Funcionários do FMI cobram diretora sobre alívio em alerta climático ao Brasil

Kristalina Georgieva suavizou mensagem sobre alerta de risco climático após o governo do presidente Jair Bolsonaro se opor à linguagem utilizada

Kristalina Georgieva: “Objetivo de preservar a integridade do trabalho da equipe enquanto buscava entender as preocupações das autoridades”
Por Eric Martin
26 de Outubro, 2021 | 05:19 PM

Bloomberg — Quase 200 funcionários do Fundo Monetário Internacional assinaram uma petição pedindo à diretora-gerente Kristalina Georgieva para esclarecer detalhes das ações que levaram ao abrandamento de um alerta sobre riscos ambientais para a economia brasileira.

A petição, assinada por 194 funcionários do fundo com sede em Washington, foi enviada pelo ombudsman do FMI ao escritório de Georgieva na segunda-feira, de acordo com um e-mail interno do fundo visto pela Bloomberg News.

“Nós, os membros da equipe abaixo assinados, gostaríamos de expressar nossas preocupações em relação a um assunto que é caro aos nossos corações: o respeito pelas regras e procedimentos que salvaguardam a independência técnica da equipe”, escreveram.

O número de signatários equivale a cerca de 7% dos 2.700 funcionários globais do FMI. Essas petições são raras na história recente da organização, de acordo com pessoas familiares às operações do fundo, que pediram para não serem identificadas.

PUBLICIDADE

O movimento vem depois de a Bloomberg News noticiar em 8 de outubro que funcionários do fundo, incluindo Georgieva, que fez da mudança climática uma marca, suavizaram a mensagem sobre o Brasil após o governo do presidente Jair Bolsonaro se opor à linguagem utilizada.

A decisão, ocorrida no final de julho, envolveu a principal avaliação anual do FMI, conhecida como consulta do Artigo IV, para a maior economia da América Latina. Os gerentes inicialmente deram seu selo de aprovação ao relatório da equipe em 30 de julho, para revogá-lo horas depois e, posteriormente, remover a formulação contestada pelo Brasil, confirmaram funcionários do FMI no início do mês quando questionados pela Bloomberg News sobre o assunto.

“A administração garantiu à equipe que todas as políticas e procedimentos do fundo foram respeitados em relação à consulta do Artigo IV do Brasil e respondeu em detalhes a todas as questões levantadas”, Gerry Rice, porta-voz do FMI, disse terça-feira em uma resposta por e-mail.

PUBLICIDADE

Georgieva tem enfrentado algum descontentamento por causa de alegações de uma investigação do escritório de advocacia WilmerHale, conduzida para o Banco Mundial, de que ela teria pressionado a equipe, em 2017, a manipular dados da China para melhorar a classificação do país no relatório “Doing Business”. Georgieva, 68, negou qualquer irregularidade.

O conselho do FMI no início deste mês disse que sua investigação não demonstrou conclusivamente que Georgieva desempenhou um papel impróprio no relatório em questão, que classifica o clima para negócios dos países.

Na petição, que cita o artigo da Bloomberg sobre o tema do Brasil, os funcionários do FMI perguntaram a Georgieva se seu escritório buscou a remoção da linguagem relacionada à mudança climática do relatório do Brasil e se isso violou as políticas de compartilhamento e negociação de relatórios do corpo técnico.

“Nosso principal resultado é conhecido como ‘relatório do corpo técnico’ por uma razão”, disse o corpo técnico do FMI na petição. Se os países discordarem, “nossas políticas oferecem vários caminhos construtivos”, mas “a negociação do texto é explicitamente proibida por nossas políticas”.

Georgieva, em um e-mail para a equipe do FMI na segunda-feira visto pela Bloomberg News, disse que todas as regras e procedimentos do fundo foram respeitados no caso do Brasil.

“A equipe, incluindo eu, desempenhou um papel construtivo, com o objetivo de preservar a integridade do trabalho da equipe enquanto buscava entender as preocupações das autoridades”, escreveu ela, referindo-se ao governo brasileiro.

Veja mais em Bloomberg.com

PUBLICIDADE

Leia também

Em meio à escassez, defensivos mudam rota e chegam de avião ao Brasil

Fusões e aquisições globais atingem recorde de US$ 4,1 trilhões

SoftBank lidera investimento de US$ 75 mi na Pipefy, de software