Intel terá nova divisão para produzir chips sob encomenda voltados à IA

Para competir com Nvidia e TSMC, fabricante terá uma nova divisão para fabricar processadores dedicados à IA, desenvolvidos a pedido de outras empresas

Sede da Intel, na Califórnia, em foto de 2022
21 de Fevereiro, 2024 | 04:43 PM

Bloomberg Línea - San Jose — De olho na demanda crescente por processadores especializados e voltados para sistemas de inteligência artificial (IA), a Intel (INTC) irá criar um sistema de fabricação de chips sob encomenda direcionado especificamente para produtos para IA. A nova divisão será independente do negócio principal da empresa de produção de chips proprietários para computadores e outros dispositivos.

Durante evento realizado nesta quarta-feira (21) em San José, na Califórnia, a fabricante americana anunciou um rebranding para a iniciativa Intel Foundry, que a empresa diz ser a primeira foundry adaptada para a era da inteligência artificial.

O termo foundry (fundição em inglês) é usado no mercado de semicondutores para se referir às empresas que fabricam chips sob encomenda para companhias que apenas fazem o design dos chips, como a Apple (AAPL), e não têm fábricas próprias. A empresa líder nesse mercado de terceirização é a taiwanesa TSMC (TSM).

A iniciativa é uma estratégia da Intel para competir no crescente mercado de chips impulsionado pela demanda por sistemas de inteligência artificial. O crescimento das vendas e as expectativas de lucros têm feito subir as ações de empresas como a fabricante de chips Nvidia (NVDA) e a desenvolvedora de processadores Arm (ARM).

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A Nvidia divulga seus resultados trimestrais nesta quarta-feira após o fechamento do mercado, um resultado que é aguardado com grande expectativa por investidores

As ações da Intel caíam 3,11% nesta quarta por volta das 16h15 (horário de Brasília).

Sob a liderança do CEO Pat Gelsinger, a Intel busca reconstruir a fabricação ocidental de chips em escala, focando em cadeias de suprimentos resilientes e sustentáveis.

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Gelsinger, que havia trabalhado na empresa entre 1979 e 2009, retornou à companhia em 2021, marcando um ponto de virada para posicionar a Intel como uma provedora de capacidade de fabricação nos Estados Unidos e na Europa.

A recém-anunciada Intel Foundry introduz um modelo de dupla organização da companhia, atendendo tanto clientes internos quanto externos. Essa abordagem enfatiza a importância de gerenciar cadeias de suprimentos de forma eficaz para garantir corredores de capacidade robustos.

A organização é composta por duas entidades - Intel Foundry e Intel Products, cada uma desempenhando um papel no avanço do desenvolvimento tecnológico e fabricação global.

Falando no evento, o CEO reconheceu o poder transformador da IA, descrevendo-a como a força motriz de uma nova era na computação. A Systems Foundry for the AI Era, como ele a chama, é a resposta para os requisitos únicos da indústria.

Com um compromisso com a Lei de Moore, ele disse que a Intel amplia os limites da física, utilizando tecnologia de ponta, como litografia avançada, para continuar avançando na fabricação de semicondutores.

A Lei de Moore é uma observação empírica feita por Gordon Moore, cofundador da Intel, em 1965. Ele observou que o número de transistores em um circuito integrado (ou chip) tende a dobrar aproximadamente a cada dois anos. Essa observação foi inicialmente expressa como um artigo de revista e, ao longo do tempo, tornou-se conhecida como a Lei de Moore.

Essa “lei” se tornou uma previsão amplamente aceita e influente no setor de tecnologia, indicando que a capacidade de processamento dos chips aumentaria exponencialmente ao longo do tempo, enquanto os custos diminuiriam. Embora não seja uma lei física, a observação de Moore tem se mantido relevante por várias décadas.

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Apoio do governo americano

O governo americano garantiu à Intel US$ 1 bilhão para construir um ambiente seguro para a produção de semicondutores de ponta. O valor, no entanto, ainda pode subir. A empresa manteve conversas com o governo Biden sobre possíveis subsídios de mais de US$ 10 bilhões, que poderiam ser obtidos pela Lei de Chips e Ciência.

Conversando com Gelsinger por videoconferência durante o evento, a secretária do Departamento de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, enfatizou a importância de reduzir a dependência de uma única região e diversificar a produção de semicondutores globalmente.

Segundo a Intel, o mercado de semicondutores deve atingir US$ 1 trilhão até 2030. O plano da Intel não apenas visa atender a essa demanda crescente, mas também criar oportunidades econômicas. Segundo a Intel, a instalação de novas fábricas deverá empregar 20.000 pessoas, contribuindo para a criação de empregos e o crescimento econômico.

“Nós, os Estados Unidos, inovamos, e estamos desenvolvendo um ecossistema profundo e sustentável novamente neste país”, disse a secretária - cargo que nos EUA é equivalente a ministra. “Não queremos fazer tudo e todos os chips nos Estados Unidos, não é um objetivo razoável. Mas a gente precisa diversificar a nossa cadeia de suprimentos de semicondutores, tendo muito mais produzido nos Estados Unidos, principalmente os chips líderes de ponta, que serão essenciais para IA. Precisamos só ter mais resiliência e mais diversificação”, afirmou.

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Os esforços para fabricar chips avançados dentro dos EUA estão em linha com uma estratégia da Intel para diversificar os locais de produção dos processadores, abrindo novas fábricas em países como Alemanha, Irlanda e nos Estados Unidos.

“Não é necessário estar em Taiwan para construir os semicondutores mais avançados do mundo”, disse Stuart Pann , vice-presidente sênior e general manager da Intel Foundry Services (IFS).

-- Atualizada para incluir informações sobre as negociações da Intel com o governo americano.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups