Gigante de contêineres quer fatia em transportadora aérea italiana

Relacionamento entre empresas de transporte aéreo e marítimo não é comum, mas pode trazer benefícios para as duas partes

Empresa se tornou a maior linha de contêineres do mundo e controla a maior empresa de cruzeiros do mundo, a MSC Cruzeiros
Por Daniele Lepido - Chiara Albanese
25 de Janeiro, 2022 | 08:33 PM

Bloomberg — A Mediterranean Shipping Co. afirmou estar buscando uma participação no controle da nova transportadora italiana ITA Airways por meio de um acordo que também incluiria a Deutsche Lufthansa (LHA).

A transação teria valor entre 1,2 bilhão de euros e 1,5 bilhão de euros (US$ 1,4 bilhão a US$ 1,7 bilhão), segundo pessoas a par do assunto, que pediram para não serem identificadas por estarem divulgando informações privadas.

A MSC apresentou ao governo italiano uma manifestação de interesse na estatal ITA detalhando a proposta, afirmou a empresa na segunda-feira (24). A Lufthansa atuaria na qualidade de parceira industrial, segundo a manifestação, embora a alemã não tenha planos imediatos de realizar um investimento em participações, disseram outras pessoas a par da situação.

A ITA, sucessora da extinta Alitalia, é atraente pelas sinergias que ofereceria nos setores de transporte de carga e passageiros, de acordo com a MSC. A transportadora com sede em Genebra, de propriedade da família italiana Aponte, tornou-se recentemente a maior linha de contêineres do mundo em um setor riquíssimo depois que a demanda por bens de consumo impulsionada pela pandemia levou a empresa ao ano mais lucrativo de sua história. A MSC também opera a terceira maior marca de cruzeiros do mundo.

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O interesse pela ITA aumentou desde que ela entrou em operação em outubro. O presidente Alfredo Altavilla deixou claro que está posicionando a empresa a favor do investimento de uma grande companhia aérea em um setor dominado por grandes players, estabelecendo a meta de firmar um acordo até o final deste ano.

A Lufthansa, mais frequentemente ligada ao ITA que outras transportadoras, ajudaria a desenvolver uma estratégia comercial para o negócio, embora o trabalho para tanto ainda não esteja avançado, segundo fontes cientes da situação. Nesta terça-feira, as ações caíam 0,8%, chegando a 6,50 euros (aproximadamente US$ 7,30) às 9h05 em Frankfurt (5h05 no horário de Brasília).

Os executivos da empresa alemã disseram anteriormente que a rede da nova companhia aérea complementaria sua própria rede, dando como exemplo o hub da ITA em Roma, que traria mais passageiros a voos para a África operados por sua unidade Brussels Airlines. A colaboração nos voos pelo Atlântico Norte também neutralizaria a concorrência entre os voos da Lufthansa saindo de Munique e os serviços da empresa italiana em Milão.

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Sem restrições

A Lufthansa está encerrando as restrições à atividade de fusão que veio com seu socorro pelo governo de 9 bilhões de euros (aproximadamente US$ 10 bilhões). A Alemanha ainda possui uma participação, mas o maior grupo de companhias aéreas da Europa quitou todos os seus empréstimos estatais, ficando livre para investimentos estrangeiros se assim o desejar.

Uma outra possível concorrente, a Delta Air Lines (DAL), disse este mês que não está interessada, embora a ITA tenha assumido o lugar da Alitalia na aliança global Sky Team da empresa com sede em Atlanta.

A disputa pela ITA pode ser o prenúncio de outro capítulo na saga de décadas da Itália em busca de uma transportadora estatal viável. Enquanto isso, as companhias aéreas tentam superar a covid, que arrasou a demanda por dois anos. A pandemia provou ser o golpe de misericórdia para a Alitalia, após esta já ter acumulado muitas dívidas.

Altavilla também progrediu no corte de pessoal da antecessora da ITA e planeja modernizar a frota com um acordo de 59 jatos da Airbus (AIR). Ainda assim, ele disse que a empresa é pequena demais para sobreviver sozinha, mesmo depois que a Itália ofereceu mais de 700 milhões de euros (aproximadamente US$ 789 milhões) há cerca de três meses.

Aumento nos fretes

A MSC se beneficiou de um aumento nas taxas de frete durante a pandemia; em Xangai, as taxas praticamente quintuplicaram nos últimos 18 meses. A empresa desbancou a A.P. Moller-Maersk (MAERSK-B) como a maior linha de contêineres do mundo em capacidade, segundo dados da Alphaliner publicados este mês.

O grupo, fundado por Gianluigi Aponte, que continua sendo o presidente, opera uma frota de 560 embarcações para contêineres em cerca de 500 portos em todo o mundo. Também controla a MSC Cruzeiros, a maior empresa de cruzeiros de capital fechado do mundo, ao passo que detém participação majoritária na empresa de gestão portuária Terminal Investment.

Embora relações entre o setor de transporte aéreo e marítimo sejam relativamente raras, a rival francesa da MSC, a CMA CGM, começou um grande movimento em direção à aviação, com planos de estabelecer uma frota de nove aeronaves de carga da Airbus.

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A MSC disse que exige um período de 90 dias úteis para realizar negociações exclusivas sobre um possível acordo. O grupo já está pleiteando uma grande aquisição depois de oferecer em dezembro a compra do negócio africano de transporte e logística da Bollore por 5,7 bilhões de euros (aproximadamente US$ 6,4 bilhões) incluindo dívidas.

--Com a colaboração de Alberto Brambilla e William Wilkes.

--Esta notícia foi traduzida por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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