Petrobras: não há prazo para licença na Foz do Amazonas, diz chefe do Ibama

Em entrevista à Bloomberg News, Rodrigo Agostinho disse que serão necessários estudos mais detalhados antes que as empresas petrolíferas possam perfurar

Sede da Petrobras no Rio de Janeiro
Por Mariana Durão
18 de Julho, 2023 | 08:55 AM

Bloomberg — O Brasil deveria ter realizado estudos mais robustos antes de conceder à Petrobras (PETR3; PETR4) os direitos de exploração de uma região ecologicamente sensível em alto-mar, que é parte fundamental do plano de negócios da produtora de petróleo, avaliou o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho.

A autoridade ambiental já bloqueou a perfuração de um poço da estatal na bacia da Foz do Amazonas, na área conhecida como Margem Equatorial brasileira, e não tem pressa em decidir sobre um recurso apresentado pela Petrobras, disse o chefe do órgão à Bloomberg News.

O Ministério de Minas e Energia pode ter que publicar estudos de impacto mais detalhados para a Margem Equatorial antes que as empresas petrolíferas possam perfurar, e foi um equívoco conceder blocos em novas fronteiras exploratórias sem essas avaliações, disse ele.

A disputa envia um sinal de que os grandes projetos do setor serão examinados “com lupa” durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

PUBLICIDADE

“O que está em discussão é toda a exploração de petróleo em uma região pouco conhecida,” disse Agostinho à Bloomberg News em uma entrevista na sede do Ibama na última sexta-feira (14). “Não é um único poço. É isso que estamos gritando em voz alta.”

A Margem Equatorial é uma área geologicamente semelhante à Guiana, onde a Exxon fez descobertas de vários bilhões de barris de petróleo, e é a oportunidade de exploração mais promissora da Petrobras.

Nos últimos anos, a estatal não fez nenhuma descoberta importante em águas profundas no sudeste do Brasil, onde produz a maior parte de seu petróleo. A produção começará a diminuir na década de 2030, a menos que a empresa coloque novos campos em operação.

PUBLICIDADE

A Petrobras afirma que não há embasamento legal para a exigência da realização do estudo conhecido como Avaliação Ambiental de Área Sedimentar, ou AAAS, como condição para emitir a licença para perfuração.

A companhia enviou uma carta ao Ibama na semana passada reiterando seu pedido, depois que o Supremo Tribunal Federal emitiu uma decisão que a empresa interpretou como favorável. Agostinho disse que o tribunal apenas distinguiu os dois instrumentos e que a decisão não impede que o Ibama exija a AAAS ou outras medidas.

A disputa em torno da Margem Equatorial criou uma divisão no governo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e os políticos dos estados do Norte esperam que a exploração traga crescimento econômico e estão do lado da Petrobras, enquanto a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se opõe ao desenvolvimento no local.

A elaboração da AAAS pode levar cerca de três anos para ser concluída, embora Agostinho avalie que a Petrobras pode ajudar com base nas informações que já reuniu.

A Petrobras destinou US$ 3 bilhões em seu plano estratégico 2023-2027 para a exploração da Margem Equatorial e estava tão confiante na aprovação da licença para furar o primeiro poço que chegou a enviar uma sonda para o local com antecedência. Agostinho, de 45 anos, não compartilha da urgência da Petrobras em colocar a nova região petrolífera em produção.

“O Ibama vai pedir tudo o que achar que tem que pedir”, disse o biólogo, ambientalista e ex-deputado. “O mundo inteiro está olhando em outra direção e nós ainda estamos sonhando com o petróleo. Mas o Ibama não decide política energética e tomará decisões técnicas.”

Veja mais em bloomberg.com

PUBLICIDADE

Leia também

Por que esta refinaria privatizada da Petrobras planeja virar companhia aberta?

Petrobras enfrenta novo embate com governo sobre custo do gás natural

Além da Petrobras: emissão de títulos em dólar cresce em LatAm e já soma US$ 50 bi