Defensivos ganham status de popstar e chegam de avião ao Brasil

Com entregas atrasadas por falta de matérias-primas e dificuldades logísticas, indústrias buscam alternativas para minimizar quebra na cadeia de suprimento

Empresas trazem ingredientes ativos de avião para serem formulados no Brasil numa tentativa de evitar desabastecimento
26 de Outubro, 2021 | 02:14 PM

Bloomberg Línea — Diante da possibilidade real de o Brasil viver um “apagão” de insumos nesta safra, algumas indústrias já se adiantaram para tentar minimizar os efeitos negativos da falta de suprimento. Para ganhar tempo, os produtos estão partindo de diferentes origens como China, Índia, Estados Unidos e até Europa e chegando ao Brasil de avião, com status de celebridade e segurança dedicada.

A Syngenta, multinacional de sementes e defensivos controlada pela chinesa ChemChina, liderou esse movimento. A empresa utilizou três aviões para trazer 10 toneladas de princípios ativos ao Brasil. A matéria-prima está sendo formulada para que sejam desenvolvidos os produtos que efetivamente chegarão aos agricultores.

Procurada, a companhia, que está em período de silêncio por conta do processo de abertura de capital na China, disse por meio de sua assessoria de imprensa que: “estamos fazendo o possível para atender nossos clientes e garantir o suprimento dos produtos”.

A medida pouco usual é uma forma de tentar conter a escassez de produtos. O próprio Ministério da Agricultura já considera real a possibilidade de faltar defensivos agrícolas e fertilizantes na safra 2021/22, que já teve seu plantio iniciado. A maior preocupação é com a segunda safra, que começa a ser plantada entre dezembro e janeiro.

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Na avaliação da indústria, uma conjunção de fatores levou o mercado à atual situação. Durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados que tratou do tema, a diretora executiva do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Eliane Kay, disse que desde o ano passado o setor vem sentindo dificuldades pontuais, como o aumento dos custos logísticos internacionais, falta de embalagens e problemas climáticos pontuais.

Para ela, a crise energética mundial começou a ser percebida de forma mais acentuada a partir de julho deste ano. “Ao assumir seus compromissos ambientais, a China fez uma avaliação em julho do consumo de energia nas províncias durante o primeiro semestre, que passaram a ter metas de redução de consumo a partir de agosto. As províncias na zona vermelha, que são a maioria, tiveram uma redução na disponibilidade de energia de até 90% e algumas são onde estão localizados os parques fabris”, disse Eliane.

Liberação de registros de agrotóxicos

Do lado do governo, o Ministério da Agricultura tem buscado sensibilizar sua equipe técnica interna, bem como da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ibama para, se necessário, dar celeridade na alteração de registros, ou mesmo inclusão de novas fontes, fabricantes ou formulações. “[É preciso que] nós estejamos atentos a receber essas demandas da indústria e tentar promover essas alterações para que elas tenham a legalidade e a possibilidade jurídica de garantir o suprimento da oferta desses insumos”, disse Carlos Goulart, diretor do departamento de sanidade vegetal e insumos agrícolas do Ministério da Agricultura.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.