Petrobras restringe pagamento de dividendos e frustra mercado; ações desabam na bolsa

Conselho da petroleira estatal aprovou US$ 2,9 bi em dividendos referentes ao quarto trimestre, abaixo da projeção do mercado de US$ 3,7 bi

petrobras
Por Mariana Durão
08 de Março, 2024 | 11:37 AM

Bloomberg — A Petrobras (PETR3, PETR4) divulgou patamar de dividendos inferior ao esperado pelo mercado, em um sinal de que a líder de pagamento de proventos do setor pode ser coisa do passado. As ações despencaram.

O conselho da petroleira estatal aprovou R$ 1,10 por ação, ou R$ 14,2 bilhões (US$ 2,9 bilhões), em dividendos referentes ao quarto trimestre, conforme comunicado na noite de quinta-feira (7).

Analistas projetavam US$ 3,7 bilhões em proventos, de acordo com média de quatro estimativas revisadas pela Bloomberg.

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As ações caíram 11% na abertura do pregão, para R$ 35,93. O Santander (SANB11) e o Bradesco (BBDC4) cortaram recomendação da companhia para neutro após o anúncio.

O real foi a moeda mais fraca, sinalizando preocupações com interferência política na Petrobras e em outras empresas de capital aberto.

A Petrobras não pagou dividendos extraordinários em 2023. A expectativa era de pelo menos US$ 3 bilhões em proventos desse tipo, de acordo com três relatórios revisados pela Bloomberg.

“Nossa política de dividendos será aperfeiçoada para contemplar investimentos maiores e a absoluta necessidade de manter a saúde financeira”, disse o CEO Jean Paul Prates em carta aos investidores.

Muitos apostavam que a Petrobras continuaria brindando investidores com dividendos para ajudar o governo, seu maior acionista, e fortalecer as finanças públicas. Em vez disso, a empresa prefere manter o dinheiro em caixa enquanto busca aumentar os gastos com exploração e fazer aquisições em energia renovável, além de petróleo e gás.

Transição para renováveis

A maior empresa de petróleo da América Latina perdeu cerca de R$ 30 bilhões em valor de mercado em um único dia na semana passada, devido a preocupações com pagamentos de dividendos.

Prates disse à Bloomberg News em uma entrevista recente que será mais cautelosa ao desembolsar grandes pagamentos porque planeja gastar mais em energia eólica, solar e biocombustíveis – segmentos de negócios que são considerados menos lucrativos do que a produção de petróleo e gás.

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Os pares da Petrobras nos Estados Unidos e na Europa continuam fazendo robustos pagamentos de dividendos.

Nos últimos 12 meses, a Exxon Mobil pagou o quarto maior retorno do índice S&P 500, enquanto a Chevron aumentou seus dividendos em 8% no último trimestre, mais do que o previsto. A Shell e a TotalEnergies continuaram recompensando os investidores com recompras de ações.

Prates disse que os retornos totais para os acionistas da Petrobras em 2023 ainda eram cerca de 20% maiores do que seus pares internacionais.

Em 2022, a estatal foi a segunda maior pagadora de dividendos entre as empresas de petróleo, excluindo a Saudi Aramco.

No ano passado, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobras estabeleceu uma política mais conservadora para os pagamentos de dividendos aos acionistas, reduzindo os desembolsos para 45% de seu fluxo de caixa livre – de 60% anteriormente.

Lula criticou a empresa por ser uma galinha dos ovos de ouro para investidores privados em vez de gastar mais em refino e transição energética. Prates espera que cerca de metade da receita da Petrobras venha de energia renovável, incluindo biocombustíveis, em uma década.

A Petrobras reportou lucro ajustado R$ 66,85 bilhões, abaixo da estimativa média de R$ 74,45 bilhões dos analistas acompanhados pela Bloomberg. O lucro líquido no trimestre foi de R$ 31,04 bilhões, abaixo do consenso.

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