Uber desiste de entregar comida no Brasil a partir de março

Companhia diz que mudou sua estratégia de delivery no país e que o Uber Eats só vai trabalhar com restaurantes até o próximo dia 7 de março

Uber desiste de entregar comida no Brasil, encerrando o serviço de intermediação com restaurantes, que vai até o próximo dia 7 de março
06 de Janeiro, 2022 | 02:02 PM

São Paulo — A Uber (UBER) anunciou nesta quinta-feira (6) a desativação do serviço de intermediação de entrega de comida de restaurantes a partir da segunda semana de março. Em nota, a companhia norte-americana disse que decidiu alterar sua estratégia de delivery no Brasil. “A partir de agora, a empresa vai trabalhar em duas frentes: com a Cornershop by Uber, para serviços de intermediação de entrega de compras de supermercados, atacadistas e lojas especializadas; e de entrega de pacotes pelo Uber Flash”, informou.

Atualmente, o Uber Eats enfrentava a concorrência de outros aplicativos, como o iFood e Rappi. “O serviço de intermediação de entrega de comida continuará disponível até o dia 7 de março. Depois desta data, os usuários poderão usar o app do Uber Eats para aproveitar a melhor seleção de supermercados e atacadistas do Brasil, assim como itens de decoração, papelaria, bebidas e produtos para pets, entre outros. A Cornershop by Uber está disponível em mais de 100 cidades em todo o Brasil e, em 2021, quase triplicou o número de pedidos”, disse a Uber, no comunicado.

Veja mais: Mais que delivery: Como as ‘foodtechs’ reinventam as entregas rápidas na AL

Segundo a filial brasileira da gigante norte-americana de mobilidade urbana, a Uber também expandirá o Uber Direct, produto corporativo que permite que lojas façam entregas no mesmo dia para seus clientes. Segundo informa a nota, esta modalidade cresceu cerca de 15 vezes em número de viagens ao longo dos últimos 12 meses, impulsionada pela demanda de grandes marcas que aderiram ao serviço.

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“A Uber segue seu compromisso com seus mais de 1 milhão de motoristas parceiros que geram renda fazendo viagens e entregas pela plataforma – o volume de viagens no Brasil já é maior do que o registrado no período anterior à pandemia. A empresa seguirá expandindo produtos para outros meios de transporte, como motos e táxis”, afirmou a companhia.

  • Contexto negativo

Com a piora da perspectiva para a economia brasileira em 2022, com aumento dos juros, desvalorização do real, redução do poder de compra e desemprego em patamar elevado, o setor de restaurantes terá mais dificuldades para manter suas margens de lucro com a menor disposição dos consumidores de realizar gastos com refeições.

Atualmente, o Uber perde motoristas insatisfeitos com a cobrança de percentuais sobre o valor das corridas, o que gerou uma onda de reclamações nas redes sociais sobre a demora em se conseguir uma corrida pelo aplicativo, além de cancelamentos. A violência nas grandes cidades brasileiras, em que motoristas de aplicativos são alvos de assaltos principalmente em bairros periféricos, também desestimula a atividade desses profissionais. A proliferação de novos aplicativos nacionais e regionais, com promessas de pagar maiores rendimentos do que o Uber, compõe um cenário desfavorável ao crescimento da companhia norte-americana no país.

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Há ainda uma perspectiva de maiores custos para players do segmento de delivery. O presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou, ontem, um projeto de lei que cria medidas de proteção, como ajuda financeira, para entregadores de aplicativos durante a pandemia.

Veja mais: Uber vê retomada de corridas corporativas no Brasil com vouchers

Pedir comida por aplicativo se tornou um hábito dos brasileiros com a pandemia da Covid-19. Em uma pesquisa realizada em setembro de 2020 pelo Instituto QualiBest chamada “Uso de Aplicativos Delivery de Refeições” detectou que dos 1.500 entrevistados, 76% dos usuários já utilizaram algum app para delivery de refeições prontas, contra um índice de 50% registrado em 2018.

A procura por apps de delivery atingiu o seu pico em março de 2020, período em que os “lockdowns” se iniciaram. Em 2019, o top 10 da categoria “Comer e Beber” era destaque por apenas 3 apps de delivery, logo após, em 2020, já representava 5 apps, mas observando somente o mês de março do ano passado a mesma categoria possuía um total de 7 aplicativos de delivery. Em 2021, o ranking atingiu 6 apps de delivery, sendo eles: Ifood, Zé Delivery, 99 Food, McDonald’s, Uber Eats e Burger King.

Outro fator importante é a expansão do setor nas categorias de serviços de delivery, que também teve crescimento. Os aplicativos que antes se dedicavam apenas a refeições prontas para o consumo, hoje possuem categorias exclusivas em seus apps com categorias como “Mercado” e “Farmácia”. Os supermercados, por sua vez, popularizaram os processos de vendas online e as entregas, atingindo um número maior de clientes e até os mais conservadores.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.