Resultados da Apple e Amazon indicam um Natal não muito feliz

Crise na cadeia de suprimentos afetou as duas gigantes; possibilidade é de eliminar os lucros do trimestre corrente

Duas das mais importantes empresas de bens de consumo podem ter um quarto trimestre devastador
Por Matt Day - Spencer Soper - Mark Gurman
30 de Outubro, 2021 | 11:59 AM

Bloomberg — A Apple e a Amazon.com relataram resultados trimestrais decepcionantes, sinalizando que a crise da cadeia de suprimentos global está prejudicando até mesmo as empresas mais poderosas, eliminando centenas de bilhões de dólares de seus valuations de mercado combinados.

A Amazon, maior empresa de e-commerce do mundo, disse que todo o lucro do quarto trimestre poderia ser eliminado por causa de um aumento no custo de mão de obra e execução de pedidos. A Apple, por sua vez, disse que perdeu US$ 6 bilhões em faturamento por não conseguir atender à demanda por seus produtos e pode perder mais no próximo trimestre.

Contudo, juntas, as gigantes de tecnologia enviaram uma mensagem clara aos investidores: O final do ano vai ser um período turbulento. À medida que a economia se recupera da pior pandemia em um século, fornecer produtos suficientes aos consumidores é um desafio assustador para quase todos.

“Vai ser um fim de ano difícil, com certeza”, disse Tuna Amobi, analista da CFRA Research. “As expectativas vão diminuir em todos os níveis”.

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No último trimestre, a Apple relatou receita inferior à projetada, fazendo com que suas ações caíssem 3,8% nas negociações de pré-mercado dos Estados Unidos na sexta-feira (29). A Amazon caía quase 5%.

O CEO da Apple, Tim Cook, disse aos investidores que o faturamento teria sido US$ 6 bilhões mais alto sem as restrições no suprimento – principalmente a falta de semicondutores.

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A escassez está afetando “a maioria de nossos produtos”, disse ele em uma teleconferência. “A demanda está muito robusta”.

A empresa tem uma série de novos dispositivos que precisa chegar aos consumidores antes do fim do ano, período que deve bater recordes de vendas. Além da atualização do iPhone, a Apple lançou novos relógios, iPads, computadores Mac e outros itens.

As restrições da cadeia de suprimentos dificultarão ainda mais a compra desses itens. Cook espera que o problema ofusque o prejuízo de US$ 6 bilhões do trimestre passado.

A empresa sediada em Cupertino, Califórnia, não forneceu uma orientação formal para o trimestre atual, mas os analistas projetaram receita de cerca de US$ 120 bilhões. A Apple disse que todos os seus dispositivos, exceto o iPad, teriam crescimento de vendas em termos anuais no trimestre. Os problemas no abastecimento superarão o crescimento do iPad, declarou Cook.

Na Amazon, os preparativos para o fim do ano vão custar caro. A empresa avisou Wall Street que terá de gastar bilhões de dólares contratando trabalhadores, pagando mais e até mesmo levando caminhões parcialmente vazios a seus destinos – tudo para garantir que os empecilhos da cadeia de suprimentos não atrapalhem a temporada de compras natalinas.

As enormes despesas podem acabar com o lucro da Amazon durante os últimos três meses do ano, disseram os executivos. A empresa também divulgou receitas e lucros do terceiro trimestre que ficaram aquém das projeções. As ações caíram cerca de 4% durante o trading.

A receita será de US$ 130 bilhões a US$ 140 bilhões no período encerrado em dezembro, alegou a empresa de Seattle – previsão menor que o esperado pelos analistas. O lucro operacional pode chegar a zero, segundo a Amazon, sendo um revés para uma empresa que colheu bilhões de dólares em lucros a cada trimestre desde o início de 2018.

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Os resultados refletiram o primeiro período da administração do novo CEO Andy Jassy, que assumiu o comando de Jeff Bezos em julho. As ações da Amazon subiram 5,8% este ano, com desempenho inferior ao do mercado em geral, já que os consumidores que optaram pelas compras on-line em números recordes durante a pandemia começaram a retomar as compras presenciais, refeições em restaurantes e viagens.

A Amazon sinalizou que o crescimento mais lento das vendas – e os altos gastos em áreas como salários e novos galpões – persistiria até o final do ano.

Os investidores esperavam uma melhoria nas condições desde a perspectiva relativamente decepcionante da Amazon em julho, disse John Tomlinson, diretor de pesquisa da M Science.

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“As pessoas esperavam que este trimestre fosse o pior”, disse Tomlinson, fazendo referência ao período encerrado em 30 de setembro. “Não parece ser o caso. Alguns dos desafios não parecem ter piorado, mas também não melhoraram”.

Mas a empresa tem uma arma secreta na Amazon Web Services, unidade de computação em nuvem que gera a maior parte de seu lucro. O negócio registrou faturamento de US$ 16,1 bilhões – aumento de 39%. Foi a taxa de crescimento mais rápida da divisão desde o início de 2019.

Os problemas da Apple eram mais previsíveis, disse Michael Pachter, analista da Wedbush Securities. As pessoas querem produtos específicos, mas a Apple não consegue fabricá-los com rapidez suficiente para atender à demanda, afirmou.

Por outro lado, as dificuldades da Amazon destacam quantos fatores estão conspirando para a elevação dos custos, declarou Pachter.

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“Tem muita coisa estranha acontecendo”, disse. “Não vemos uma inflação como esta há 40 anos, e é tudo devido à oferta restrita, sobretaxas relacionadas ao Covid e aumento dos custos de mão de obra.”


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