, o empresário lançou uma espécie de MBA para crianças e adolescentes, a partir dos 8 anos até os 16 ou 17 anos, idade em que, em geral, o jovem está no fim do ensino médio.

Chamada de Mister Wiz, o novo negócio conta com 100 franqueados em oito estados. A companhia afirma que “o programa de ensino anual irá oferecer aulas presenciais e remotas, material de ensino, como livros e apostilas, jogos educacionais, atividades lúdicas e deverá contar com 80 horas/aula”.

O Mister Wiz será um programa pago, com mensalidades de R$ 200 a R$ 250. “Entendemos que hoje os jovens, especialmente os adolescentes, estão muito mais focados em ter um negócio próprio do que um emprego fixo”, disse. “Na minha geração, o sonho de todo jovem era começar como estagiário e se aposentar na mesma empresa. Esse sonho já não existe. Hoje o adolescente pensa em ter uma startup.”

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* Reportagem atualizada em 26/10, às 13h, para incluir a resposta da Sforza Holding, grupo de investimentos de Carlos Wizard Martins.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.

Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.