Na nova Mobly com Tok&Stok, margens melhoram e empresa avança sem família Dubrule

Fundadores Régis e Ghislaine Dubrule não aderem ao acordo para se tornarem acionistas da Mobly; em entrevista à Bloomberg Línea, CEO Victor Noda fala do primeiro mês de operação integrada

A Mobly se estabelece como o maior player do mercado de móveis e decoração do país com a incorporação da Tok&Stok (Foto: Divulgação)
09 de Dezembro, 2024 | 05:20 AM

Bloomberg Línea — As últimas semanas foram de trabalho intenso para a liderança da Mobly, novo maior player do mercado de móveis e produtos para decoração do país. A incorporação da Tok&Stok depois de uma das mais extensas “novelas” de negociações para um M&A completa um mês com resultados preliminares que reforçam a evolução conjunta das marcas, segundo contou o CEO, Victor Noda, à Bloomberg Línea.

“O que consideramos mais importante foi a melhora da rentabilidade das duas marcas em novembro, sem que as sinergias esperadas tenham sido ainda entregues, o que indica que estamos no caminho certo”, disse o cofundador e executivo à frente da Mobly.

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“É um trabalho que cada uma das duas empresas já vinha realizando, mas houve também efeito de pequenos ajustes que fizemos a partir de discussões conjuntas em ações de marketing e para atacar gargalos que foram identificados, como nas entregas da Tok&Stok, com ajuda da Mobly Log”, disse.

A margem de contribuição que equivale na prática à margem bruta cresceu 12% em relação ao mesmo mês de 2023 na Tok&Stok; na Mobly, o aumento do chamado PC3, que é a margem descontados todos os custos variáveis, foi de 91% na comparação anual, para um nível recorde.

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“Na Tok&Stok, além do crescimento, há um foco em trabalhar melhor a questão de promoções e de negociações com fornecedores, para que isso se traduza em geração de resultado.”

Na Mobly, segundo o executivo, o avanço se deu em cima de um processo que vem desde o início de ano de busca de aumento de eficiência da operação, com recuperação do “braço” de logística da empresa, e mudanças nas estratégias de marketing, entre outras ações.

Antes da integração, a Tok&Stok operava com margem bruta na casa de 55%, e a Mobly, de 45%, o que fundamenta a expectativa de aumento da métrica da nova Mobly.

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Noda e os outros cofundadores da Mobly, Marcelo Marques, CFO e diretor de RI (Relações com Investidores), e Mario Fernandes, COO e diretor de Logística, se mudaram junto com outros executivos para o complexo empresarial Spark, na zona oeste da cidade de São Paulo, que abriga a sede da Tok&Stok.

A nova gestão unificada avança, como previsto, sem os fundadores da Tok&Stok, os franceses Régis e Ghislaine Dubrule, que tampouco quiseram aderir ao acordo que previa a possibilidade de que transformassem a participação de 38,9% na rede em uma fatia diluída como minoritários da “nova Mobly”.

Outros acionistas minoritários da Mobly não quiseram aderir ao aumento de capital realizado para que a empresa assumisse o controle da Tok&Stok - e, portanto, acabaram diluídos.

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Pelo acordo anunciado em agosto, a nova Mobly detém 61,1% do capital da Tok&Stok - fatia que pertencia a fundos geridos pela SPX Capital, originalmente do Carlyle.

Há ainda um prazo para que Régis e Ghislaine Dubrule aceitem transformar a dívida que possuem a receber da Tok&Stok em debêntures conversíveis em ações da “nova Mobly”, que nasceu com estimado R$ 1,6 bilhão em receitas anuais e presença tanto em canais digitais como em lojas físicas e abrangência nacional.

A “nova Mobly” tem como principal acionista o grupo alemão home24, listado na Bolsa de Frankfurt, que anteriormente já exercia o papel de controlador da Mobly.

Os percentuais de margem em novembro foram informados em fato relevante ao mercado na última semana.

Outro dado revelado da empresa combinada foi um GMV (volume bruto de mercadorias transacionadas) acima de R$ 230 milhões em novembro, o que o CEO da Mobly descreveu como em linha com o esperado, mas de forma positiva. Esse volume se deu no mês de Black Friday, o que significa que não deve ser anualizado.

O número serviria como um indicativo da ordem de grandeza da companhia combinada.

Os dados do quarto trimestre, a serem divulgados a partir de fevereiro de 2025, devem trazer o consolidado das duas operações pro-forma, pois a integração de fato começou em 11 de novembro.

Trata-se de um resultado em que métricas como a geração de caixa operacional estarão sob o escrutínio maior de investidores e analistas e que terá o impacto de custos não recorrentes como o pagamento de fees de bancos e escritórios envolvidos no M&A entre as duas empresas, além de rescisões.

No anúncio do M&A, os ganhos com sinergias foram estimados de R$ 80 milhões a R$ 135 milhões ao ano, em um período de cinco anos, segundo cálculos da Bain & Co. Esses ganhos serão decorrentes de processos de verticalização, economia de transportes, eficiências logísticas e tributárias, entre outros.

O CEO da Mobly contou que as três semanas iniciais de integração em novembro serviram para entender processos e sistemas da Tok&Stok, juntar times e definir as áreas da companhia combinada, em que “as duas marcas continuam a existir de maneira separada para os clientes, com foco em públicos distintos, mas com uma gestão interna unificada”.

“Buscamos também identificar quais são as oportunidades de ganho rápido, como contratos com fornecedores de serviços que são dispensáveis ou podem ser unificados”, afirmou.

Outra frente que pode trazer reflexos mais imediatos diz respeito a transferir a fabricação de certos da produtos da Tok&Stok para a Mobly, o que pode se traduzir em margens melhores e redução de preços dos mesmos, o que poderia ampliar as vendas.

Há estudos também para mudanças do momento de montagem dos móveis entregues nas casas dos clientes, para levar uma parcela de móveis e artigos de decoração da Tok&Stok para marketplaces terceiros e para ampliar o catálogo da rede com produtos white label fabricados pela Mobly.

A avaliação é que os resultados iniciais mais evidentes da integração comecem a aparecer de fato no primeiro trimestre de 2025 - e isso pode gerar reflexos na liquidez e no preço das ações.

Por enquanto, investidores aguardam a melhoria mais efetiva dos resultados e das entregas das sinergias estimadas. Desde que a incorporação foi concretizada, as ações da Mobly (MBLY3) acumulam queda de 9,23% - quase em linha com a desvalorização neste ano, na casa de 10%. O Ibovespa cai 5%.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.