Doria anuncia desfiliação do PSDB e abre consultoria de negócios

Empresário tentou ser candidato a presidente pela legenda neste ano, mas nunca conseguiu passar dos 2% das intenções de voto e nem superar rejeição

Depois de 22 anos, João Doria se desfilia do PSDB para se dedicar a consultoria de negócios
19 de Outubro, 2022 | 12:40 PM

Bloomberg Línea — João Doria, ex-governador de São Paulo e ex-prefeito da capital paulista, anunciou nesta quarta-feira (19) sua desfiliação do PSDB, após 22 anos na legenda.

A assessoria de imprensa do empresário informou que ele abriu uma empresa, chamada D Advisor, para prestar consultoria de negócios em vários setores. Doria não vai se filiar a um novo partido e nem deve voltar a participar da política institucional, conforme o comunicado.

“Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida”, disse, em nota. “Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964. Venci todas as eleições das quais participei.”

Doria deixa o partido depois de sua tentativa frustrada de concorrer à Presidência da República nas eleições deste ano. Ele foi escolhido candidato em eleições prévias internas do PSDB e tentou se colocar como uma “terceira via” entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas nunca passou dos 2% das intenções de voto e enfrentou forte rejeição.

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Por isso, o PSDB decidiu desistir de lançar um candidato próprio e aderiu à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB), que ficou com pouco mais de 3% dos votos válidos no primeiro turno. A vice de Tebet era a também senadora Mara Gabrilli, do PSDB de São Paulo. Tebet anunciou apoio a Lula no segundo turno, mas Gabrilli disse que vai votar em branco.

Na nota divulgada nesta quarta, Doria cita tucanos históricos, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Mario Covas e Franco Montoro, e deixa um recado: “Com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro. E sempre em defesa da democracia, da liberdade e do progresso social”.

O partido está dividido no segundo turno das eleições. Enquanto o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que foi vice de Doria, declarou apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos) na corrida pelo governo do estado, o PSDB declarou apoio a Fernando Haddad (PT) - derrotado por Doria no primeiro turno da eleição para prefeito de 2016.

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Na corrida presidencial, Mara Gabrilli anunciou voto em branco para evitar apoiar Lula ou Bolsonaro. Já os membros históricos do partido, como FHC e Serra, citados na nota de Doria, declararam apoio a Lula. Membros do governo FHC, especialmente a equipe que elaborou o Plano Real, também aderiram à candidatura do petista contra Bolsonaro.

Os deputados federais eleitos pelo partido, no entanto, estão divididos entre apoiar Lula ou Bolsonaro.

Doria foi eleito governador em 2018 entoando o slogan “Bolsodoria”. Ou seja, era uma campanha antipetista que contava com apoio do então candidato Jair Bolsonaro.

No início de 2019, no entanto, Doria, já governador, rompeu com o presidente da República e passou a se considerar de oposição. A disputa só se acirrou com o passar dos anos, especialmente depois do estouro da pandemia.

O ex-governador de São Paulo procurava seguir as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater o coronavírus e dava apoio ao Instituto Butantan, estatal de pesquisa científica. Já Bolsonaro era contra as medidas da OMS e deu diversas declarações para desacreditar as vacinas.

A primeira dose de vacina aplicada no Brasil, em janeiro de 2021, foi desenvolvida pela Butantan e aplicada por Doria no braço de uma enfermeira da rede estadual paulista.

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.