O momento da virada do mercado de crédito, segundo esta fintech unicórnio

Fernando Miranda, copresidente do Neon, que tem 26 milhões de clientes, diz que operações de crédito mais recentes apresentam resultados melhores e que inadimplência está perto do pico

Caixa em loja no Brasil
26 de Setembro, 2023 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — Uma das fintechs unicórnio do Brasil, o Neon, conhecida por sua atuação em facilitar crédito para as faixas de renda mais baixas, agora prevê uma redução gradual nos índices de inadimplência no país.

Fernando Miranda, copresidente da fintech, disse em uma entrevista à Bloomberg Línea que a taxa de inadimplência atingiu seu pico e está destinada a diminuir, impulsionada pela recente redução da taxa básica de juros em agosto.

“No momento que a taxa de juros cai, os efeitos levam um tempo, são alguns meses. Mas já temos visto que as safras novas já estão vindo melhores”, disse, acrescentando que os motivos vão desde a melhoria macroeconômica, mas também melhores modelos de garantir crédito.

“Vejo uma redução mais para o quarto trimestre, muito calcado nessa onda da taxa de juros”, afirmou em uma entrevista com a Bloomberg Línea.

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O Neon se junta a outras instituições financeiras que têm falado nos últimos meses em uma retomada do crédito após o pico da inadimplência no país.

Em agosto, durante a divulgação dos seus resultados financeiros, os grandes bancos brasileiros indicaram que o início da flexibilização monetária por parte do Banco Central tende a ampliar a oferta de financiamentos.

BTG Pactual (BPAC11), Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4) estão entre os bancos que veem as taxas de inadimplência em suas carteiras atingindo o pico.

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Operação do Neon

Recentemente, o Neon revelou que sua base de clientes cresceu para 26 milhões e sua carteira alcançou R$ 4 bilhões. Desde que assumiu a posição de copresidente em março, Fernando Miranda concentra-se no enfrentamento dos desafios cotidianos, enquanto o CEO e fundador Pedro Conrade mantém seu foco nas estratégias de longo prazo.

O Neon atribui seu crescimento a uma expansão agressiva e ao desenvolvimento de uma gama diversificada de produtos.

Nos últimos dois anos, a fintech se concentrou em oferecer mais do que cartões e contas, expandindo para produtos como crédito pessoal, seguros e empréstimos consignados. “Passamos a ter uma proposta de valor muito mais parruda e consequentemente crescemos a carteira de crédito”, disse Miranda.

“Consequentemente, acabamos crescendo a receita. De um ano para cá, a receita cresceu mais de 82%”.

Um dos destaques é a estratégia de crédito consignado privado do Neon. A empresa adquiriu empresas para fortalecer essa oferta, como uma oportunidade para atender a uma parte da população brasileira que é composta por assalariados do setor privado. Miranda destacou que o Neon já se posicionou como a maior fintech no segmento, depois dos principais bancos.

Um diferencial crucial nesse cenário é que, ao oferecer empréstimos consignados privados, o Neon necessita de aprovação por parte da empresa empregadora do cliente, o que, consequentemente, é uma barreira. No entanto, esses empréstimos oferecem margens de lucro mais atrativas, mesmo com taxas de juros mais baixas.

“Expandimos nossa carteira de crédito para R$ 4 bilhões, compreendendo quatro linhas principais de produtos: cartão de crédito, a fatia principal, e em seguida, empréstimos consignados”, observou Miranda.

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A fintech, que se tornou unicórnio em 2022, depois de captar cerca de R$ 1,6 bilhão (US$ 300 milhões) em um investimento Série D liderado pelo banco europeu BBVA, demitiu o equivalente a 9% de sua equipe, cerca de 210 pessoas, em fevereiro.

A startup disse que fez os ajustes necessários no seu quadro de funcionários como “forma de fazer frente aos desafios macroeconômicos deste ano”.

Em janeiro, o Neon fez uma captação de R$ 331 milhões por meio da segunda emissão de seu Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC), que adquire direitos de recebíveis originados por cartões de crédito.

Financiamento com CDB

Quando se trata de financiamento, o Neon revelou que agora emite seus próprios Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e tem se expandido nessa área. Essa mudança não apenas fortalece sua posição financeira, mas também permite que a empresa ofereça produtos de investimento a seus clientes.

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“Temos o cartão de crédito com garantia do CDB, que está próximo de atingir 1 milhão de clientes”, disse. A fintech tem 3 milhões de clientes investindo no CDB.

“Isso é um valor muito bacana, já que muitos desses clientes não tem acesso ao cartão de crédito porque tem risco maior, e com o CDB, o dinheiro dele rende e ele passa a ter. Lançamos há oito meses, ainda é pequeno, mas o crescimento é muito grande”, disse.

Outro novo produto é o empréstimo pessoal, com uma flexibilidade de poder fazer elasticidade de preço de limite e taxas de prazo. “Vai ser um dos principais direcionadores de rentabilidade”, disse.

Buscando rentabilidade

A meta de atingir a lucratividade é uma prioridade o Neon, e, segundo Miranda, a fintech teve uma redução constante dos prejuízos trimestre após trimestre, ao mesmo tempo em que mantêm um crescimento de receita em torno de 80%.

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Ele destacou que o Neon possui custos operacionais mais baixos do que a média do mercado, principalmente devido ao foco nas classes C e D, que, embora gerem receitas individuais mais modestas, oferecem oportunidades de ganho na escala.

“Parte do nosso propósito é como conceder crédito para as pessoas corretas, como trazer inovação para poder muitas vezes dar um crédito a uma pessoa que não conseguiria?”, disse, acrescentando que o Neon continua crescendo no crédito de uma maneira “super cautelosa”.

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Parte grande dos investimentos da fintech, segundo Miranda, é em modelagem estatística. “Acabamos de lançar um motor de políticas de crédito, muito calcado em machine learning, que consegue atender a um tipo de cliente para ofertar.”

A mudança da taxa de intercâmbio dos cartões pré-pago e débito, que entrou em vigor em abril, “quase não afetou” a receita, segundo Miranda, já que a maior parte dos ingressos do Neon vem do cartão de crédito.

A fintech disse ter um plano de execução muito claro para atingir a lucratividade, “uma das principais prioridades da empresa”, pontuou, salientando que “é difícil cravar uma data mas não está no longo prazo, é algo que a gente já está desempenhando”.

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Estrutura

O Neon operava como instituição de pagamento e, no ano passado passou a ser também uma instituição financeira por conta da aquisição de uma financeira de consignado. Desde então, emite o próprio CDB, o que faz com que a empresa tenha um custo de funding menor.

Perguntado se a empresa está olhando novas aquisições, Miranda disse que o Neon considera oportunidades, mas o foco principal está na evolução orgânica da empresa.

“Estamos falando com o mercado. É um momento bom [para aquisições], tem muita gente, às vezes com dificuldade, de capital, de liquidez. Somos mais oportunistas do que ter isso como uma meta ou uma estratégia”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups