Reajuste da Petrobras anulou desconto com desoneração do diesel

Aumento do diesel desatou conflagração política na base do próprio presidente no Congresso e em categorias, como os caminhoneiros

Refinaria Alberto Pasqualini, da Petrobras, em Canoas (RS)
11 de Março, 2022 | 07:21 PM

Bloomberg Línea — O reajuste anunciado pela Petrobras (PETR4) na quinta-feira (10) anulou o potencial desconto ao consumidor que a desoneração dos tributos estaduais e federais que o Congresso Nacional aprovou nesta semana.

Segundo os cálculos apresentados pelo ministro Paulo Guedes nas reuniões em que defendeu o projeto de desoneração dos combustíveis, a redução de PIS/Cofins representará uma redução de R$ 0,33 por litro do diesel e o corte de tributos estaduais completaria a conta com outros R$ 0,27.

No total, seria uma redução de R$ 0,60 que o projeto prometia entregar como meio de aliviar o consumidor por causa da escalada dos preços internacionais do petróleo, sem mexer na política de preços de Petrobras ou criar algum tipo de subsídio.

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Com o aumento de ontem, o valor do diesel nas refinarias passou de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, aumento de R$ 0,90 (24,9%).

Onipresente na cadeia de abastecimento do Brasil, o diesel tem impacto direto na inflação e o aumento da Petrobras provocou ira da própria base do governo Bolsonaro. Aliado mais poderoso do presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi ao Twitter para criticar a “insensibilidade da Petrobras” e chamar a medida de “tapa na cara”.

No Senado, as críticas à estatal também se avolumaram ainda durante a sessão que aprovou o projeto de desoneração. “Eu lamento porque, na construção do acordo, não estava previsto que a Petrobras faria esse reajuste”, reclamou o líder do governo, Eduardo Braga (MDB-AM).

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CONFLAGRAÇÃO POLÍTICA: Embora seja controlada pela União, a Petrobras é uma companhia de capital aberto com milhões de acionistas individuais. O principal impacto que a empresa enfrentou é o da disparada dos preços globais do barril de petróleo, que se aproximou de US$ 130, com a guerra entre Rússia e Ucrânia. É o patamar mais alto desde 2008.

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Embora exporte óleo bruto, o país importa derivados como diesel e gasolina. Pelas contas dos importadores, se a Petrobras segurasse artificialmente o preço dos combustíveis poderia haver desabastecimento porque empresas privadas deixariam de comprar combustíveis mais caros fora para revendê-los aqui. De acordo com a Abicom (Associação dos Importadores de Combustíveis), o preço do diesel vendido pela Petrobras estava 40% mais baixo do que o praticado no exterior.

Aliados do presidente nas últimas eleições, os caminhoneiros estrilaram com o reajuste e acusam o governo de inviabilizar a atividade.

“Eu tenho mais de 40 áudios no meu celular, só de hoje, com motoristas dizendo que estão parando, que estão em determinado Estado e não tem condição de voltar para casa, que vai deixar o caminhão e voltar para casa de ônibus. O brasileiro não tem um minuto de paz. Nós não ganhamos em dólar”, disse Wallace Landim, o Chorão, presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), em entrevista à rádio Bandeirantes.

“A felicidade do acionista [da Petrobras] não pode ser a desgraça de uma categoria e do resto da população”, afirmou.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.